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O Globo Online (RJ) ( Economia ) - RJ - Brasil - 20-06-2015 - 10:53 -   Notícia original Link para notícia
Entre a inflação e o desemprego

Alta do IPCA-15, retração econômica e corte de vagas dificultam decisão do BC sobre juros


Indicadores econômicos divulgados ontem surpreenderam negativamente e deixaram clara a situação limite em que se encontra a economia do país: a inflação aumentou, a atividade econômica encolheu, e as empresas demitiram mais - tudo isso numa intensidade maior do que previam governo e analistas. O cenário mostra bem quão complicada é a tarefa do Banco Central (BC). Precisa aumentar os juros e segurar preços que não param de subir, mas não pode ignorar a desaceleração da atividade econômica, que já chegou ao ponto de engolir milhares de empregos. Assim, crescem as dúvidas sobre os rumos dos juros nos próximos meses.


Há quem acredite que a taxa básica, a Selic, hoje em 13,75% ao ano, será elevada a mais de 14,5%. Um dos fatores que mais preocupa os economistas é a combinação entre inflação alta e ritmo fraco da economia. Segundo o IBGE, o IPCA-15 de junho - espécie de prévia da inflação oficial, medida pelo IPCA - chegou a quase 1%. Ao mesmo tempo, o IBC-Br, conhecido como o "PIB do BC", caiu 0,84% em abril, sinal de que o segundo trimestre deve ser de PIB fraco. Para completar o cenário, o Ministério do Trabalho informou que o Brasil fechou 115.599 vagas formais em maio.


- O dilema é estarmos nesse momento de recessão e ao mesmo tempo o BC ter de subir juros. Mas, se não elevar, o custo pode ser maior no futuro - avalia Marcel Balassiano, economista da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), que espera que a Selic chegue a 14,5% em setembro.


PARA ECONOMISTA, 'MAL MAIOR É O DESEMPREGO'


José Márcio Camargo, economista da Opus Gestão de Recursos e professor da PUC-Rio, acredita que o Copom possa ir além. Já o banco ABC Brasil, em relatório, prevê um cenário menos apertado, com a Selic subindo até 14,25% em julho e parando por aí.


- Nossa previsão é de alta de até 14,5%, mas se a inflação continuar acelerando, o BC não vai conseguir parar em setembro - afirma Camargo.


Júlio Miragaya, vice-presidente do Conselho Federal de Economia (Cofecon), acredita que subir juros não é a solução ideal para combater a inflação, mas não indica uma alternativa para conter os preços. Para ele, o que mais preocupa no cenário atual é a piora no mercado de trabalho.


- A inflação é um mal menor. A expectativa é que a taxa do segundo semestre anualizada fique em 5,4% , próxima da meta. O mal maior vai ser o desemprego - avalia Miragaya.


Desembolsos do BNDES recuam 20% com retração na economia


O BNDES informou ontem que os desembolsos da instituição despencaram 20% entre janeiro e maio deste ano, frente ao mesmo período de 2014, e ficaram em R$ 54,8 bilhões. As consultas, primeiro passo que uma empresa dá quando quer tomar crédito no banco estatal, caíram 39%, para R$ 53,5 bilhões. As consultas são um termômetro importante da disposição dos empresários para realizar investimentos e um indicativo da atividade da economia brasileira.


- É necessário ter mais clareza sobre perspectivas futuras para que o ciclo (de investimentos dos empresários) seja retomado - analisou o superintendente da área de Planejamento do BNDES, Cláudio Leal.


As aprovações (quando o empréstimo é aprovado, mas o dinheiro ainda não foi liberado pelo BNDES) recuaram 47%, para R$ 34,7 bilhões. O setor de infraestrutura respondeu por 37,2% do total desembolsado, com R$ 20,4 bilhões, seguido pela indústria, com R$ 16,3 bilhões e participação de 30%.


Na infraestrutura, o banco destacou alta de 70% nas liberações para energia elétrica nos cinco primeiros meses do ano e de 74% nos desembolsos para o grupo que engloba investimentos em mobilidade urbana.


Dois movimentos vêm afetando os números, segundo Leal:


- Desde o fim do ano passado houve a revisão das políticas operacionais, um ajustamento à nova realidade de funding (fonte de recursos) do banco, uma vez que foi definido que não teria continuidade nos aportes do Tesouro. E, em paralelo, há a situação da economia, que está começando a se traduzir (nos números).


No caso das micro, pequenas e médias empresas, o BNDES desembolsou R$ 16 bilhões até maio, 29,2% das liberações totais. O resultado foi puxado pelo Cartão BNDES, cujas liberações aumentaram 14,9% ante o mesmo período de 2014.


Governo deve sinalizar em breve meta fiscal menor


Técnicos da equipe econômica não veem risco de perda de grau de investimento


Quando anunciar o resultado das contas públicas de maio, nos próximos dias, o secretário do Tesouro Nacional, Marcelo Saintive, já deve dar sinais de que não será possível para o governo cumprir a meta de superávit fiscal primário (economia para o pagamento de juros da dívida pública) prometida para 2015, de R$ 66,3 bilhões, ou 1,13% do Produto Interno Bruto (PIB, soma de bens e serviços produzidos no país). Segundo técnicos, o objetivo será dar uma satisfação ao mercado sobre o desempenho fiscal do ano, já que a receita está caindo fortemente. A equipe econômica aposta, no entanto, que a redução da meta não deve resultar na perda do grau de investimento do Brasil junto às agências de classificação de risco.


Segundo uma fonte que acompanha de perto o diálogo entre a equipe econômica e as três principais agências de risco, essas instituições já sabiam que seria muito difícil para o governo atingir a meta. O importante para as agências, acrescenta, é a sinalização dada pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, de compromisso com o equilíbrio fiscal.


Os técnicos admitem que uma das agências, a Moody's, deve reduzir a nota brasileira em sua próxima revisão, mas sem tirar o grau de investimento.


- A única agência que poderia fazer o Brasil perder o grau de investimento hoje seria a Standard & Poor's, mas ela não tem dado qualquer sinalização de redução da nota em 2015 - disse uma fonte. - Não haverá nenhuma surpresa esse ano.


O técnico lembrou que, mesmo com a redução do superávit primário, o país ainda tem reservas elevadas e está demonstrando comprometimento com o ajuste fiscal. Para 2016, o movimento das agências de risco vai depender do resultado fiscal de 2015, do comportamento da economia e da cena política.


- Caso o cenário se deteriore muito, pode vir um outlook negativo - disse o técnico.


Levy vê a necessidade de ir preparando o mercado para uma redução formal da meta no futuro. Nas contas do governo, o superávit fiscal do ano não chegará nem a 0,9% do PIB. O discurso de Saintive será de que o governo está fazendo esforços para melhorar as contas sem recorrer às manobras do passado.


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