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Valor Online ( Empresa ) - SP - Brasil - 18-06-2015 - 09:53 -   Notícia original Link para notícia
Recessão do mercado de carros chega ao interior

Marcio Nardi, vendedor de uma concessionária da Volkswagen em Chapecó, no oeste de Santa Catarina, está preocupado com os últimos resultados de sua loja. As vendas "nunca" ficavam abaixo de doze automóveis por mês, mas, agora, com muito esforço o vendedor consegue fazer quatro unidades mensais.


Desde janeiro, dois vendedores e um mecânico já foram demitidos da concessionária, que, na tentativa de melhorar os resultados, tem participado de feirões promocionais e oferecido descontos aos consumidores. Mesmo assim, Nardi reclama que o movimento na loja tem sido fraco. Ele culpa os altos juros, o rigor dos bancos nas concessões de crédito, o aumento do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e, até mesmo, a "mídia", dada a profusão de noticias negativas sobre a economia que afetam o humor de seus clientes.



Se a conjuntura macroeconômica é difícil, a localização da revenda de Nardi tampouco ajuda. Em Chapecó, o consumo de carros de passeio e utilitários leves como picapes está caindo 38,4% neste ano, pior do que a já expressiva média de 20% do mercado nacional. A cidade catarinense retrata bem uma crise que, entre tantos retrocessos, interrompeu a expansão do consumo de veículos no interior do país, derrubando um dos pilares do ciclo de bonança que colocou o Brasil entre os quatro maiores mercados automotivos do mundo - em 2015, já caiu para a sétima posição.


Segundo estudo feito pela Escopo, consultoria que mapeia para as montadoras as oportunidades de negócio de norte a sul do país, a demanda por automóveis recua neste ano em 80% das cidades brasileiras. Apenas 20% conseguem, ao menos por enquanto, escapar da crise. Em 2012, último ano de crescimento do setor, os sinais estavam invertidos: 80% dos municípios cresciam e 20% perdiam vendas.


Das grandes cidades, a recessão se irradiou para fora das capitais e atinge hoje todas as regiões do país. No Nordeste, outrora o Eldorado que prometia taxas de crescimento de dois dígitos, os emplacamentos estão 15% abaixo de 2014, conforme mostram os números de janeiro a maio. No Norte, que mesmo com o mercado nacional em baixa vinha conseguindo manter a estabilidade das vendas nos últimos dois anos, o recuo é de 6% em igual período (veja infográfico acima).


Acre, com alta de 23,2%, e Roraima (2,5%) são os únicos Estados onde o comércio de automóveis está em alta, mas juntos eles representam apenas 0,5% do consumo nacional.


"Já esperávamos que a crise avançaria dos grandes centros urbanos para o interior. Mesmo com o recorde de produção na safra, o agronegócio tem sentido a desvalorização das commodities [agrícolas]. Por um tempo, o desempenho do agronegócio ajudou a segurar a demanda por veículos em grande parte do interior, minimizando a queda da indústria automobilística. Agora, nem isso acontece mais", avalia Marcos Callegari, diretor de projetos da Escopo.


Em Santa Rita do Passa Quatro, no interior paulista, apenas 15 veículos foram emplacados neste ano


Segundo o consultor, a tendência é que a derrocada do consumo de carros se espalhe ainda mais e atinja mais 90% das cidades brasileiras até o fim do ano. Ele conta que constatou em seu levantamento uma situação que classifica como "Velho Oeste" em alguns municípios. Entre eles, cita Santa Rita do Passa Quatro, do interior paulista, onde apenas 15 veículos foram emplacados neste ano. "Na última década, as vendas em Santa Rita ficaram numa faixa de 300 a 400 veículos por ano", diz.


No embalo de sucessivos recordes nas safras de grãos, crescimento econômico, melhor distribuição de renda e expansão do crédito - inserindo um grande contingente de consumidores nesse mercado -, a motorização chegou a novas fronteiras no país. Isso ajudou não apenas a sustentar nove anos consecutivos de crescimento das vendas de veículos no Brasil, como também permitiu equilibrar o mercado no momento em que os grandes centros de consumo - como São Paulo e Rio de Janeiro - passaram a puxar para baixo os resultados da indústria.


Em doze anos até 2012, quando o setor praticamente triplicou de tamanho, a concentração das vendas de automóveis em municípios com, no máximo, 200 mil habitantes subiu de 28,2% para 34%, ao passo que a parcela corresponde a cidades com mais de 1 milhão de moradores recuou de 45,6% para 37,3%.


Agora, as cidades menores - como Campo Verde, no Mato Grosso, onde o consumo de carros cai 22% - passam a acompanhar a constrição das vendas que já estava em curso nos grandes centros urbanos. O resultado da combinação é o pior resultado da indústria automobilística, tanto em vendas como em produção, dos últimos oito anos.


Só na cidade de São Paulo, maior mercado do país, as vendas caem 18,7% neste ano. De janeiro a maio, os paulistanos compraram 22 mil carros a menos do que igual período de 2014. Em Belo Horizonte (MG), segundo mercado, e no Rio de Janeiro (RJ), terceiro, o recuo em 2015 é de 14,4% e 19%, respectivamente. Já em Brasília, esse comércio mostrou redução de 18,5% até maio.


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