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Diário do Comércio online - BH (MG) ( Negócios ) - MG - Brasil - 17-06-2015 - 10:54 -   Notícia original Link para notícia
Editoras sentem efeitos da crise com queda de 5,16% nas vendas

Procura por e-books continua em alta



Em 2014, ritmo dos lançamentos diminuiu, com queda de 8,5% no total de títulos novos/Arquivo DC


O mercado editorial brasileiro não suportou os efeitos da desaceleração da economia em 2014 e fechou o ano com resultados pouco animadores, principalmente se avaliados diante de um 2015 ainda mais complicado. Os resultados da pesquisa "Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro" 2015, que aferiu os dados do mercado referentes ao ano de 2014, realizada anualmente pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas da Universidade de São Paulo (Fipe/USP), sob encomenda do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel) e Câmara Brasileira do Livro (CBL), são preocupantes.



Em 2014, os editores diminuíram o ritmo dos lançamentos, com uma redução de 8,5% no total de títulos novos. A tiragem média, no entanto, cresceu 9,3%, o que garantiu uma produção idêntica a 2013. O crescimento nominal do setor editorial brasileiro em 2014 foi de 0,92%, resultado de um volume de vendas que gerou faturamento total de R$ 5,4 bilhões. Esse resultado significa uma queda real (descontada a inflação) de 5,16%, considerada a variação de 6,41% do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) no ano passado. O resultado foi muito impactado pelas vendas ao governo, que tiveram variação negativa de 16% na comparação anual.

Considerando somente as vendas ao mercado, o preço médio corrente dos livros cresceu 8,22%, um aumento real de 1,7% em 2014. No acumulado dos últimos 10 anos, o preço médio dos livros diminuiu aproximadamente 40%.
Vedete - As vendas de e-books continuam em ritmo de alta. Partindo de um acervo de cerca de 35 mil títulos, as editoras respondentes da amostra registraram com essas vendas, em 2014, faturamento de quase R$ 17 milhões (contra R$ 13 milhões em 2013). Mas isso significa apenas 0,3% do faturamento apurado com as vendas totais de livros impressos em 2014 (cerca de R$ 5,5 bilhões).

Embora não existam dados regionais, os profissionais de Minas Gerais acreditam que o Estado não fuja da média nacional. A coordenadora editorial da Fino Traço, Betânia Figueiredo, aponta dois fatores principais para o resultado. O primeiro, de ordem estrutural, a ausência de uma política pública efetiva de formação de leitores e incentivo à leitura. O segundo, de ordem econômica, a paralisação das vendas feitas para os diferentes níveis de governo, principalmente o federal.

"Nesse momento, a economia reflete nas duas pontas. No varejo, o consumidor que compra por prazer diminuiu o ritmo. As livrarias estão passando por dificuldades e, claro, as editoras também. Não somos um país de leitores e não temos uma política que incentive a leitura. Quase 90% dos não-didáticos vendidos estão relacionados com a obrigatoriedade escolar. Não é o leitor que escolhe e, desse jeito, é difícil criar hábito. Mas o maior problema que impacta diretamente o resultado do ano é a paralisação das compras por parte do governo. Tem editais federais parados há mais de um ano. O governo estadual há 10 anos não faz uma proposta pública de compra. A nota positiva fica para a Prefeitura de Belo Horizonte, que tem uma boa política para a leitura, mas isso acontece em poucas prefeituras", explica Betânia Figueiredo.

MPEs - Para a empresária, as pequenas e médias editoras passam por uma dificuldade ainda maior, já que enfrentam a concorrência dos grandes grupos editoriais, inclusive os internacionais. Com volume para forçar a negociação, eles conseguem jogar os custos para baixo e oferecer preços mais convidativos para o consumidor final.

"As pequenas e médias empresas são responsáveis pela diversificação de títulos no Brasil e por criar emprego e renda. Temos cerca de 10 grupos multinacionais que ditam o que é lido no mundo, e é muito difícil concorrer com eles sem nenhum tipo de proteção. Então, mais do que fechar uma ou muitas editoras, estamos perdendo também culturalmente ao abrirmos mão da diversidade", destaca a coordenadora editorial da Fino Traço.

Nem mesmo as editoras especializadas deixaram de sentir o baque. A Editora Forum, voltada para publicações jurídicas, viu a venda de livros impressos cair, em 2014, 20% em relação ao ano anterior. A expectativa é de que em 2015 a queda seja um pouco menor: 15%. Segundo a vice-presidente da Editora, Maria Amélia Corrêa de Mello, a salvação é a venda de livros eletrônicos, que continua crescendo, ainda que com menor ritmo.

"São os periódicos e a área digital que fazem a editora crescer. Hoje, metade do que vendemos está nesse suporte. Como nosso público é técnico, somos menos influenciados pelas compras do governo, que normalmente recorre às distribuidoras. O nosso leitor dificilmente faz uma compra por oportunidade ou de impulso. Ele chega à livraria sabendo o que quer, e as condições econômicas têm grande peso na decisão de compra", afirma Maria Amélia Corrêa de Mello.


Solução - A presidente da Câmara Mineira do Livro (CML), Rosana Mont"Alverne, só acredita em uma solução pactuada pela sociedade brasileira e que passe por uma mudança nas leis nos âmbitos federal, estadual e municipal. Entre os principais pontos ela destaca o estabelecimento de políticas públicas para o setor livreiro e editorial no Estado de Minas Gerais, de forma a complementar as ações já existentes no âmbito do governo federal.

"A definição dessas políticas deverá conter instrumentos normativos que assegurem recursos anuais para aquisição de livros, independentemente dos humores da economia e das sazonalidades político-eleitorais. Essas providências deverão privilegiar a formação de leitores, a capacitação de professores, bibliotecários e mediadores de leitura, além da criação de bibliotecas públicas municipais, escolares, comunitárias e dentro dos presídios e, claro, aquisição de acervo para as já existentes", avalia Rosana Mont"Alverne.

Ela também reivindica uma regulamentação legal específica para livrarias, editoras, distribuidoras, gráficas e outros setores do mercado livreiro e editorial, visando alterar tributação, custos de manutenção e outros, como forma de diminuir o custo final do livro. "Acredito, apesar dos pesares, que a tendência de queda do mercado livreiro e editorial se reverterá. bom lembrar que no Brasil cerca de 60% da população não leem nenhum livro por ano. Uma cultura leitora se faz pouco a pouco e sempre, com ações sistemáticas e perseverantes. Para mim, não há dúvida de que temos tudo por fazer no Brasil quando se trata de livro, leitor e leitura. Vale, mais do que nunca, a velha máxima Àcrise é sinônimo de oportunidade"", conclama a presidente da CML.


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