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O Globo Online (RJ) ( Economia ) - RJ - Brasil - 17-06-2015 - 11:03 -   Notícia original Link para notícia
Produto igual, até o triplo do preço

Com a alta da inflação, diferença no valor cobrado chega a 245% em lojas do mesmo bairro


Com a inflação acima dos 8% nos últimos 12 meses, o hábito de pesquisar preços faz muita diferença no bolso do consumidor. Levantamento feito pelo GLOBO em 19 farmácias e 26 supermercados constatou disparidade de até 245% nos preços de drogarias de um mesmo bairro. No caso dos supermercados, o mesmo produto custava até o dobro em diferentes lojas. A inflação que vem consumindo a renda dos brasileiros e pode passar dos 9% este ano se reflete de forma desigual no varejo carioca. Levantamento feito pelo GLOBO na semana passada em 19 farmácias e 26 supermercados das principais regiões da cidade mostra que o mesmo medicamento chega a custar numa farmácia o triplo do cobrado em outra do mesmo bairro, enquanto o mesmo alimento foi encontrado num supermercado pelo dobro do preço do concorrente.


FABIO ROSSIRonda. Raquel Péricles e Cristina Miguez comparam preços em diversos supermercados antes de comprar


O exemplo mais extremo é o do genérico Omeprazol da Medley, usado para tratar gastrite e úlcera. Na Tijuca, a caixa com 28 cápsulas de 20mg era vendida por R$ 23,60 na Venâncio da Rua General Roca. A 800 metros dali, na Droga Raia da Avenida Conde de Bonfim, o mesmo medicamento saía por nada menos que R$ 81,46 - ou seja, R$ 57,86, ou 245% mais caro. A mesma disparidade foi observada entre as lojas das duas redes na Barra da Tijuca.


Na hora de abastecer a despensa, quem não pesquisa também pode acabar pagando uma diferença muito maior do que a gerada pela inflação. Nos supermercados pesquisados, alguns produtos chegavam a dobrar de preço de uma loja para outra. Caso do requeijão Vigor, vendido por R$ 2,99 no Guanabara da Barra da Tijuca, e por R$ 5,89 no Carrefour do mesmo bairro - diferença de 96,99%.


DISCREPÂNCIA ATÉ ENTRE LOJAS DA MESMA REDE


A discrepância é ainda maior entre regiões diferentes. O sabão líquido Omo de 1 litro custava R$ 5,39 no supermercado Campeão de Vila Isabel. No Prezunic de Botafogo, o mesmo produto saía por R$ 11,98 ou 122% mais caro. Mas, mesmo comparado com concorrentes do mesmo bairro, a diferença ainda era grande, como era o caso do Mundial, também de Botafogo, que vendia o sabão por R$ 6,50. Até entre lojas da mesma rede, as variações de preços são significativas: no Extra do Largo do Machado, o litro de Omo custava R$ 10,90, ou seja, 55% mais caro que na filial da Lapa da mesma rede, onde o produto era vendido por R$ 6,99.


Segundo especialistas, muitos fatores podem influenciar a discrepância dos preços, como público- alvo, concorrência e, principalmente, a capacidade de negociação de cada empresa. Exatamente por isso, em tempos de inflação alta e vendas baixas, essas diferenças se acentuam. No início do mês, reportagem do GLOBO mostrou que os fornecedores têm tentado repassar reajustes de até 15% ao varejo - refletindo o aumento de custos como energia e transporte. Companhias com mais poder de fogo tendem a sacrificar parte da margem de lucro ou aumentar o volume de encomendas para evitar perder clientes, uma estratégia ousada para redes menores.


- É comum o próprio varejista sacrificar suas margens devido a uma necessidade qualquer. Se em meados do mês ele quer vender, pode fazer uma loucura e vender a um preço menor que o concorrente. Isso pode ocorrer quando se fala em gêneros de primeira necessidade. São produtos que chamam o consumidor para a loja - explica o consultor de varejo Marco Quintarelli.


Samy Dana, professor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas ( EAESP/ FGV), acrescenta que, no caso das farmácias, é comum que as margens de lucro sejam mais amplas, o que permite uma flutuação maior dos preços.


- No caso de remédio, é fixado um preço máximo. E aí, as farmácias, quando querem, dão desconto. Não acho que esses 245% ( variação máxima do preço do Omeprazol) sejam uma diferença de preço de custo - afirma Dana.


Para quem tem problemas de saúde e gasta muito com medicamentos, o único remédio é pesquisar muito para amenizar a dor no bolso. Caso da aposentada Ângela Castro, de 66 anos, moradora de Copacabana.


- Procuro bastante. O Protos, para os ossos, chega a custar R$ 140. Depois de pesquisar, consegui por R$ 112. É uma economia que faz diferença. Gasto uns R$ 600 por mês com remédios- diz.


Em uma só noite, a cuidadora de idosos Raquel Péricles, e a amiga Cristina Miguez, também cuidadora, percorreram três supermercados em Copacabana. Acham que valeu a pena.


- O que mais pesa no bolso são os legumes. O tomate está quase R$ 10. Querem nos matar? - reclama Raquel, explicando sua estratégia. - Comparo e pechincho muito. Outro dia, o queijo estava na promoção aqui ( no Intercontinental de Copacabana) e corri para pegar. As coisas aparecem de uma hora para outra - ensina.


Já a psicóloga Luciana Vanzan, que fazia compras no Zona Sul de Ipanema, opta pela comodidade.


- Não dá tempo de pesquisar. Geralmente compro perto de casa, procurando promoções.


Pechinchar e ir com frequência às lojas, receita para driblar a inflação


Especialistas dizem que é preciso conhecer o próprio perfil de consumo


Enquanto varejistas disputam a atenção do cliente garantindo o menor preço, encontrar as ofertas mais vantajosas é bem mais trabalhoso. Segundo especialistas, o consumidor precisa ter disposição para pesquisar, ficar atento a promoções semanais e guardar na memória os preços dos itens que mais consome - uma arma valiosa para não pagar mais caro. E o mais importante: a mesma loja pode cobrar menos por um outro e mais caro por outro.



Nos supermercados e drogarias pesquisados pelo GLOBO, nenhuma rede apresentou os menores preços para todos os 15 itens pesquisados. O Extra, por exemplo, vendia o Bombril mais barato em sua filial na Barra da Tijuca, por R$ 1,43. No Maracanã, a loja da mesma bandeira tinha a margarina Qualy mais cara da Zona Norte: R$ 4,49, preço mais salgado que o cobrado no Pão de Açúcar da Tijuca, do mesmo conglomerado, o GPA.


- Há diferenças de uma rede de supermercados para outra, e aquele mercado que diz cobrar mais barato não necessariamente vai ser o mais barato para o perfil do consumo daquela família. Uma família que tenha um membro que cozinhe, vai achar preços melhores em uma rede popular, enquanto aquela cujos membros costumam comer coisas congeladas, industrializadas, vai ter melhores ofertas em redes mais premium - explica Gilberto Braga, professor do Ibmec/ RJ.


Para o professor da Fundação Getulio Vargas ( FGV) Luiz Carlos Ewald, conhecido como o Sr. Dinheiro, do "Fantástico", o importante é ter "intimidade" com os preços. Para explicar, o economista relata uma experiência pessoal:


- Outro dia fui comprar uma vassoura que custaria R$ 28. Achei estranho e, depois, encontrei uma só por R$ 12. Quando não se sabe bem o valor, é preciso pesquisar ainda mais. Toda vez que a gente compra produtos com os quais a gente não tem intimidade, pode ser passado pra trás.


Mauro Calil, especialista em investimentos do banco Ourinvest, acredita que o consumidor deveria ir com mais frequência ao supermercado, porque os preços têm oscilado bastante de uma semana para a outra.


- Indo mais vezes é possível notar as promoções - explica. - Digamos que o quilo da carne que você compra custa R$ 20, e que você costuma comprar para a necessidade semanal. Se ela entra em promoção e sai por R$ 15, o que você faz? Compra quatro ou cinco quilos, estoca uma quantidade que dê para mais tempo sem estragar. Com isso, você economiza R$ 20 ou R$ 25.


Quem não tem tempo para rodar a cidade em busca de ofertas pode recorrer à pechincha na hora da compra. Redes maiores de supermercado, como Carrefour e Extra, mantêm a prática de cobrir preços da concorrência. Para isso, basta levar o encarte de outro supermercado e pedir o desconto no caixa.


Em relação às farmácias, a dica é negociar o máximo possível com o próprio balcão. Nas drogarias visitadas pela reportagem na semana passada, era comum os atendentes perguntarem se os repórteres queriam preços com ou sem desconto. Além disso, muitos laboratórios mantêm programas de fidelidade, que garantem abatimento em alguns medicamentos.


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