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Valor Online ( Empresa ) - SP - Brasil - 11-06-2015 - 09:53 -   Notícia original Link para notícia
Indicadores de endividamento vão piorar neste ano


Ricardo Carvalho, da Fitch: "Há uma piora gradual e constante de 2010 a 2014"


"Quando olharmos para 2015, teremos saudade de 2014", diz o diretor de empresas da Fitch Ratings, Ricardo Carvalho. Segundo ele, a deterioração do ambiente de negócios nacional ainda não está plenamente retratada nos balanços do primeiro trimestre, e os indicadores devem sofrer uma piora acentuada nos resultados de junho e setembro.


No ano passado, empresas de todos os perfis de risco de crédito, segundo a classificação da Fitch, sofreram degradação nos indicadores de cobertura de juros, alavancagem e fluxo de caixa. O ano de 2015 promete ser ainda mais desfavorável, diante do avanço das despesas financeiras com a alta dos juros e da redução de fluxo de caixa, devido à queda de demanda.


"Existe uma piora gradual e constante [dos indicadores] de 2010 a 2014, refletindo principalmente no ano passado um ambiente de negócios ruim para alguns setores específicos - como açúcar e álcool, construção pesada em função da Lava-Jato e construção residencial", observa Carvalho. Segundo ele, mesmo setores ainda em crescimento, como o comércio, avançaram em 2014 em menor magnitude.


"Os indicadores estão alcançando limites próximos aos considerados aceitáveis para cada categoria de rating", diz, o que indica novos rebaixamentos de notas de crédito ainda este ano.


Em 2014, os rebaixamentos de ratings em escala global pela Fitch superaram em mais de três vezes as elevações, num movimento considerado atípico. Em 2015, os cortes de notas na escala internacional já chegam a 30, contra apenas quatro altas. "Ainda assim, 20% do nosso portfólio [de 160 empresas] estão em perspectiva negativa, indicando que ainda há um volume grande de cortes que podem acontecer", diz.


Com a geração de caixa mais fraca e maior consumo de caixa devido ao aumento da despesa financeira, as empresas precisarão recorrer a dívidas para honrar compromissos financeiros, num contexto de crédito mais restrito e caro. "Esperamos, de uma forma geral, revisão nos planos de investimentos para proteger caixa neste cenário mais duro de credito. Isso deve continuar nos próximos trimestres, pois a geração de receita seguirá incerta nos próximos 12 meses", prevê Carvalho.


Nesse contexto, a gestora de recursos Capitânia, especializada em crédito, vê uma procura maior por serviços de análise de alternativas de endividamento. As soluções adotadas variam de acordo com o porte da empresa.


"Para empresas maiores, o mercado de capitais externo ainda está aberto. Com taxas de juros muito baixas no mundo todo, a carência de retorno no exterior tem levado a um aumento de liquidez para o Brasil", conta o diretor da Capitânia, César Lauro.


Este é o caso da Embraer, que captou nesta semana US$ 1 bilhão por meio de emissão de bônus no mercado externo. Segundo a companhia, parte dos recursos será usado para o pagamento de dívidas antigas.


Em outro exemplo, no início de maio, a Votorantim Cimentos captou 500 milhões de euros através de títulos com vencimento em 2022, planejando usar parte dos recursos para recomprar títulos de uma emissão de 300 milhões de euros para 2017.


A racionalização de passivos também é alternativa para pequenas e médias companhias. "Essas empresas, tradicionalmente servidas pelo mercado bancário, podem acessar o mercado de capitais de maneira 'light'", sugere Lauro, citando operações de securitização - agrupamento de passivos convertidos em títulos negociáveis no mercado de capitais - e outras operações estruturadas.


Para as empresas que deixaram refinanciamentos para serem feitos em 2015, na expectativa de taxas de juros menores, as opções são fazer nova rolagem de curto prazo, esperando para 2016 um cenário melhor, ou otimizar a estrutura de captação, explica o executivo.


Há para 2016, no entanto, duas variáveis em aberto, em sentidos apostos: a expectativa de que os Estados Unidos aumentem juros ao fim de 2015 ou início de 2016, e a possível queda de juros no Brasil, findo o processo de ajuste fiscal.


Carvalho, da Fitch, também só acredita ser possível um ambiente melhor para as empresas brasileiras no próximo ano. "2015 será um ano para esquecer, a grande expectativa agora é de um 2016 com algum grau de recuperação", afirma. Segundo ele, a mudança mais importante neste sentido é o retorno dos índices de confiança a níveis históricos, permitindo a retomada do crédito e do investimento produtivo.


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