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O Globo Online (RJ) ( Economia ) - RJ - Brasil - 06-06-2015 - 11:02 -   Notícia original Link para notícia
Para tirar as vendas do ponto morto

Montadoras fazem de tudo para atrair consumidor, mas especialistas recomendam cautela


Valdner Papa
Consultor automotivo "O custo de um estoque alto é gigantesco. Com o ajuste dos estoques, a tendência é as montadoras diminuírem a agressividade"


-SÃO PAULO- Com queda de quase 30% nas vendas em maio e estoques girando em torno de 50 dias, as montadoras começam o mês com guerra de preços e mais promoções. Os descontos prometidos na compra de um carro zero chegam a R$ 5 mil, enquanto os prazos de financiamento - que não embutiriam juros - chegam a 36 meses. Na troca, a avaliação do carro usado pode chegar ao valor da tabela Fipe.



FERNANDO DONASCI Oportunidade. O aposentado Paulo Sergio Gazze acaba de comprar um carro zero km, aproveitando boas taxas para financiamento


A movimentação nas concessionárias contrasta com a desaceleração nas linhas de montagem. A estimativa é que mais de um terço dos trabalhadores das montadoras fiquem em casa neste mês, com a adoção de novos programas de férias coletivas, folgas, semanas reduzidas e lay-offs. Tudo para tentar baixar os estoques para os parâmetros normais, que são de 30 dias.


A Renault, por exemplo, lança na próxima terça-feira, dia 9, nova campanha de vendas. O consumidor poderá dividir o pagamento entre 24 e 30 meses na compra dos modelos Sandero e Logan.


- Com as ações de maio, conseguimos manter as vendas do Sandero, em um mês que o mercado caiu mais de 27% - disse o diretor de Marketing da Renault, Bruno Hohman.


A montadora, que tem fábrica em São José dos Pinhais (PR), tem enfrentado a crise com ajustes no quadro de pessoal. Em fevereiro, 470 funcionários aderiram a um plano de demissões voluntárias.


ESTOQUE DE 70 DIAS


A Volks está com a promoção "feriado prolongado" até este domingo. Veículos da linha Gol são oferecidos com desconto de R$ 5 mil. No mês passado, a empresa deu férias coletivas de dez dias para praticamente todo o quadro de funcionários da fábrica de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, paralisando temporariamente a montagem dos modelos Gol e Saveiro. Foi numa tentativa de adequar o ritmo de fabricação à demanda do mercado. Outros 250 empregados estão em regime de lay-off na unidade do ABC.


O quadro não é melhor na General Motors, que informa ter hoje 70 dias de estoques na rede de revendedores e nos pátios das fábricas. A montadora anunciou para este mês férias coletivas em todas as suas fábricas no país. Em São Caetano do Sul, também no ABC paulista, 5.500 empregados ficarão em casa de 11 a 28 de junho. Em São José dos Campos, 1.700 estarão de folga entre os dias 15 a 30 deste mês. Em Gravataí (RS), onde se produz os carros campeões de venda da marca, o Onix e o Prisma, a parada vai dos dias 15 a 28 de junho. Mas, nas concessionárias, a ordem é não falar em crise. Marcos Munhoz, vice-presidente de marketing da GM, disse que a montadora vai seguir a concorrência e também embarcar na campanha de taxa zero e financiamentos diferenciados:


- O cliente não vai mais às lojas para conhecer o carro, fazer pesquisa. Agora, quando entra numa concessionária, é para comprar o carro. Por isso, ações de varejo são muito importantes.


Hyundai e Fiat são outras com campanhas agressivas de venda em suas lojas. A Hyundai Caoa aposta no marketing mais regionalizado.


- Uma das estratégias é comprar o usado na troca tendo como referência a tabela Fipe - disse o diretor de Marketing, Anselmo Borgheti.


Já a Fiat, que tem parada programada na fábrica de Betim (MG) para semana que vem, vai continuar com a promoção parcela reduzida até fevereiro de 2016.


- Com o desaquecimento do mercado, a empresa adequou sua política comercial concedendo bonificações e juros reduzidos, entre outras ações, além de fazer ajustes estratégicos na produção para adequar os níveis de estoques e o mix da demanda - disse Lélio Ramos, diretor comercial da Fiat.


Na Ford, a aposta é também na chamada taxa zero nos financiamentos. Segundo Oswaldo Ramos, gerente geral de Marketing da Ford, a montadora vai reforçar a campanha, principalmente, no modelo Novo Ford Ka:


- Por volta de 70% dos clientes estão comprando veículos financiados. Essa tendência foi acentuada pelo aumento de ofertas com taxa zero em 2015. Estamos tralhando com a Ford Credit, o que tem gerado um índice melhor na aprovação do crédito do que a média do mercado.


A montadora parou por uma semana a unidade de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, em maio.


Consultores afirmam que essas "benesses" têm data para acabar: quando os estoques estiverem regulados, os preços voltam à condição normal.


- O custo de um estoque alto é gigantesco. O único antídoto é acelerar as vendas com promoções. Com o ajuste dos estoques, a tendência é as montadoras diminuírem a agressividade - afirmou o consultor automotivo Valdner Papa.


Foi pensando nisso que o aposentado, Paulo Sergio Gazze, de 66 anos, comprou um Golf zero, na semana passada. Ele aproveitou a promoção da rede VW que oferecia taxa zero no financiamento de 24 meses.


- A entrada foi de 60% do valor, e o restante está aplicado. Foi uma condição interessante, pois, terei uma reserva financeira - diz Gazze.


MOMENTO É DO COMPRADOR


Para Francisco Satkunas, conselheiro da SAE-Brasil, as montadoras estão mais preocupadas em atrair o consumidor, mas se esquecem de estratégias que poderiam melhorar a rentabilidade da rede, como planos de manutenção estendidos.


- Agora é a hora do corpo a corpo. Há pessoas querendo comprar carros, mas a insegurança em relação à situação econômica ainda impera no mercado. Assim que se reestabelecer a confiança, o consumidor volta .


Para o consultor de finanças pessoais Mauro Calil, este é o momento do comprador. Mas é importante o consumidor não deixar se levar pelo impulso. É preciso avaliar a situação financeira e se é indispensável a compra de um carro zero:


- Financeiramente não é um momento interessante, há muitas incertezas no mercado. A compra só compensará se realmente o cliente precisar.


Segundo Calil, se o consumidor comprar um carro popular de R$ 30 mil, os gastos mensais serão de R$ 800:


- Além de observar se a parcela cabe no bolso, é preciso considerar despesas de manutenção. É um custo substancial.      


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