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Estado de Minas Online ( Gerais ) - MG - Brasil - 02-06-2015 - 09:32 -   Notícia original Link para notícia
Um mirante para a fé

Prefeitura de Belo Horizonte busca parceiro para investir e garantir infraestrutura ao chamado Monte de Orações, no Bairro Palmares. Local atrai pessoas de várias religiões


Diariamente, pessoas sobem o morro para orar: administração municipal diz que já existe um interessado em erguer a estrutura do mirante em modelo de parceria público-privada

O chão árido e as pedras brancas dão um ar de deserto - de verde mesmo, só a encosta de acesso ao topo do morro, cincundando 64 degraus de concreto. Ao longe, numa visão de 360 graus, pode-se contemplar com nitidez o estádio do Mineirão, a Serra do Curral, os prédios do Bairro Belvedere, a Serra da Piedade e o Anel Rodoviário. De braços levantados, de mãos postas, com o corpo enrolado na bandeira de Israel ou ajoelhadas na terra, pessoas de vários credos oram, rezam, pedem ajuda aos céus ou simplesmente olham a paisagem em silêncio. Noite e dia, assim é o topo de uma montanha no Bairro Palmares, batizado de Monte de Orações, na Região Nordeste da capital, e que deverá se transformar num mirante, segundo proposta da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH). Embora o objetivo seja manter a vocação religiosa do espaço, a ideia divide os frequentadores: uns temem ver a área sem suas características originais, outros creem na dobradinha fé e turismo para atrair mais moradores e visitantes.

De acordo com o edital do Procedimento de Manifestação de Interesse (PMI), publicado pela PBH no Diário Oficial do Município (DOM) - e que significa uma maneira formal de consulta ao mercado -, os interessados devem apresentar estudos, levantamentos, dados técnicos e demais insumos necessários à estruturação do projeto, informa o arquiteto e urbanista Gustavo Kummer de Paula, gerente de Parceria Público-Privada (PPP) da PBH Ativos. "Trata-se de uma prévia de licitação e vamos receber as propostas até o fim do mês. A prefeitura não terá gastos com a implantação do mirante", afirma Gustavo, ressaltando que se trata de uma área de propriedade do município com 42 mil metros quadrados, em dois níveis do terreno.

Os estudos incluem viabilidade econômica e financeira; aspectos jurídicos referentes à implantação do modelo de contratação a ser desenvolvido; anteprojeto urbanístico e arquitetônico; e descrição detalhada dos custos, sendo priorizadas as propostas que apresentarem melhor viabilidade econômico-financeira, na modalidade de concessão comum. Nessa área de preservação e com características de visitação religiosa, o proprietário terá retorno econômico criando um negócio: poderá construir, na parte de baixo do morro, sem interferir nos cultos religiosos, restaurante, banheiros e binóculo, melhorar o acesso, dotar a região de segurança e assegurar outros serviços para o bom funcionamento e a receita do empreeendor. Segundo a PBH, já há um interessado na proposta, mas o nome ainda não pode ser divulgado. 


O pastor Idelfonso e a padeira Raquel aprovam mais estrutura 


DE MÃOS DADAS A terapeuta Sônia Sivestrini é evangélica e segura a Bíblia com firmeza; ao lado, o sobrinho Eduardo Ventura, empresário, católico, une as palmas das mãos no peito e pede a proteção dos céus. Com profunda amizade, os dois se encontram de corpo e alma no Monte de Orações, e ontem não foi diferente. Sob o sol quente da tarde, eles juntaram forças, embora pensem de forma diversa sobre a intenção do poder público em relação ao lugar. "Acho que deve continuar assim mesmo, para não perde a originalidade", acredita Sônia, enquanto, para Eduardo, fé e turismo podem combinar muito bem e dar bons frutos para a comunidade belo-horizontina. "Será uma oportunidade ótima de trazer visitantes, pessoas que não conhecem. Venho pela terceira vez, pois minha querida tia me trouxe. E voltarei outras vezes", observou.

Em outro canto, os amigos Idelfonso Xavier, pastor da Igreja Assembleia de Deus, e Raquel Souza Nunes, padeira, evangélica, davam as mãos em oração. "Esse lugar é ecumênico, chegam homens e mulheres de todas as religiões, até de outros países. Já passou da hora de arrumarem isso aqui, fazer algo semelhante à Praça do Papa, na Região Centro-Sul de BH, com toda infraestrutura, principalmente banheiros. Espero que desta vez o projeto surta efeito", defendeu o pastor Ildefonso, enquanto, para Raquel, é preciso manter o foco: "Aqui é um monte sagrado, com terra e pedra para você orar. Não podemos perder esse objetivo".


Praticante de judaísmo messiânico: vizinhos cobram medidas na área 


Ao lado do primo Mateus Luiz, o motoqueiro Guilherme Alan, de 22 anos, morador do Bairro Novo Progresso, na Região Noroeste, contou que frequenta o topo da montanha há oito meses e prefere que ele continue do jeito que está. Mas o rapaz, pai de uma menina de 2 anos, defende melhoramentos para assegurar a segurança. "Aqui encontro a paz de Deus. Quem anda de moto neste trânsito precisa de muita proteção", afirmou Guilherme. Mais adiante, enrolado na bandeira de Israel, o praticante do judaísmo messiânico Washington Pires revelava que não quer "nada moderno" nas alturas, nada que faça a montanha perder a autenticidade.

HORÁRIO Moradores de prédios residenciais próximos ao morro, que veem multidões em plena madrugada orando em voz alta ou tocando trombetas, estão confiantes de que o Mirante Palmares só trará benefícios ao bairro. "A iniciativa é fundamental para organizar a área. Respeito as crenças, mas com horário de funcionamento, até as 22h, ficará tudo bem melhor", afirmou o gestor comercial Leonardo Augusto Leandro Ferreira.


O empresário Eduardo e a tia, Sônia: para ele, mirante é boa ideia


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