Leitura de notícia
Estado de Minas Online ( Economia ) - MG - Brasil - 31-05-2015 - 13:38 -   Notícia original Link para notícia
Futuro à vista

Filha de Maria Lúcia Café e Anderson Birman, Patrícia cresceu admirando o trabalho do pai e do irmão Alexandre diante do grupo Arezzo, tanto que trabalhar no segmento nunca foi opção. "Não tinha como fugir", conta. Nos estágios que fez durante a faculdade aprendeu a gostar de moda autoral, mas depois de uma temporada sozinha na loja do pai, viu que sua praia era mais mercadológica. "Comecei a enxergar a moda como um business. Liguei-me que ela não faz sentido se não está acompanhada de um canal de venda", explica. De desenvolvedora de produtos a gerente de varejo de 30 lojas Arezzo, Patrícia viu que seu tempo lá havia acabado. Sedenta por novidades, anunciou sua retirada. "Foi um processo benfeito. Consegui sair quando as coisas estavam maduras", orgulha-se. Depois de alguns meses de férias e um curso de liderança feminina em Harvard, julgou-se preparada para iniciar uma nova etapa profissional e assumir sua própria marca. Diante da oferta de centenas de marcas de luxo, ela disse não para todas com a justificativa de que "não havia saído da Arezzo para trabalhar menos". Inspirada por uma marca de moda fitness feminina canadense, decidiu montar a sua, a Memo. Com quatro lojas em São Paulo, um e-commerce e muitos desafios ela é firme. "Antes de pensarmos em expansão é preciso estruturar muito a marca".

Como foi crescer em meio ao mundo da moda? 
Sempre gostei de moda, adorava acompanhar de perto o trabalho dos meus familiares, mas demorei a trabalhar como contratada na Arezzo. Quando ia à fábrica almoçar com meu pai ficava por lá o dia todo observando o que ele fazia, mas sem ter uma função profissional lá dentro. Um pouco mais tarde comecei a observar também o que meu irmão Alexandre fazia na Arezzo, até fazia umas viagens de pesquisa com ele, mas não cheguei a ingressar na fábrica tão rapidamente quanto ele. Esse contato direto contribuiu para que eu quisesse me profissionalizar na moda. Quando prestei vestibular ainda não existia faculdade de moda em Belo Horizonte, por isso acabei cursando psicologia, que era algo que estudava o comportamento humano e que eu poderia associar com a moda um pouco depois. Nas provas de meio de ano me saí superbem, fui aprovada em 20º lugar geral na PUC-MG, mas vi que não queria aquilo, queria moda mesmo, por isso conversei com minha mãe e decidi prestar um novo vestibular em São Paulo, já que não tinha nada em Belo Horizonte que me prendia. Fui aprovada nas universidades Anhembi/Morumbi e Santa Marcelina, mas acabei optando pela Santa Marcelina. Foi aí que me mudei definitivamente para São Paulo.

E você acha que rumaria para a moda de qualquer forma? 
Sim, não teria como fugir, mas sempre tive uma visão da moda diferente daquela glamourosa, de passarela. Antes de entrar para a Arezzo trabalhei com o Reinaldo Lourenço, e logo depois com o Pedro Lourenço que na época tinha 12 anos e eu 19. Costumo brincar que éramos duas crianças, mas apesar disso foi muito bom trabalhar essa coisa de moda autoral, de sentimento. Apesar disso, o lado glamouroso da moda nunca foi meu foco principal. Essas coleções cruise que vemos de Chanel e Dior são lindas, mas no Brasil não faz tanto sentido. Só ingressei no grupo Arezzo quando me formei na faculdade e comecei no setor de desenvolvimento de produtos. Pouco tempo depois meu pai foi fazer uma viagem, mas não pude ir porque pessoas do meu cargo não tiravam férias. Fiquei na loja sozinha por 15 dias e me encantei por essa questão de mercado. Foi aí que me matriculei em uma pós-graduação em gestão de varejo na USP e comecei a pensar na moda voltada para o mercado. Comecei a ter visão pensada na loja, enxergar a moda como um business. Sempre me liguei que a moda não faz sentido se não está acompanhada de um canal de venda, tem que ter um background quantitativo e qualitativo.

Quando descobriu que não queria mais ficar na Arezzo?
Na verdade, foi um processo. Comecei no desenvolvimento de produtos, gerenciei a loja da Oscar Freire e depois assumi a gerência de todo o varejo, ficando com 30 lojas por minha conta. No final queria novidades, sabe? Ou buscava uma nova colocação dentro do grupo ou me desligava dele. Comecei a pensar em outras coisas, comecei a prospectar alguns negócios e então consegui ver uma luz fora do túnel. Foi um processo de transição muito benfeito.

Mas esse processo de transição foi sofrido? 
Não, ele foi bem construído. Consegui contar a tempo para todo mundo e ia reportando direto para o meu pai tudo o que acontecia. Preparei a equipe muito bem, elegi uma sucessora que estava bem qualificada para o cargo e quando me decidi as coisas estavam bem maduras. Costumo brincar que quando tomei essa decisão estava tão sedenta por novidades que ou saía da Arezzo ou engravidava. Acho que fiz os dois, porque ter a própria marca é como assumir um filho.

Entre a sua saída da Arezzo e a abertura da Memo você passou um tempo em stand by. O que essa pausa acrescentou? 
Fiz um curso em Harvard de liderança feminina focado em gestão de mudança e ministrado pelos melhores professores da universidade, tudo que eu queria na época. Logo quando você se inscreve, preenche um formulário bastante detalhado e no início do curso o colocam em um grupo de cinco mulheres com perfis semelhantes ao seu que um profissional vai guiar até o final, de acordo com as necessidades. Posso falar que foi a melhor experiência acadêmica da minha vida e recomendo muito para quem está passando por fases de mudança profissional. Tirando essa experiência nos EUA, também fui a Paris estudar francês e viajei muito com meu marido. Esse afastamento do Brasil foi essencial porque as coisas ocorriam aqui, e eu ficava sabendo, mas não participava delas. Falava com meu pai ao telefone 30 vezes por dia, mas não estava aqui para ter que resolver um eventual problema, por exemplo. Quando voltei, estava pronta e meu pai já tinha montado minha mesa no escritório que ele mantém para minha família trabalhar. Foi muito bom.

E como a moda fitness entrou em sua vida? 
Faço parte de uma família de atletas e sempre nos interessamos muito por marcas esportivas. Anualmente, frequentava com meu irmão uma feira de varejo em Nova York e em 2010 conheci o case da Lululemon, uma marca canadense de fitness que gera bilhões de dólares por ano. Encantei-me por aquilo. Quando saí da Arezzo comecei a falar com pessoas interessantes de business, mas só apareceram sugestões de negócios de luxo. Eu queria mais, entende? Costumava dizer às pessoas que tinha saído da Arezzo não porque o volume de trabalho era grande e com o meu negócio queria trabalhar o mesmo tanto ou mais. Para mim, trabalho nunca foi problema. Pesquisei bastante o segmento, vi que valia a pena investir e hoje tenho a Memo.

A moda fitness feminina é muito diferente da convencional?
Sim. Trabalhar com fashion fitness feminino significa ter uma preocupação estética e também ficar de olho nas tendências, estampas, texturas, lembrando que tudo que produzimos tem que ser funcional, ser durável, secar rápido. Basicamente olhamos o que o mercado está produzindo e nossa estilista adapta às roupas fitness.

E como está o mercado de moda fitness no Brasil?
Acho que o mercado de moda fitness brasileira ainda tem muito a crescer no Brasil. Hoje temos uma marca de varejo que é líder de mercado e outras poucas marcas especializadas.

Qual o saldo da Memo até agora?
A Memo está presente com lojas próprias nos quatro melhores shoppings de São Paulo, além de termos nosso e-commerce. Em Belo Horizonte, não estamos em muitos pontos de venda porque não trabalhamos com grande penetração. Queremos ter poucos clientes que sejam parceiros e que tenham um relacionamento pessoal direto conosco. Sobre lojas na capital mineira, ainda não temos data certa de ter loja própria na cidade porque primeiro as coisas têm que se estruturar para começar a expansão. As pessoas comentam que Belo Horizonte é uma praça resistente, mas temos um histórico de conhecer o que o mineiro gosta, por isso acho que vai ser mais fácil.


Palavras Chave Encontradas: Criança
O conteúdo acima foi reproduzido conforme o original, com informações e opiniões de responsabilidade da fonte (veículo especificado acima).
© Copyright. Interclip - Monitoramento de Notícias. Todos os direitos reservados, 2013.