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Estadão ( Economia ) - SP - Brasil - 30-05-2015 - 12:56 -   Notícia original Link para notícia
'Estamos pagando o custo do passado'

RIO - O Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre veio um pouco menos negativo que o esperado, mas Ilan Goldfajn, economista-chefe do Itaú Unibanco, não vê alívio. Segundo ele, haverá piora significativa no segundo trimestre. Já no terceiro trimestre, o PIB pode parar de piorar, mas ainda estará longe de um desempenho positivo. Para o economista, o País paga hoje o custo do passado e os ajustes promovidos pela atual equipe econômica "tentam consertar vários anos de uma vez só, o que sempre é difícil". A seguir, os principais trechos da entrevista. 


Como o sr. viu o resultado do PIB do primeiro trimestre? 


O tom geral é que continuamos com uma economia fraca. Houve queda de 0,2%, é um resultado negativo, que vem depois de PIBs fracos nos últimos tempos. Nós tínhamos previsto queda de 0,4%, logo, foi um pouquinho melhor, mas a tendência ainda é de queda. Considerando o grau de incerteza natural nesse tipo de projeção, está mais ou menos em linha. A tendência é de queda e acho que no segundo trimestre deste ano certamente esse número negativo vai se aprofundar. Estimamos queda de 1%, com viés de baixa. Pode até ser pior, algo como -1,5%. 


Por que o segundo trimestre deve ser tão ruim? 


No primeiro trimestre tivemos uma queda de investimento de 1,3%, e acho que vai ser maior no segundo trimestre. O recuo do investimento no primeiro trimestre foi menor do que prevíamos, de 3,6%, mas não estou esperançoso de que seja melhor no segundo. Todas as estimativas de confiança ainda estão muito baixas, em queda, assim como os dados de bens de capital, de produção, e os estoques estão altos. Não parece que chegamos ao fim do poço. O consumo teve queda de 1,5% no primeiro trimestre e continuará caindo. 


A indústria caiu menos que o previsto, não? 


A indústria veio com queda de 0,3%, em vez de cair os 2,2% da nossa projeção. A surpresa veio da construção civil. Mas quando se olha o que está em volta, não parece que a construção civil será o fator a sustentar a economia. Há até o esforço do governo, reduzindo compulsório do setor imobiliário, então não tem como ser muito bom, é um setor que está precisando de ajuda. 


Que outros aspectos da divulgação do PIB o sr. destacaria? 


Os grandes componentes já estão mostrando queda. Os serviços recuaram 0,7%, maior que o recuo de 0,2% que imaginávamos. O setor externo foi um pouco melhor, mas dentro esperado. Numa economia fraca, o setor externo tende a não ser tão fraco em relação ao resto.




Na visão do economista-chefe do Itaú Unibanco, Ilan Goldfajn, tendência do PIB ainda é de queda



Olhando mais à frente, a economia pode se recuperar no segundo semestre? 


Temos de avaliar se no terceiro trimestre o PIB deixará de ser negativo. Não me parece que vamos ter um alívio, mas talvez a economia deixe de cair como no segundo trimestre. Talvez o segundo trimestre venha a ser o pior. É diferente ter um terceiro trimestre bom ou um terceiro trimestre que não é tão ruim quanto o segundo. Talvez seja algo perto de zero, ou negativo em 0,1%, 0,2%. 


Qual a sua projeção do PIB para o ano? E para 2016? 


Estamos com queda de 1,5% para este ano. Hoje, achamos que está bem calibrada. Estávamos com a tendência de revisar para pior, mas com o primeiro trimestre um pouco melhor que o previsto, provavelmente vamos ficar em -1,5%, apesar de o segundo trimestre estar vindo um pouquinho pior que o antecipado. Para 2016, crescimento de algo em torno de 0,5%, nosso número oficial é 0,7%.


Como a economia brasileira vai conseguir sair do poço? 


A gente bate no fundo do poço e quica - isso é uma piada, por favor... Tem outros que dizem que a gente atinge o fundo e começa a cavar. Agora, falando a sério, a retomada tem de vir por meio da confiança. Poderia também ser o setor externo puxando, mas, numa economia como a brasileira, em que ele é pequeno, não consegue puxar muito. Então, tem de ser a confiança mesmo. 


E como viria essa volta da confiança? 


Tem de ser uma percepção de que o pior passou, que já ajustamos o suficiente. Isso significa ter a percepção de que os ajustes já feitos deram certo, de que é hora de ir adiante. O mercado financeiro começa a mostrar preços melhores, a Bolsa sobe, o risco Brasil cai, o câmbio fica estável mais tempo. A sensação de condições financeiras melhores, com o governo saindo do pior do ajuste, dá uma certa confiança. 


Como o sr. avalia o momento atual em comparação com esse cenário que descreveu de começarmos a sair do fundo do poço? 


Os ajustes estão muito na linha do que eu imaginava. Eles tentam consertar vários anos de uma vez só, o que sempre é difícil. Estamos pagando hoje o custo do passado, não do presente. Estamos no caminho certo, mas é difícil: o ajuste não acontece nem de uma forma suave, nem de uma forma completa. Mas a melhora virá devagar.


E o risco de que dificuldades políticas ou divergências na equipe econômica descarrilem o ajuste? 


Acho que teremos suficiente apoio para que o ajuste continue. Não perfeito. Não a meta de 1,2% do PIB de superávit primário este ano, mas 0,8%, 0,7%. Mas um ajuste suficiente. Acho que não tem apoio para ir além disso. Não que o governo não queira, que o ministro da Fazenda não queira reformas, mudanças que mexam com a produtividade e façam o Brasil crescer. Mas estão usando todo o apoio que conseguem para consertar o passado, não têm força para ir além. 


O sr. teria alguma recomendação final em termos de política econômica? 


O governo deve perseverar nos ajustes e tentar avançar, porque será a única forma de a gente sair dessa situação de crescimento negativo. As concessões de infraestrutura são essenciais nesse processo também, porque de um lado ajudam na produtividade e do outro dão um pouquinho de demanda também. 


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