Leitura de notícia
Valor Online ( Finanças ) - SP - Brasil - 29-05-2015 - 09:36 -   Notícia original Link para notícia
Inflação é pior para PIB do que juros


Padovani, do Banco Votorantim: só quando modelo do BC apontar para inflação perto da meta é que ciclo será suspenso



A preocupação com o custo imposto pela política monetária à atividade econômica tem ocupado um espaço importante nos debates entre profissionais do mercado financeiro. A surpresa negativa vinda dos dados de emprego e a perspectiva de uma queda ainda mais forte do PIB neste ano colocam em questão o benefício da postura classificada de "ultraortodoxa" do Banco Central.


Mas, para economistas que integram o grupo dos "Top 5" para a Selic - a elite que mais acerta as previsões na pesquisa do BC - e profissionais de grandes instituições financeiras, o impacto negativo da continuidade do aperto monetário sobre a economia ainda é menor que o imposto pela inflação elevada. Isso porque o efeito adverso sobre a atividade fica mais restrito ao curto prazo, enquanto a alta generalizada de preços mina a confiança e trava a economia por um período mais longo.


Profissionais do mercado consultados pelo Valor argumentam que a retomada do crescimento depende da melhora da confiança dos investidores, o que passa por um cenário de inflação sob controle. Por isso, consideram que o juro pode subir mais e até permanecer elevado por um período mais prolongado.


O economista-chefe do Banco Votorantim, Roberto Padovani, diz que a discussão sobre um "exagero" da parte do BC faria sentido apenas se as expectativas de inflação já tivessem caído para perto de 4,5%, "o que não é o caso". Segundo o economista, só quando o modelo econométrico rodado pelo BC indicar uma inflação mais próxima do centro da meta em 2016 é que se deve esperar um sinal mais claro de interrupção do ciclo. "Mas, ainda assim, talvez o BC tenha que manter a política monetária apertada por mais tempo para garantir a convergência da inflação à meta."


"A economia já vem fraca não é de agora. E o que vai fazer esse declínio se aprofundar neste ano é a inflação, simplesmente porque esse círculo vicioso de aumento de preços tira qualquer estímulo ao investimento. E investimento é básico para o crescimento do PIB", afirma.


O economista estima que o BC elevará a Selic em mais 0,50 ponto na semana que vem e vê um aumento adicional de 0,25 ponto no encontro do Copom de julho. Dessa forma, a Selic terminaria dezembro em 14% ao ano. A inflação projetada por ele para 2016 é de 5%, e o PIB neste ano deverá cair 1%.


"O BC tem mostrado uma preocupação com os efeitos secundários do choque dos preços relativos e vai acabar fazendo um ciclo de aperto monetário mais extenso que o esperado", afirma Tatiana Pinheiro, economista do Santander. O banco, que esperava um aumento de 0,25 ponto para a reunião de junho, mudou a projeção e prevê uma elevação de 0,5 ponto no próximo encontro, além de uma alta adicional de 0,25 ponto em julho.



Para Tatiana, esse ciclo maior de aperto monetário deve ter um impacto na atividade e levar a economia a um crescimento mais fraco. Mas essa ação é necessária, porque ajuda no processo de queda da inflação, contribuindo para a sua convergência para a meta. "O ano vai ser de crescimento econômico fraco, estamos prevendo um avanço do PIB de 0,5% em 2016. O realinhamento dos preços e a própria depreciação do câmbio devem ajudar a recuperação em alguns setores. Além disso, o ajuste fiscal deve melhorar a confiança na economia", afirma.


O economista-chefe da Icatu Vanguarda, Rodrigo Alves Melo, diz que a fraqueza da atividade decorre de muitos outros elementos além da política monetária, que teria apenas uma pequena parcela nessa conta. Melo lembra que as incertezas políticas vindas desde o ano passado, a Operação Lava-Jato e a redução dos estímulos fiscais agravam a desconfiança do investidor com o quadro de inflação pressionada dos últimos anos. "Atacar essa inflação é o primeiro passo para romper com o pessimismo do investidor", afirma.


Melo afirma ainda que o atual BC tem dado um peso maior às expectativas de inflação do que ao hiato do produto - a diferença entre o crescimento do PIB potencial e o concreto. Isso explica, na visão do economista, o tom mais duro do BC contra a alta dos preços, a despeito do custo da atividade.


Num sinal de que a dose de aperto monetário do BC não parece excessiva, o economista estima um IPCA de 5,7% em 2016, mesmo com a Selic podendo ir este ano a 14,25% e o PIB devendo recuar, nas contas dele, 1,9%.


Uma postura excessivamente ortodoxa pode gerar problemas mais sérios para a economia, afirma o especialista em macroeconomia da MCM Consultores Associados Antonio Madeira. O principal deles, alerta, seria o de gerar desconfiança com a solvência da dívida. Mas, nas atuais circunstâncias, esse tema não está colocado. Madeira não descarta que o BC leve a Selic a 14% neste ano, mas ainda mantém uma previsão oficial de 13,75%, alterada recentemente em meio ao discurso mais "hawkish" (inclinado ao aperto monetário) do BC. Ainda assim, o IPCA ficará, nas contas da MCM, em 5,3% em 2016, distante do centro da meta do governo, de 4,5%.


"É preciso confirmar ainda o impacto da recessão sobre a inflação, o que deve ocorrer talvez até junho, julho, para só depois se pensar numa Selic estável por mais tempo."


Para o economista da Porto Seguro Investimentos, José Pena, a grande questão para o balanço de risco entre atividade e inflação é o "timing" do corte da taxa básica. Ele acredita que o BC deve estender o ciclo de aperto monetário e voltar a subir a Selic em 0,5 ponto em junho para recuperar a credibilidade e convencer o mercado que, de fato, buscará a meta de inflação de 4,5%. Mas o BC deveria começar a reduzir a taxa no início do ano que vem, com cortes consecutivos até chegar a 11,5%. Ele acredita que prolongar o ciclo de alta, ou permanecer com a Selic em um nível elevado por um período longo, tem um custo que pode ser maior que o ganho marginal que pode ter sobre inflação. "Por isso, não vejo razão para ele ir muito além dos 13,75% na taxa Selic", afirma.


Pena destaca que, apesar do mandato do BC ser o controle da inflação, a autoridade não pode ignorar o comportamento da atividade, que compromete a estabilidade da economia. "Um crescimento fraco prejudica a arrecadação e o ajuste das contas públicas, e também tem implicação sobre o aumento da inadimplência no mercado de crédito", diz.


Nenhuma palavra chave encontrada.
O conteúdo acima foi reproduzido conforme o original, com informações e opiniões de responsabilidade da fonte (veículo especificado acima).
© Copyright. Interclip - Monitoramento de Notícias. Todos os direitos reservados, 2013.