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Valor Online ( Finanças ) - SP - Brasil - 29-05-2015 - 08:59 -   Notícia original Link para notícia
Concessão de crédito deve encolher

Por Daniela Rocha | Para o Valor, de São PauloLuiz Rabi, gerente da Serasa Experian: de janeiro a abril, o aumento da busca por crédito ocorreu apenas entre micro e pequenas empresas, com alta de 8,4%


Nos primeiros quatro meses de 2015, as concessões de crédito para pessoas jurídicas no país caíram 4,7% em relação ao mesmo período do ano passado, indica o relatório de Política Monetária e Operações de Crédito do Sistema Financeiro do Banco Central (BC). Para o segundo trimestre, a expectativa é de maior redução, segundo pesquisa trimestral de Condições de Crédito do BC, divulgada este mês com 46 instituições financeiras.


Os indicadores, que variam de -2 a 2, representando menos ou mais concessões, sinalizam que a percepção sobre a oferta de crédito para pequenas e médias empresas, negativa em - 0,79 no primeiro trimestre, deverá ser pior, com - 0,94 no segundo trimestre. Ao mesmo tempo, a demanda nesse segmento deverá aumentar ligeiramente, de - 0,52 no primeiro trimestre para - 0,30, no segundo trimestre.


De janeiro a abril, o aumento da busca por crédito - bancário e outros tipos -, ocorreu apenas entre micro e pequenas empresas, com alta de 8,4%, de acordo com o Indicador Serasa Experian de Demanda das Empresas por Crédito. "Diante da recessão e da dificuldade de geração de caixa, essas empresas demandaram recursos urgentes para pagar dívidas e cobrir despesas", afirma Luiz Rabi, economista da Serasa Experian.


Nas médias empresas, o recuo na demanda por crédito nos primeiros quatro meses do ano foi de 14,2% e, nas grandes, a queda foi de 7,7%. As companhias de maior porte costumam ter uma estrutura de capital mais robusta e há menos investimentos em ampliações de estruturas ou aquisições de equipamentos em curso, conforme o economista.


No entanto, por mais que as micro e pequenas empresas tenham necessitado de mais crédito, não tiveram, na mesma intensidade, respostas positivas por parte dos bancos e buscaram alternativas, avalia Rabi. Com a economia fraca, cresce o risco de inadimplência. "Os bancos ficam mais conservadores, privilegiam o menor risco, isto é, o atendimento às grandes empresas", afirma.


Considerando os balanços do Itaú Unibanco, Bradesco, Santander e Banco do Brasil, a participação das micro, pequenas e médias empresas no estoque de crédito para pessoas jurídicas vem caindo, aponta pesquisa da Serasa Experian. No primeiro trimestre deste ano foi de 34,1%. No mesmo período de 2014, era de 38% e em igual intervalo de 2013, representava 40,9%.


A inadimplência das empresas subiu 12,1% no primeiro trimestre de 2015, na comparação com igual período do ano anterior, conforme a Serasa Experian. Cerca de 95% das negativações são de micro, pequenas e médias empresas. A inadimplência com os bancos teve alta de 3,5%, sendo R$ 4,3 mil o valor médio das dívidas. A alta da Selic e o risco de inadimplência têm elevado as taxas praticadas. Entre janeiro e abril, as modalidades mais salgadas foram cheque especial e antecipação de faturas de cartão, segundo o BC.



O economista Dan Cohen, ex-sócio da Hedging Griffo, lançou no início do ano a F(x), uma plataforma focada em crédito e que faz matching entre médias empresas e financiadores. Já são 20 companhias cadastradas e, do outro lado, 35 instituições entre bancos médios e fundos de investimento. Na evolução de janeiro a maio, os financiadores tornaram-se mais conservadores. "Eles procuram empresas com menores índices de alavancagem e exigem mais garantias", diz Cohen.


Mas há sinais de algumas mudanças positivas. Após apresentar leve recuo no volume de crédito destinado às PMEs nos últimos meses, o Santander adota uma nova estratégia para reverter essa situação. A operação brasileira se integrou, este mês, a um programa global de apoio aos empreendedores. A plataforma Santander Negócios & Empresas oferecerá R$ 15 bilhões em crédito e novidades em produtos e serviços. Há ainda um pilar que visa a capacitação e networking.


Para Jesús Zabalza, presidente do Santander Brasil, com o ajuste fiscal promovido pelo governo, a economia avançará em médio prazo. "Estamos em um período de transição da economia estagnada para o crescimento. Ajudaremos as empresas a atravessar esse momento. Apostamos agora porque acreditamos que a economia do país voltará a crescer dentro de seis meses a um ano", afirma Zabalza. Em março, a carteira de crédito das PMEs totalizou R$ 38,5 bilhões com adquirência, 12% de sua carteira ampliada.


No Bradesco, nos últimos doze meses, a evolução do crédito às grandes empresas foi de 10,4% e de apenas 1,9% às micro, pequenas e médias empresas. A fatia das MPMEs representa 24,8% da carteira expandida e atingiu R$ 114,9 bilhões em março. "Temos perspectiva de melhora no segundo semestre pois a economia costuma ficar mais aquecida", avalia João Carlos Gomes da Silva, diretor do Departamento de Comercialização de Produtos e Serviços do Bradesco. O banco trabalha, cada vez mais, de forma segmentada e o setor de franquias é uma das apostas.


O Sebrae irá disponibilizar R$ 25 milhões para o Bradesco utilizar como garantias complementares aos financiamentos de franquias. O Bradesco é a primeira instituição privada a aderir ao Fundo de Aval às Micro e Pequenas Empresas (Fampe). Com o montante aportado pelo Sebrae, o banco poderá liberar até R$ 300 milhões em empréstimos. O Santander se prepara para atender as franquias tendo o Sebrae como avalista.


As micro, pequenas e médias empresas correspondem a 64% da carteira de crédito de pessoas jurídicas da Caixa. De acordo com Eugênia Regina de Melo, superintendente nacional de estratégia para micro e pequeno empreendedorismo do banco, em cenários difíceis, há maior procura por recursos urgentes como cheque especial, antecipação de recebíveis e capital de giro. Mas o banco tem incentivado o acesso a algumas linhas que ajudam as empresas a se organizar.


"Estimulamos pequenos investimentos para melhoria de processos ou troca de equipamentos antigos por mais eficientes, que consomem menos água e energia", diz Eugênia. Para médias empresas, a Caixa projeta expansão superior a 20% na oferta de crédito em 2015. No primeiro trimestre, o crédito de micro e pequenas empresas do Banco do Brasil atingiu R$ 100,4 bilhões, crescimento de R$ 144 milhões em relação ao mesmo período de 2014.



Consultor recomenda contenção


Por Daniela Rocha | De São Paulo


O cenário continua desafiador para as micro, pequenas e médias empresas. O fraco desempenho da economia - que pela previsão do governo terá uma contração de 1,2% em 2015 e crescimento de 1% em 2016, dificulta a geração de caixa. As despesas também aumentaram em função dos reajustes de preços administrados como energia elétrica e combustíveis. As taxas de juros estão em alta e o crédito mais difícil. Para superar com êxito essa fase, segundo consultores, as companhias devem administrar melhor seus números, cortar custos e reavaliar estratégias.


De acordo com Marcelo Lico, diretor da Crowe Horwath Brasil, empresa de auditoria e consultoria, uma etapa importante é analisar os resultados realizados pela empresa e fazer uma projeção conservadora para os próximos meses. "Depois, é importante cortar tudo o que é supérfluo e promover o uso racional dos recursos. Se o empresário tiver todos os números da empresa nas mãos e realmente fizer uma análise profunda, ele verá que é possível cortar de 10 a 20% da despesa fixa", afirma.


Segundo ele, alguns itens pouco notados no dia a dia como copinhos de plástico descartáveis, quando cortados e substituídos por garrafinhas corporativas, representam economia significativa no final do mês. É preciso estudar alternativas para economizar água, energia, papel e impressões. É importante também repensar as saídas das equipes com frotas corporativas ou readequar o planejamento logístico.


Fraco desempenho da economia torna o cenário desafiador para as pequenas e médias empresas


"As empresas podem tentar renegociar com as operadoras de telefonia celular ou até abrir uma concorrência, o que pode reduzir os custos até 20% além da conquista de alguns benefícios como renovação dos aparelhos. Sempre é preciso acompanhar isso, manter algum profissional atento", afirma Lico.


Márcio Iavelberg, sócio da Blue Numbers Consultoria Empresarial, recomenda que as empresas façam a adequação da melhor forma possível os prazos de recebimentos e pagamentos. Muitas vezes, as empresas apresentam fluxo de caixa deficitário porque trabalham com esses prazos muito descasados. "Elas recebem dos clientes com prazo esticado demais mas têm que pagar as matérias-primas e a folha de funcionários no curto prazo. Esse desencaixe aumenta a necessidade de dinheiro do banco ou de outro lugar. É preciso mexer nisso, ainda mais com as elevadas taxas de juros que vem sendo praticadas", diz Iavelberg. Ele recomenda também que se mantenha estoques enxutos e se negocie com os fornecedores. "Vale tentar melhorar prazos e pedir descontos maiores à vista", afirma.


Atualmente, o mercado imobiliário está desaquecido e fica mais fácil negociar melhores condições em relação aos aluguéis, acrescenta Marcelo Scharra, consultor de gestão da Inside Business Design. É o momento de tornar os processos mais eficientes e verificar o rendimento das equipes, ressaltam os consultores. Em diversos casos, não é necessário demitir. Alterações de cargos ou transferências de funcionários entre departamentos podem melhorar o desempenho das equipes.


Porém, além do corte de despesas é necessário trabalhar com novas estratégias de ganhos. "Se o empresário continua fazendo o que sempre faz, com a mudança de cenário, pode não dar resultado. Ele deve repensar e criar novas alternativas de receita", conclui Scharra.



Negociar com fornecedores é saída para crise

Por Daniela Rocha | De São Paulo



Janaína Rigo, da NTW Contabilidade: recursos próprios para abrir franquia


Para crescer, a Amiste Café, rede de franquias especializada na locação de máquinas de café, negociou melhores condições com seus fornecedores.


"Hoje trabalhamos apenas com as possibilidades de parcelamento oferecidas pelos nossos fornecedores de máquinas. Negociamos prazos maiores, que passaram de 3 a 4 vezes para até 10 vezes, assim como, descontos mais agressivos para os pagamentos à vista", afirma Eduardo Vicente, diretor de expansão da Amiste Café. Essa foi a solução encontrada.


Primeiramente, Vicente procurou linhas de financiamento específicas para franquias mas não conseguiu aprovação dos bancos porque exigiam número maior de lojas em operação e haviam outros critérios não condizentes com redes novas.


A marca tentou recorrer à linha do BNDES, no entanto, não foi possível por conta da exigência de 50% de conteúdo nacional e as máquinas de café são importadas. A Amiste Café procurou outras linhas nos bancos, no entanto, as taxas oferecidas estavam acima de 2% ao mês. "Essas taxas são pouco competitivas", comenta o diretor.


A Amiste Café é uma rede de capital intensivo - cada máquina de café custa de R$ 1.500 a R$ 12 mil. No entanto, segundo Vicente, o negócio apresenta altas margens líquidas de até 25% e garantias, uma vez que os contratos de aluguel de máquinas são de 12 meses, não dependendo somente da comercialização dos insumos. A dificuldade de acesso ao crédito reduz o universo de potenciais investidores porque eles devem ter volume maior de capital próprio. "Hoje exigimos que eles tenham de R$ 250 mil a R$ 350 mil, mas se contássemos com uma linha de financiamento competitiva, poderíamos exigir de R$ 150 mil a R$ 250 mil, aumentando o leque de pessoas capacitadas", diz. Com sede em Londrina (PR), a Amiste Café conta com seis unidades.


Com seis lojas próprias especializadas em bolos caseiros, a marca Vó, quero bolo! está iniciando sua expansão por franquias. Em breve, três unidades serão inauguradas, sendo duas na cidade de São Paulo e outra em Campinas (SP). "Quanto às linhas de crédito para fomentar o franchising, não conseguimos firmar parceria com bancos para ajudar os franqueados", diz Willians Navarro, franqueador.


Para as lojas próprias, Navarro precisou de capital de giro para atravessar o período de sazonalidade do negócio no início do ano e teve dificuldades. As taxas estavam muito altas e algumas linhas que antes não exigiam garantias haviam sido cortadas. A saída foi usar reservas próprias. "Mas em uma gestão saudável seria interessante balancear os recursos próprios e os de terceiros", comenta. No começo do ano, ele acessou linha do BNDES para adquirir equipamentos. "Mas ressalto que só tivemos acesso ao BNDES quando o grupo tinha mais de cinco lojas", afirma Navarro.


A empresária Janaína Codo Rigo, abriu uma franquia da NTW Contabilidade em Ribeirão Preto (SP) em junho de 2014. Ao tentar capital de giro em novembro, teve negativa dos bancos por ser uma empresa iniciante. "Como trabalho à noite, dou aulas, eu coloquei parte do meu salário como empréstimo para a empresa todo mês", comenta a sócia-diretora da unidade da NTW. Ela também tentou no final do ano passado o cartão BNDES para a compra de computadores, servidor e projetores e não conseguiu. "Demonstrei a projeções e o planejamento estratégico do negócio mas não foi suficiente. Para uma empresa que está começando é difícil apresentar faturamento expressivo", destaca.


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