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Valor Online ( Brasil ) - SP - Brasil - 28-05-2015 - 09:37 -   Notícia original Link para notícia
Queda do PIB no 1º tri atingiu mais setores, dizem analistas

Até então mais concentrado na indústria e nos investimentos, o desempenho pífio da atividade ficou evidente em outros setores no primeiro trimestre, com o endurecimento da política econômica no início do segundo mandato do governo Dilma Rousseff. De acordo com a média das projeções de 20 instituições financeiras e consultorias ouvidos pelo Valor Data, o Produto Interno Bruto (PIB) caiu 0,5% entre janeiro e março sobre os três meses anteriores, com ajuste sazonal, depois de ter subido 0,3% no último trimestre de 2014.


As previsões para as Contas Nacionais Trimestrais, a serem divulgadas amanhã pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), variam entre queda de 0,1% a retração de 1% no período.


Para economistas, o baque sentido pelo mercado de trabalho deve ter levado o consumo das famílias a cair no trimestre, o que também derrubou a demanda por serviços. A indústria continuou a afundar, dizem, e nem mesmo a desvalorização da taxa de câmbio deve ter dado algum alento à economia, apesar da melhora esperada para o setor externo. Como essas condições não se alteraram no início do segundo trimestre, a avaliação é que a atividade ainda não bateu no fundo do poço e a estimativa preliminar é de queda de 0,8% do PIB entre abril e junho.



Segundo Flávio Serrano, economista-sênior do Besi Brasil, a perda de ritmo da atividade foi mais disseminada neste início de ano e chegou ao emprego, que há pouco tempo ainda não respondia ao enfraquecimento da economia. Esse espalhamento, diz Serrano, teve reflexos na demanda doméstica - soma do consumo das famílias, do governo e dos investimentos -, que deve ter recuado mais do que o PIB total no primeiro trimestre. "Isso faz parte do ajuste. Estamos reequilibrando a economia", afirma ele, para quem o produto encolheu 0,5% entre janeiro e março.


Para o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), não restam dúvidas de que o ajuste fiscal e monetário vem conseguindo esfriar a economia além do que já vinha ocorrendo nos últimos meses de 2014, mas esse processo ainda não chegou ao fim. Os economistas Silvia Matos e Vinícius Botelho estimam que o PIB recuou 0,1% entre o quarto trimestre do ano passado e o primeiro deste ano e destacam que, no período, o setor com pior desempenho pelo lado da oferta foi o de serviços, e não a indústria.


Enquanto o PIB industrial diminuiu 0,3% de janeiro a março nos cálculos do Ibre, a queda nos serviços foi de 0,5%, com desaquecimento em cinco dos sete subsetores que compõem esse ramo de atividade. Segundo Silvia e Botelho, os segmentos de transporte, comércio e outros serviços são mais sensíveis ao ciclo econômico, e indicadores como as pesquisas de serviços e emprego do IBGE mostram deterioração no primeiro trimestre. No segmento de transporte, por exemplo, a retração esperada pelos analistas é de 2,4%.


Já Leandro Padulla, da MCM Consultores, avalia que o comportamento negativo da indústria deve ter se acentuado no início do ano, apesar do aumento da produção extrativa. Em seus cálculos, o recuo do setor industrial foi de 0,9% nos três meses encerrados em março, influenciado principalmente pelo tombo de 2,4% estimado para a transformação. "O efeito da mudança da política fiscal e do 'realismo tarifário' é contracionista no curto prazo, o que continuará afetando a indústria via custos, uma vez que será difícil repassá-los ao consumidor em um ambiente de demanda fraca".


O economista também observa que a perspectiva para o PIB da construção, que compõe a atividade industrial e deve ter encolhido 1,9% no primeiro trimestre, é ruim, com previsão de queda em ao menos mais um trimestre. "A menor disponibilidade de crédito, em contexto de custo mais alto, será um fator limitante para o segmento neste ano."


Do lado da oferta, o único componente do PIB que cresceu nos três primeiros meses do ano é a agropecuária, que, de acordo com a estimativa média de nove analistas, avançou 1,1% sobre o trimestre anterior. Serrano, que trabalha com alta de 0,4% para o setor agropecuário, afirma que o segmento é dinâmico e tem acumulado ganhos de produtividade nos últimos anos, ao contrário do restante da economia.


Pela ótica da demanda, a avaliação é que a confiança muito reduzida de empresários e de consumidores derrubou os investimentos e o consumo. Nos cálculos do Itaú, a demanda das famílias recuou 1,6% no primeiro trimestre, pior resultado desse componente do PIB desde o quarto trimestre de 2008. Para o economista Felipe Salles, a queda da renda real, provocada pela redução da ocupação e inflação elevada no primeiro trimestre, explicam em boa parte a retração forte do consumo.


Com crédito mais escasso, crise na construção civil e estoques ainda elevados, o ânimo dos empresários para investir segue baixo. Para nove economistas ouvidos pelo Valor Data, esse deve ser o sétimo trimestre seguido de queda da Formação Bruta de Capital Fixo, com retração de 2,8% entre janeiro e março.


Por outro lado, a desvalorização do câmbio já deve mostrar influência sobre o setor externo, que a partir de agora tende a dar contribuição mais positiva para o crescimento da atividade econômica. O Itaú estima crescimento de 6,2% para as exportações, mais forte do que o aumento de 3% esperado para as importações, sempre em relação ao último trimestre de 2014.


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