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Valor Online ( Finanças ) - SP - Brasil - 28-05-2015 - 09:20 -   Notícia original Link para notícia
Inadimplência piora e juros sobem em abril

Por Felipe Marques, Eduardo Campos e Alex Ribeiro | De São Paulo e Brasília


Os indicadores de inadimplência das operações de crédito, em especial na pessoa jurídica, deram claro sinal de alerta em abril. Houve piora generalizada nas taxa de calotes das diferentes modalidades, com raras exceções entre as linhas monitoradas pelo Banco Central (BC). A percepção mais acentuada de risco também ajuda a explicar a elevação das taxas de juros observada no mês passado, em especial nas linhas de crédito emergenciais (cartão e cheque especial), em que a chance de perda é maior que a média.


A taxa de inadimplência, incluindo empresas e famílias, subiu de 2,8% para 3% entre março e abril. No ano passado, a taxa chegou a bater nos 3% em maio, mas recuou nos meses seguintes. Os dados de abril foram interpretados por economistas como uma mostra do que está por vir, embora o chefe do Departamento Econômico do BC, Túlio Maciel, defenda que é preciso aguardar mais dados para ver se há alguma persistência na alta da inadimplência.



"Os dados de abril reforçam nossa visão mais negativa de indicadores de crédito e da trajetória das taxas de inadimplência nos próximos meses", escrevem os analistas do Credit Suisse em relatório. Na visão do banco, os atrasos nas operações com recursos livres - que incluem crédito pessoal, cheque especial, e capital de giro - tendem a subir.


Chama a atenção a deterioração da qualidade de crédito de algumas linhas em abril, na comparação com mês anterior, tanto na pessoa jurídica como na física. Nas empresas, houve aumento em modalidades como desconto de duplicatas (3,4% para 3,6%), cheque especial (14,3% para 14,8%) e até mesmo financiamento imobiliário (0,5% para 1%) e financiamentos do BNDES (de 0,5% para 0,6%). A taxa de atrasos do capital de giro com prazo abaixo de 365 dias subiu 1,2 ponto percentual em relação a março, para 5,2%.


"A situação da pessoa jurídica tende a ser pior que a da pessoa física neste ano", afirma Nicola Tingas, economista da Acrefi, associação que reúne financeiras. "A inadimplência deve subir mais, o ciclo econômico ainda não está plenamente refletido no indicador".


Na pessoa física, os calotes subiram particularmente no cheque especial (12,8% para 13,4%) e no rotativo do cartão de crédito (34,1% para 34,7%). Nessas duas linhas houve também um avanço nos juros cobrados dos tomadores. A taxa do cheque especial aumentou de 220,4% ao ano em março para 226% em abril. No rotativo do cartão de crédito, de 345,8% para 347,5% no mesmo período.


"Notamos que os bancos continuaram a aumentar os spreads das operações de crédito (especialmente em linhas de crédito rotativo), provavelmente evidenciando a necessidade de mitigar as forças de oposição que podem vir tanto no front da qualidade de ativos como no regulatório", escrevem os analistas do Credit Suisse. Em abril, o spread médio das operações subiu 0,6 ponto ante março e os juros em 0,5 ponto percentual.


A deterioração da inadimplência e o encarecimento do crédito em abril são respostas à piora de um indicador umbilicalmente ligado ao crédito: o desemprego. O número de demissões líquidas registradas em abril - 97,8 mil - foi o pior resultado desde 1992 e mostrou uma aceleração na tendência dos cortes de vagas, que ocorreram de forma generalizada entre os setores da economia. Os dados são do Ministério do Trabalho.


No campo das empresas, além de aumento de inadimplência houve também piora na composição do crescimento do crédito. O estoque de crédito recuou 0,4% em abril na comparação com março, para R$ 1,614 trilhão. Porém, o saldo de operações de conta garantida cresceu 4,2% no mês, para R$ 46,7 bilhões. O estoque de cheque especial subiu 3,2%, para R$ 16 bilhões. Ou seja, juntos, os saldos dessas duas linhas avançou R$ 2,36 bilhões. Já o saldo do capital de giro, principal linha de crédito corporativo, cresceu 0,2%, a R$ 387,17 bilhões, um acréscimo de R$ 795 milhões no estoque.


Crédito arrefece com aperto monetário e freio em oferta e demanda



Por Alex Ribeiro e Eduardo Campos | De BrasíliaMaciel, do BC: ritmo menor é consistente com o ciclo de política monetária e com pesquisa de demanda de crédito


O volume de crédito do sistema financeiro ficou praticamente estável em abril, refletindo o aperto monetário promovido pelo Banco Central (BC) e o pouco apetite dos bancos para emprestar e dos clientes para se endividar, em mais um sinal de desaquecimento da economia.


Estatísticas divulgadas pelo BC mostram avanço de apenas 0,1% no crédito bancário na comparação com março, desempenho bem mais fraco que o crescimento de 0,7% observado em igual período do ano passado. Com isso, o ritmo de crescimento do crédito em 12 meses recuou de 11,1% para 10,5% entre março e abril, caindo pela primeira vez abaixo da expansão de 11% projetada pelo BC para o ano-calendário.


O chefe do Departamento Econômico do BC, Túlio Maciel, disse que a desaceleração do crédito não se deve a nenhum fator sazonal. "Esse crescimento em ritmo menor é consistente com o ciclo de política monetária, com a alta de juros, e com a pesquisa de condições de crédito do BC, que apontava condições mais restritivas do lado da demanda e da oferta", afirmou.


Em decorrência do aperto monetário, os juros médios cobrados pelos bancos para emprestar para pessoas físicas nas operações com recursos livres subiu de 54,4% para 56,1% ao ano entre março e abril, atingindo o maior percentual na atual série histórica de dados, que começa em março de 2011. Os juros médios do sistema como um todo para essa clientela subiram de 33,2% para 32,9% ao ano.


A mais recente pesquisa de condições de crédito feita pelo Banco Central apontou dados negativos tanto para oferta de crédito pelos bancos quanto para a demanda. No caso das grandes empresas, por exemplo, o indicador ficou negativo em 1,13 em uma escala com valor máximo em menos 2, refletindo a pouco disposição dos bancos em empresar. No crédito ao consumo, a demanda por clientes ficou negativa em 0,57, mostrando a resistência das famílias em se endividar.


O crédito como proporção do Produto Interno Bruto (PIB) caiu de 54,8% em março para 54,5% em abril, já que o volume emprestado avançou menos que a inflação no período. O estoque de crédito bancário na economia estava em R$ 3,061 trilhões ao fim de abril.


Maciel ponderou que pelo menos uma parte do fraco crescimento do crédito em abril se deve a fatores puramente estatísticos. A queda da cotação do dólar ocorrida em abril reduziu o valor nominal dos empréstimos denominados em moeda estrangeira, como algumas linhas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e alguns repasses de recursos externos. Segundo estimativas do BC, se não fosse o efeito cambial, o estoque de crédito teria crescido algo como 0,3% ou 0,4% em abril, em vez de 0,1% - ainda assim, num ritmo bem mais fraco do que o observado em abril de 2014.


Apesar dos sinais de debilidade do mercado de crédito, os financiamentos imobiliários seguiram um ritmo robusto em abril, com elevação de 1,9% em relação a março. Nos dados acumulados em 12 meses, a taxa de expansão recuou levemente, de 26,5% para 26,3%, entre março e abril.


O desempenho relativamente favorável surpreende porque, recentemente, o setor imobiliário passou a reclamar da pouca disponibilidade de crédito em função da queda do volume de recursos depositados na caderneta de poupança, cobrando medidas como a liberação de depósitos compulsórios para fomentar o crédito dirigido ao setor.


O crédito é um dos fatores de sustentação do consumo das famílias neste ano - uma parte importante da demanda agregada - sempre citados pelo Banco Central, ao lado dos ganhos reais de salários. Na semana passada, dados do Caged mostraram uma desaceleração mais forte que a esperada pelos analistas no mercado de trabalho em abril, e agora os dados do BC apontam que o volume de crédito vem se expandindo abaixo das expectativas.


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