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O Globo Online (RJ) ( Economia ) - RJ - Brasil - 26-05-2015 - 10:08 -   Notícia original Link para notícia
Na crise, todo dia é dia de liquidação no comércio brasileiro

Descontos estão por toda parte mas, com orçamento apertado, consumidor continua achando tudo caro


Com a economia desaquecida, aperto no orçamento e vendas em queda, agora todo dia é dia de liquidação no comércio. Depois um Dia das Mães - tradicionalmente a segunda melhor data do varejo, depois do Natal - decepcionante, muitas lojas têm aderido a promoções fora de época para queimar os estoques altos e melhorar seu fluxo de caixa. Nos shoppings e no comércio de rua do Rio não faltam anúncios de promoções, antes concentradas nos meses de janeiro e junho. Shoppings como Rio Sul, Botafogo Praia Shopping, Nova América e Shopping Boulevard desistiram de suas liquidações tradicionais para que os lojistas possam fazer a queima de estoques na hora que bem entenderem.


Cartazes anunciam promoções que tentam, mas não conseguem atrair os consumidores para dentro das lojas


- Quando há crise, as promoções institucionais deixam de existir. Como a intenção de compra do consumidor anda em baixa, os lojistas se veem na obrigação de trabalhar seus estoques no sentido da capitalização. Então os shoppings não conseguem juntá-las para fazer na mesma data - diz Luis Augusto Ildefonso, diretor de Relações Institucionais da Associação Brasileira de Lojistas de Shopping.


O rol de varejistas com promoções é amplo: a Lojas Americanas e a Leader Magazine, por exemplo, estão com um saldão de até 60% de descontos. Em seu site, a Casas Bahia anuncia a promoção "Sinal Azul", na qual os produtos podem estar até 60% mais baratos. Também no comércio eletrônico, a Casa & Vídeo faz uma "Super Baixa" de até 80%. Insinuante, Ponto Frio, Euro Colchões, Tele-Rio, Toque a Campainha, Dartigny, Abra Cadabra, Óticas do Povo, Banco de Areia e MMartan são algumas das lojas que também oferecem descontos.


Não é por acaso. Pela primeira vez em 13 anos, as vendas no Dia das Mães foram menores do que as do ano anterior. Segundo a Serasa, a queda foi de 2,6%, a primeira da série do indicador, inciada em 2003.


- O Dia das Mães não foi o que se esperava. As empresas compraram menos mas, mesmo assim, não chegaram a acabar com os estoques. Se a varejista não aproveita para fazer uma grande venda importante, nos outros meses, ela sofre - explica o consultor de varejo Ulysses Reis.


PIOR DO QUE NA CRISE DE 2008


Economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Fábio Bentes destaca que, embora a inflação acumulada em 12 meses esteja em 8,17%, a inflação em alguns grupos do varejo está perdendo a força. É o caso de vestuário, cuja variação em um ano foi de 3,6%:


- Nem a crise de 2008 foi tão nociva ao varejo quanto essa de 2015, e as promoções são uma tentativa de salvar este ano. O comércio fica num estado de liquidação para evitar ou limitar perdas, já que o orçamento das famílias está pressionado por preços que varejo não controla, como o dos administrados (energia, água) - diz.


Apesar das promoções, poucas são as lojas que conseguem atrair aglomerações. E aqueles interessados em "só dar uma olhadinha". Num passeio pelo comércio, o que se percebe é que as lojas mais populares, como as de departamento, têm mais gente, enquanto as grifes andam esvaziadas. O secretário parlamentar Rodrigo Almeida, por exemplo, saiu de uma loja de esportes com um tênis, mas afirma que a compra foi por necessidade:


- Só comprei porque estava precisando mesmo. Os preços estão muito altos, mesmo quando há promoções, elas não empolgam como antes, não dão uma sensação de desconto real.


Fátima Almeida, mãe de Rodrigo, concorda com o filho. Aposentada, ela conta que sente mais o peso dos produtos no bolso na compra de alimentos, mas que o comércio como um todo tem preços pouco atrativos:


- O cenário é muito ruim. Você vê que nos shoppings não tem ninguém. Algumas lojas estão passando ponto ou até fechando. O brasileiro anda mais cuidadoso mesmo, até porque o crédito anda muito alto, então vale mais a pena tentar pechinchar e pagar à vista.


Renato Cohen, diretor da Mercatto, diz que embora o ano esteja sendo difícil para as varejistas como um todo, na crise, a rede se beneficia da migração de classes mais altas buscando produtos mais baratos. Nas lojas das rede, várias peças estão com desconto de 30%.


- Este ano está sendo complicado para o varejo, e a venda acaba vindo no mínimo - diz


Se o excesso de promoções faz o consumidor desconfiar se de fato há desconto, os economistas avaliam que esta parece ser a única arma do setor. Segundo o IBGE, as vendas no varejo brasileiro registram em 2015 a maior queda em 12 anos.


- É para melhorar fluxo de caixa das empresas, não é para aumentar faturamento. As empresas precisam que o dinheiro entre para para as contas. Claro que eles não gostam, porque isso prejudica a margem, mas não é por oportunidade, é uma necessidade. Nós estamos numa espiral descendente - diz o consultor de varejo da Acomp Antônio César Carvalho de Oliveira.



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