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Valor Online ( Brasil ) - SP - Brasil - 22-05-2015 - 09:32 -   Notícia original Link para notícia
Queda da renda empurra mais gente para o mercado e eleva o desemprego

A rápida queda da renda domiciliar per capita nos últimos meses, de quase 6% desde novembro, fez com que mais pessoas voltassem a procurar um emprego, de acordo com dados da Pesquisa Mensal do Emprego (PME) do IBGE. Como o mercado de trabalho está desaquecido, a dificuldade para achar uma vaga levou a desocupação a subir para 6,4% nas seis principais regiões metropolitanas em abril, alta de 1,5 ponto percentual em relação a igual período de 2014.


Mesmo aqueles que conseguem ocupação encontram condições mais precárias de trabalho. O estoque de postos com carteira assinada caiu 1,9% no mês passado, enquanto o contingente ocupado no serviço doméstico subiu 1,82%, revertendo tendência de redução desde 2010.



A ocupação como um todo caiu 0,7% em abril na comparação com o mesmo mês de 2014. Ao mesmo tempo, a População Economicamente Ativa (PEA) aumentou 0,9%. Sem oferta de vagas para acomodar essas pessoas, o número de desocupados subiu 32,7% na comparação.


Segundo a técnica do IBGE Adriana Beringuy, essa foi a maior variação percentual da população desocupada em toda a série histórica, que começa em 2002. Entre abril de 2014 e o mesmo mês deste ano, 384 mil pessoas entraram nesse grupo.


Para Emerson Marçal, Coordenador do Centro de Macroeconomia Aplicada (Cemap) da Fundação Getulio Vargas de São Paulo, o aumento do número de desempregados é preocupante porque reflete o desaquecimento da atividade econômica e sugere mais esfriamento da economia depois de um primeiro trimestre bastante fraco. "O número de vagas que está sendo cortado é relevante e, por enquanto, não há sinais de que esse ajuste esteja no fim", diz.


Para Fábio Romão, economista da LCA Consultores, o aumento das demissões e a queda da renda real, de 2,9% no período, estão "empurrando" quem estava fora do mercado de trabalho a voltar a procurar uma vaga para complementar o rendimento da família.


As condições atuais do mercado de trabalho também estão provocando mudanças na qualidade dos empregos ofertados, reforçando o deslocamento de vagas dos setores mais produtivos para os menos. A população ocupada na indústria encolheu 6% entre janeiro e abril deste ano ante igual período de 2014, enquanto, na construção, 4% das vagas foram cortadas. "Quem saiu da indústria tenta se recolocar no mesmo setor, mas nem sempre consegue e passa a procurar no comércio, por exemplo", comenta o economista.


Nesse ramo de atividade, a ocupação, que havia encolhido 0,6% nos primeiros quatro meses de 2014, subiu 0,5% em igual período de 2015. No setor de serviços, a ocupação ficou praticamente estável no período, ao passar de um aumento de 0,8% para alta de 0,7%.


Um dado que chama atenção, diz Romão, e denota a precarização crescente do mercado de trabalho, é o aumento da população empregada em serviços domésticos. Desde 2011, esse contingente vinha encolhendo, mas entre janeiro e abril deste ano, as pessoas ocupadas por esse serviço aumentaram 3,7%. "A impressão que temos é que aquela pessoa que estava trabalhando no comércio, porque havia conseguido deixar o serviço doméstico, agora volta, por falta de opção", comenta.


Também tem caído o número de trabalhadores com carteira assinada, outro sinal de que, com a dificuldade em conseguir emprego formal, as pessoas têm aceitado "bicos". Em abril, a formalização caiu 1,9%.


Para José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, além da redução do emprego formal, sinal evidente de deterioração do mercado de trabalho, a desaceleração mostrada pelas "Outras atividades" também indica que a piora é generalizada. Os empregados pelo segmento caíram 16,7% em abril. "Isso só aconteceu na recessão de 2009. A piora está difundida entre os vários setores da economia", diz Gonçalves, até porque o comércio e os serviços ainda devem refletir a desaceleração mais recente da renda. A massa de renda real habitualmente recebida caiu 3,8% em abril.


Para o Bradesco, os sinais evidentes de enfraquecimento do mercado de trabalho têm como contrapartida a perspectiva de arrefecimento da inflação de serviços nos trimestres à frente. Não apenas a renda real caiu por causa da inflação de mais de 8% acumulada em 12 meses, mas há evidências de perda de força da renda nominal. No mês passado, esse indicador subiu 5,4% na comparação com abril de 2014, reforçando a desaceleração ocorrida desde janeiro, quando a alta havia sido de 9,3%. Para o banco, a moderação do rendimento deve se traduzir em menor pressão nos preços de serviços.


Para Gonçalves, a relação não é, necessariamente, tão direta. "A resistência de preços nesse setor é muito grande e nem sempre uma queda na quantidade consumida se traduz em redução de preço". Nos serviços, sobretudo nos de maior poder de mercado, é possível que alguns empreendimentos não sobrevivam, mas os preços continuem altos, diz.


País já acumula 500 mil novos desempregados desde janeiro


A trajetória de desaceleração continua no mercado de trabalho e combina, cada vez mais, queda no emprego e perda de renda real. Nas seis regiões metropolitanas pesquisadas pelo IBGE, mais de 500 mil pessoas engrossaram a fila do desemprego no primeiro quadrimestre, movimento muito mais forte que o sazonal para o período e que representa aumento de 50% nesse contingente. Junto com isso, o rendimento médio real caiu pelo terceiro mês consecutivo, período em que acumula retração de 4,6%.


Os dois movimentos são fora do padrão. É normal um aumento do desemprego até março ou abril de cada ano, mas em 2014, por exemplo, ele atingiu 110 mil pessoas nos primeiros quatro meses. Pelo lado da renda, a última vez em que houve queda nessa proporção em período tão curto de tempo foi em 2003. Nem na crise de 2009 isso aconteceu: a queda acumulada foi de 2,1% ao longo de quatro meses.


Por enquanto, o desemprego nas grandes regiões metropolitanas é industrial e de trabalhadores com carteira assinada, e tem sido atenuado pela volta da ocupação por conta própria e de empregados domésticos. Junto com isso, perdeu força o movimento de pessoas que decidiam ficar fora do mercado de trabalho. Desde dezembro, 46 mil pessoas que estavam fora do mercado, voltaram. Na comparação com abril do ano passado, 70 mil pessoas decidiram ficar inativas. Um ano antes, entre abril de 2013 e 2014, esse número foi muitíssimo maior: 772 mil pessoas fizeram essa opção.


A queda na renda, o desemprego de alguém da família e a própria percepção de que o mercado de trabalho fica mais difícil devem levar um número crescente de pessoas que estavam paradas a procurar uma vaga, movimento que vai elevar ainda mais a taxa de desemprego. Infelizmente, parece que estamos no começo desse processo. Quem olha para a inflação, contudo, pode "gostar" desse quadro, por mais absurdo que pareça essa torcida. Aumento do desemprego e queda na renda sugerem recuo da taxa no futuro.


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