Leitura de notícia
O Globo Online (RJ) ( Economia ) - RJ - Brasil - 17-05-2015 - 11:47 -   Notícia original Link para notícia
Dólar alto dá 'empurrãozinho' a setores que perderam espaço

Vendas ao exterior de brinquedos, carnes e bebidas ganham fôlego extra


Afetada fortemente pela crise econômica, a indústria brasileira tenta uma estratégia para voltar a crescer e se agarra à moeda americana, que anda em alta, para compensar a falta de competitividade. A valorização do dólar frente ao real, que começou em meados do ano passado, incentivou a retomada das exportações, favoreceu investimentos, adiou demissões e até forçou contratações em alguns setores. Assim, o câmbio começa a amenizar o quadro de desindustrialização. Seja porque o produto brasileiro ficou mais barato lá fora ou porque o importado ficou caro e a indústria tem a oportunidade de recuperar o mercado interno.


Meta. Showroom da Estrela: setor quer ganhar espaço ocupado por chineses


O setor de brinquedos é um exemplo. Este ano, a estimativa é recuperar 1,5 ponto percentual dos 45% do consumo nacional que estão nas mãos dos chineses. O número pode parecer pequeno, mas não é: significa R$ 142 milhões de faturamento ou o trabalho de duas grandes fábricas com 180 funcionários cada uma, por um ano inteiro. A aposta é em brinquedos com a cara do Brasil. Segundo fontes do setor, fenômenos como Galinha Pintadinha vendem mais que produtos da Disney por aqui. Patati Patatá também é campeão de vendas. E a clássica Turma da Mônica já encanta crianças chinesas e de Hong Kong.


- Eu preciso expulsar o chinês, que tomou nosso mercado. A indústria nacional quer de volta (o mercado interno) - afirma Synésio Batista da Costa, presidente da Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos (Abrinq).


CUSTO BRASIL


A tarefa não é fácil: os brinquedos chineses são, em média, 45% mais baratos que os nacionais, não apenas pelo câmbio, mas por todo o custo Brasil embutido nos produtos. O dólar alto ajuda, mas o impacto no setor só será realmente visto a partir de junho, quando as feiras internacionais de compras de varejistas começarem. A aposta é de aumento não só pelas vendas lá fora, mas pela queda nas importações. Segundo o presidente da Estrela, Carlos Tilkian, a empresa deve comprar 25% de brinquedos de outros países neste ano. Em 2014, importou 35% do estoque. Mesmo assim, não comemora:


- O câmbio dá um alívio, mas a produção nacional é punida por outros fatores: impacto brutal do custo da energia e do frete com o reajuste dos combustíveis e o aumento da carga tributária. O setor de brinquedos corre o risco de perder o benefício da desoneração da folha. Estamos bastante preocupados.


Apesar dos problemas, empresas que já trilhavam o caminho da internacionalização aceleraram projetos estimuladas pelo câmbio. É o caso do empresário Sebastião Adorno, de Brasília. Em 2008, ele criou a Flex Deck para exportar placas de madeira aos EUA. Com a crise global, a saída foi voltarse ao mercado interno. Tudo ia


bem até 2013, quando a desaceleração da economia brasileira forçou a retomada dos projetos de exportação, mesmo com o câmbio desfavorável, para compensar a queda de 70% nas vendas no país.


Com a recente alta do dólar, a Flex Deck passou a exportar para todos os estados americanos e para o Canadá. No ano passado, começaram os embarques para a Arábia Saudita. O faturamento chegou a US$ 1,8 milhão. Depois, expandiu os negócios para a Rússia, China, Emirados Árabes e Catar. Só neste ano, as vendas somaram US$ 2 milhões. Mesmo assim, por causa do mercado interno em baixa, Adorno teve que demitir 19 funcionários.


- Se não fosse o mercado externo, teria fechado a empresa - afirma Adorno.


- Algumas empresas mantiveram exportações até não lucrativas para continuar presentes no mercado. Para essas é mais fácil reagir. Para as que abandonaram o mercado mundial leva mais tempo. Mas o empresário brasileiro é pragmático e a resposta pode ser mais rápida do que a gente pensa - diz o gerente-executivo da Unidade de Política Econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Flávio Castelo Branco.


EFEITO DE COMPENSAÇÃO


No caso dos exportadores de commodities, o refresco causado pelo câmbio é ainda mais importante em razão da queda dos preços dos produtos no mercado internacional. A venda do café especial da fábrica mineira Carmo Café cresceu 60% no ano na comparação com o mesmo período do ano passado, informa o dono, Luiz Paulo Dias Pereira Filho. A empresa conquistou novos mercados, como Taiwan e Austrália, e elevou as vendas ao Japão em 30% e aos EUA, em 40%.


- O preço internacional do café está muito baixo, mas não está no sinal vermelho. E com o dólar mais alto, somos mais competitivos lá fora - destaca.


As exportações de serviços pegaram carona na esteira da alta do dólar. Nos últimos 12 meses, os brasileiros exportaram US$ 5 milhões em design para países como Estados Unidos, Peru, Colômbia e México.


- Design é a principal forma de aumentar exportação porque é por ele que as empresas agregam valor aos seus produtos - frisou o presidente da Abedesign, Andre Poppovic.


No setor de carnes, o benefício do câmbio também foi sentido. A expectativa da Associação Brasileira da Indústria de Carnes (Abiec) é que a reabertura de mercados como Arábia Saudita, e a volta dos embarques para a África do Sul e Iraque contribuam para o aumento das exportações no segundo semestre.


A JBS, por exemplo, já mostra resultados. Além de estimular as exportações, o dólar ampliou as vendas nas filiais da empresa no exterior, principalmente, nos Estados Unidos. O lucro líquido do primeiro trimestre foi de R$ 1,4 bilhão: nada menos que 1.892% acima do obtido no mesmo período de 2014. Por números assim, a torcida da indústria é para que o dólar volte a aumentar e chegue ao patamar de R$ 3,30.


Câmbio encarece investimento em inovação


Cotação a R$ 3 dificulta compra de máquina e equipamento importado


Se ajuda as exportações, o dólar valorizado, na faixa dos R$ 3, encarece a inovação das empresas. Como a maior parte da inovação no Brasil, segundo o IBGE, é feita com a compra de máquinas e equipamentos importados, o dólar alto atrapalha. Assim, algumas indústrias estão montando centros de pesquisa e desenvolvimento no exterior. Com isso, driblam o câmbio e absorvem a tecnologia local, além de explorar mercados.


-É o mesmo que mandar seu filho para intercâmbio. Ele se torna mais competitivo no mercado por todo o conhecimento que absorve lá fora - explica Igor Cortez, especialista em desenvolvimento industrial da Diretoria de Inovação da Confederação Nacional da Indústria (CNI).


Para o dono do Grupo Parit, Ricardo Felizzola, a troca de tecnologia veio por meio de uma joint venture com um grupo coreano. Uma empresa foi criada só para produzir com semicondutores, um produto da cadeia de eletrônicos que faltava no Brasil:


- O Brasil não pode se tornar competitivo só por causa do dólar. Pode ajudar um pouco, mas não é fator de competitividade.


PEQUENAS USAM CRIATIVIDADE


Com a economia em crise, o dólar valorizado é um chamariz para a internacionalização de empresas. No entanto, para as pequenas empresas, que não dispõem do suporte das grandes nesse processo, a saída para exportar é a criatividade. Para se proteger das variações do câmbio, o jeitinho encontrado pelo alambique gaúcho Weber Haus foi fazer uma tabela de descontos. O cliente tem abatimento no preço do produto dependendo da cotação do dólar. E não é preciso fazer hedge (proteção cambial) para vender as premiadas cachaças no mercado externo.


- Quando o dólar aumenta, a gente converte em desconto para ele. Isso dá mais confiabilidade. Como tenho o acordo com meus clientes, não preciso disso ( hedge). A gente trabalha com a tabela aberta. Aí, a crise não chega tão rápido - diz Evandro Weber.


Com o dólar favorável, as exportações cresceram 5% nos primeiros meses de 2015, em relação a igual período de 2014.


Para o presidente do Sebrae, Luiz Barretto, a disparada do dólar afeta a receita dos pequenos negócios:


- O importante é que o empresário aproveite a oportunidade gerada pela alta da competitividade de seu produto para se fixar de forma mais sustentável no mercado externo. ( Gabriela Valente)


Palavras Chave Encontradas: Criança
O conteúdo acima foi reproduzido conforme o original, com informações e opiniões de responsabilidade da fonte (veículo especificado acima).
© Copyright. Interclip - Monitoramento de Notícias. Todos os direitos reservados, 2013.