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O Globo Online (RJ) ( Economia ) - RJ - Brasil - 17-05-2015 - 11:45 -   Notícia original Link para notícia
Nem a beleza escapa do aumento de preços

Com mudança nos impostos sobre perfumaria e higiene, inflação do setor vai subir 12,5% acima da média


"O consumidor pode fazer um 'downgrade' (rebaixamento) em seu perfil de consumo, para adequar as compras ao tamanho do bolso"
João Carlos Basílio Presidente da Abihpec


Manter itens como maquiagem, esmaltes, sabonetes e cremes na lista de compras vai demandar um esforço a mais do bolso do consumidor a partir deste mês. O preço de uma seleção de produtos terá aumento médio de 12,5% acima da inflação, segundo estimativas da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec). É efeito do novo sistema de cobrança do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) no setor.


Penteadeira. Loja do segmento de perfumaria no Rio: alta de preços pode resultar em queda de vendas de 7% a 17% em itens sobre os quais incide nova forma de cobrança do IPI


O tributo passa a incidir não apenas sobre a industrialização de uma lista de itens, mas também sobre a distribuição, de acordo com o Decreto nº 8.393, publicado pelo governo federal no início deste ano.


- A medida do governo é questionável. Vai onerar o setor, com aumento dos preços para o consumidor. Isso vai trazer queda em vendas e consequente redução nos investimentos das empresas - destaca João Carlos Basílio, presidente da entidade. - Pode diminuir ainda em 200 mil as oportunidades de trabalho na área, que emprega 5,6 milhões de pessoas (direta e indiretamente) no país.


Outro reflexo da medida, diz Basílio, é criar vantagem para os importados, dispensados de recolher o tributo no segundo elo da cadeia. A mudança na tributação do setor não está descolada do desafiador cenário econômico que o país atravessa, e que vem resultando em retração no consumo em diversos segmentos. A área de perfumaria, higiene pessoal e cosméticos, contudo, não está entre as mais abatidas pela desaceleração econômica brasileira.


No ano passado, o segmento cresceu 11%, desempenho de fazer corar outros setores da indústria. Com faturamento de R$ 101,7 bilhões, o mercado brasileiro de perfumaria e cosméticos é o terceiro maior no mundo, atrás apenas de Estados Unidos e China. Esse resultado equivale a 1,8% do Produto Interno Bruto (conjunto de bens e serviços produzidos no país).


NATURA CONSEGUE LIMINAR CONTRA IMPOSTO


Será difícil repetir esse desempenho em 2015. De acordo com estudo encomendado pela Abihpec, os produtos afetados pelo novo sistema de IPI e o consequente reajuste de preços deverão ter queda de vendas entre 7% e 17% este ano.


- O consumidor pode fazer um downgrade (rebaixamento) em seu perfil de consumo, para adequar as compras ao tamanho do bolso. A alta de preços pode reduzir o número de funcionários de salões de beleza e também o número de revendedoras de produtos de beleza - estima Basílio.


A largada para a escalada de preços já foi dada. Diversas empresas reajustaram os preços de seus produtos nas prateleiras. A Granado/Phebo, por exemplo, explicou que, com a mudança no IPI, os itens de perfumaria sofreram a incidência tributária de 42%. No caso dos cosméticos, chegou a 22%. "A fim de não repassar toda a carga tributária para nossos clientes, a Granado/Phebo reajustou os preços de determinadas categorias (esmaltes e hidratantes, por exemplo) em somente 13%", informou em nota. O Perfume Phebo (100ml), por exemplo, subiu de R$ 141 para R$ 159,50.


A empresa aposta na qualidade dos produtos como chamariz para manter as vendas apesar dos ajustes. A estratégia pode funcionar parcialmente, limitada pelo teto do orçamento da clientela. A advogada Monique Ferreira, cliente da Granado, diz que não planeja deixar de comprar produtos da marca. Grávida do primeiro filho, contudo, reconhece que pode precisar fazer escolhas na hora de decidir o que levar:


- Eu gosto da qualidade do produto e pretendo comprar a linha infantil para o bebê. Se, para fazer isso, precisar deixar de comprar algo da marca para mim, é o que farei.


A Natura já anunciou dois reajustes. A empresa - que perdeu o posto de líder em participação nas vendas de higiene e beleza no país para a Unilever em 2014, segundo a Euromonitor - anunciou novo aumento de preços de 2,5% a partir de junho. Este ano, já fizera reajuste de 3,7%.


A Abihpec teme que a alta nos preços desestimule quem atua no segmento de venda direta de produtos de beleza. Só a Natura tem 1,6 milhão de consultoras. Cláudia Britto, promotora responsável por um grupo de 170 revendedoras da marca em Nova Iguaçu, acredita que as consultoras precisarão ter uma atitude cada vez mais empreendedora para garantir vendas:


- O desempenho em revendas de beleza caiu muito, no geral, por causa do cenário econômico. Mas a pronta entrega tem funcionado como garantia de boas vendas. As pessoas compram por impulso - conta ela.


Os reajustes de preço, continua Cláudia, são equilibrados por lançamentos mais acessíveis, além de promoções. Para ela, apenas as pessoas que usam a revenda como eventual complemento de renda poderiam deixar de atuar nesse mercado.


A opinião da Associação Brasileira de Empresas de Venda Direta (ABEVD) não é diferente. Roberta Kuruzu, diretora-executiva da entidade, pondera que, assim como no varejo tradicional, a crise econômica pode trazer um impacto aos revendedores. O freio no consumo, o aumento de impostos e preços podem afetar a capacidade de venda de quem revende produtos, avalia ela. Haveria, contudo, um outro lado nessa situação:


- Nesse momento de crise, haverá pessoas que vão recorrer ao segmento de venda direta para complementar a renda. Também dentro desse segmento, quem atua na área de beleza pode optar por vender outro produto que ofereça melhor margem de ganho - ponderou Roberta.


O presidente da Abihpec destaca que a situação pode resultar em saídas criativas e expansão a partir de novas soluções. Até aqui, no entanto, as estimativas de cortes de investimentos no setor começam a se confirmar.


No início deste mês, a Natura obteve uma liminar na Justiça que suspende o pagamento do IPI no segundo elo da cadeia pela empresa. Segundo a Abihpec, outras grandes companhias do setor - as mais punidas com a mudança, por contarem com braços de distribuição - estão seguindo os passos da Natura.


A L'Oréal, gigante francesa do setor de beleza, avalia recorrer a opções legais, diz Didier Tisserand, presidente da companhia no Brasil.


Ano passado, a L'Oréal dobrou o aporte no país para R$ 240 milhões. O montante inclui novos centro de pesquisa e sede administrativa no Rio, além de ampliações em linhas de produção nas duas fábricas no país. Sem esquecer da aquisição da fluminense Niely.


Em 2015, porém, os ventos sopram para outro lado:


- Diante do impacto (do IPI), o momento é de prudência. Vamos adaptar, reduzir ou atrasar investimentos - disse Tisserand.


A filial da Roger&Gallet, marca da companhia francesa, fechou as portas em Ipanema este ano. Em seu lugar, a L'Oréal pretendia abrir a primeira filial de um novo projeto, o Dermacenter, misto de centro de experimentação e loja de produtos dermocosméticos. A ideia, porém, voltou para a gaveta. A empresa alega que o projeto se tornou inviável em razão do novo IPI.


Para Luciana de Sá, diretora de desenvolvimento econômico da Firjan, o esforço do governo para sanar o deficit fiscal do país vai reduzir a competitividade da indústria nacional.


- As grandes da indústria de beleza são as mais afetadas. E a liminar obtida pela Natura, para não pagar o IPI na distribuição, abre o precedente para outras do setor.


Procurado, o Ministério da Fazenda preferiu não comentar.


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