Leitura de notícia
Valor Online ( Brasil ) - SP - Brasil - 11-05-2015 - 08:14 -   Notícia original Link para notícia
Serviços mantêm pressão sobre IPCA

Por Camilla Veras Mota | De São Paulo


Apesar da desaceleração entre março e abril, de 1,32% para 0,71%, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) não mostrou alívio na tendência de aumento dos preços neste ano. Parte importante do desempenho da inflação no mês passado veio da alta menor da energia elétrica, de 1,31%, depois de expressivos 22,08% em março. A inflação de serviços, mesmo com a recente piora do mercado de trabalho, segue alta, acima de 8% no acumulado em 12 meses, desafiando o ciclo de aperto monetário colocado em curso pelo Banco Central. E assim deve continuar pelo menos até o fim de 2015, avalia Elson Teles, economista do Itaú. Para ele, altas mais modestas nos preços da energia e a sazonalidade mais favorável devem ajudar a inflação mensal, que deve registrar altas menores. Acumulado em 12 meses, entretanto, o índice de 8,17% de abril pode chegar a 8,5% mais à frente, já que os resultados mensais, ainda que menores, devem seguir acima dos níveis do ano passado.


Valor: Os indicadores de mercado de trabalho já mostram aumento da taxa de desemprego e desaceleração da renda. Por que a inflação de serviços segue tão pressionada?


Elson Teles: Acho que essa reação é um pouco mais demorada - e se discute também que esses preços são muito voláteis, porque contam, por exemplo, com passagens aéreas. A perspectiva é que a inflação de serviços continue pressionada pelo menos até o fim do ano. A desaceleração mais significativa deve acontecer mesmo a partir de 2016, quando o índice deve capturar melhor toda essa piora do mercado de trabalho. Essa questão mercado imobiliário, com os preços dos residenciais e comerciais subindo menos, deve ajudar mais a inflação de serviços, mas acho que isso é mais defasado.


Valor: Mesmo excluindo o item passagens aéreas a inflação de serviços ainda acelerou em abril, de 8,5% para 8,65% no acumulado em 12 meses, certo?


Teles: Os serviços estão pressionados e estão sentindo ainda movimentos lá de trás. Eles estão em um processo de distensão, [a piora no mercado de trabalho] demora para bater. A energia elétrica, como subiu muito, também pode estar afetando alguns serviços. É mais uma conjectura, mas ela deve estar impactando e pode impactar durante um tempo em itens como alimentação fora do domicílio e outros setores que podem estar repassando ou têm chance de repassar. E não são só os serviços, mas outros preços livres e até mesmo alguns preços administrados. A inflação de serviços vai continuar rodando perto de 8% até o fim do ano.


Valor: O ciclo de aperto monetário então deve continuar?


Teles: A gente está rediscutindo isso, esse novo posicionamento do Banco Central. Vamos publicar nosso relatório de revisão de cenário na segunda-feira [hoje], mas acredito que sim. A estimativa para o ano era 13,5%, talvez a gente coloque mais 0,25 ou 0,50 [ponto percentual], mas ainda estamos discutindo isso. Toda a sinalização do Banco Central indica pelo menos mais um movimento de alta.


Valor: O IPCA acumulado no quadrimestre já é de 4,56%, as estimativas para o ano estão em torno de 8%. O pior já passou?


Teles: No acumulado em 12 meses ela ainda deve piorar um pouco mais. Na margem a inflação provavelmente vai desacelerar, porque a gente está entrando em um período sazonalmente mais favorável, quando os preços dos alimentos sobem menos, e porque provavelmente vai haver menor impacto dos administrados, já a maior parte desse ajuste já foi feito. A gente está com 0,55% para maio. No acumulado em 12 meses ela ainda deve piorar um pouco mais, porque os índices mensais ainda devem vir acima do que no ano passado. Hoje [sexta-feira] ela ficou em 8,17% - já passou do centro da meta, por causa dessa ação corretiva nos preços administrados -, mas pode chegar a 8,3%, 8,5%. Nossa projeção oficial para o ano era 8,2%, mas vai mudar para alguma coisa perto de 8,5%. Não em função dos dados de hoje [sexta-feira], mas das novas informações que surgiram do mês passado pra esse - entre elas o aumento dos preços das lotéricas e a proposta de reajuste da Eletropaulo, de 16%, que é maior do que o que a gente tinha na conta.


Valor: O aumento de energia está acumulado em 38% até abril. Até quanto deve subir?


Teles: Para algo perto de 50%. A conta de luz vai realmente ser o grande vilão da inflação, dos administrados e do índice como um todo.


Valor: O diagnóstico do ano é de uma inflação persistente e espraiada?


Teles: É muito difícil em uma inflação acima de 8% identificar algum dado favorável. É tudo consistente, pressionado, acelerando em 12 meses, alinhado com o índice cheio. Os núcleos estão um pouquinho mais baixos, na média perto de 7,5%, porque acabam suavizando esse impacto da inflação de administrados, que está perto de 13,5% em 12 meses. A difusão também é alta, perto de 70%. Se quisermos retirar alguma coisa positiva do dado de hoje [sexta-feira] é que ele veio em linha com o que o mercado estava esperando, até um pouquinho abaixo - não surpreendeu para cima.


Nenhuma palavra chave encontrada.
O conteúdo acima foi reproduzido conforme o original, com informações e opiniões de responsabilidade da fonte (veículo especificado acima).
© Copyright. Interclip - Monitoramento de Notícias. Todos os direitos reservados, 2013.