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Valor Online ( Brasil ) - SP - Brasil - 07-05-2015 - 08:54 -   Notícia original Link para notícia
Inflação acumulada no ano pode superar 4,5% em abril

Por Tainara Machado | De São Paulo


O choque de preços administrados no primeiro trimestre deve ter levado a inflação acumulada no ano a superar o centro da meta perseguida pelo Banco Central, de 4,5%, já em abril, estimam economistas.


De acordo com a média das projeções de 21 consultorias e instituições financeiras ouvidas pelo Valor Data, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,75% no mês passado. Embora seja quase a metade do avanço de 1,32% observado em março, ainda é uma variação superior à registrada em igual mês do ano passado, quando o índice oficial de inflação aumentou 0,67%. As projeções para a variação mensal do índice, que será divulgado amanhã pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), variam entre alta de 0,7% até aumento de 0,83%.



Além disso, como a inflação subiu mais de 1% ao mês entre janeiro e março, o IPCA deve acumular alta de 4,6% no ano até abril, caso as projeções dos economistas para o mês passado se confirmem. No acumulado em 12 meses, a inflação deve ter subido de 8,13% em março para 8,22% no mês passado.


Para Luis Otávio Leal, economista-chefe do Banco ABC Brasil, a inflação deve ter cedido ao longo de abril, principalmente por causa do aumento menor da tarifa de energia elétrica, mas esse movimento foi um pouco mais lento do que se esperava.


O IPCA-15, espécie de prévia do índice oficial, subiu 1,07% no mês passado, acima das estimativas, o que elevou as projeções para o indicador no mês, comenta.


Leal estima alta de 0,74% para o IPCA de abril. "Ainda não é um ritmo que indica tranquilidade para a inflação", afirma o economista, até porque a desaceleração deve ficar bastante concentrada em um grupo.


Em março, o grupo habitação aumentou 5,29%, principalmente por causa dos reajustes extraordinários concedidos pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que levaram a tarifa de energia elétrica a subir 22,08% naquele período. Para abril, estima Leal, a conta de luz ainda deve ficar um pouco mais cara, mas o aumento será significativamente menor, com alta esperada de 2%, enquanto o grupo habitação deve ceder para avanço de 1,18%.


Para Eduardo Velho, economista-chefe da INVX Global Partners, esse grupo deve "tirar" 0,6 ponto da inflação na passagem mensal, explicando assim parte relevante da variação do IPCA no período. A estimativa do economista é que o índice ceda de 1,32% para 0,73% entre março e abril.


Com menor pressão dos itens de habitação, os alimentos e bebidas devem ser responsáveis por cerca de um terço da inflação de 0,7% esperada para abril, com contribuição de 0,25 ponto percentual, estima a equipe macroeconômica do Itaú, em relatório.


Para Leal, do ABC Brasil, o grupo alimentação e bebidas deve ceder pouco, ao passar de 1,17% em março para 1% no mês passado, por causa de alimentos in natura, carnes, leite e derivados, que estavam desacelerando, mas voltaram a subir ao longo do último mês. Para o economista, porém, não há indícios de choque climático e esses aumentos podem estar relacionados com a greve de caminhoneiros em alguns pontos do país. "Por isso, acreditamos que a tendência é de descompressão dos preços de alimentos e bebidas ao longo de maio", diz.


Para o economista, a inflação deve subir 0,5% em maio, número levemente superior a alta de 0,46% em igual período de 2014. "Se essa taxa for anualizada, ainda é um ritmo que indica inflação próxima de 6%, 6,5% no ano", afirma Leal.


Por enquanto, diz, não existem sinais mais pronunciados de que o IPCA está perdendo força. A desaceleração da variação mensal do índice, depois de altas superiores a 1% no início do ano, é resultado do fim dos efeitos dos reajustes de administrados no primeiro trimestre, com aumentos de energia, transporte público e gasolina, e não uma mudança de tendência para a inflação. O índice de difusão (que mostra o porcentual de itens com alta no período) continua acima de 70%, mostrando que boa parte dos produtos ainda estão subindo. Por isso, Leal estima que o IPCA encerre o ano em 8,3%, mas avalia que o risco ainda é de uma surpresa para cima.


Índice da baixa renda desacelera, mas segue acima da média


Por Alessandra Saraiva | Do Rio


Embora tenha desacelerado de 1,64% para 0,74% entre março e abril, a inflação percebida por famílias de baixa renda, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor - Classe 1 (IPC-C1), permanece em trajetória desfavorável, com possibilidade de encerrar o ano acima da inflação média das demais famílias. A análise é do economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV/Ibre) André Braz.


Ele fez a avaliação ao comentar o resultado do IPC-C1 de abril, que apura a evolução de preços entre famílias com renda até 2,5 salários mínimos, anunciado ontem pela fundação. O especialista explica que, no primeiro trimestre, houve forte concentração de reajustes em preços administrados, como tarifas de água, energia elétrica e de passagem de ônibus. No entanto, o efeito desses reajustes, na inflação, não permaneceu em igual magnitude em abril, visto que seu auge já tinha sido captado pelo indicador nos meses anteriores - o que levou à desaceleração do IPC-C1 de abril. "O menor impacto dos preços administrados deram algum alívio à inflação da baixa renda", resumiu ele.


Braz comentou que o impacto da passagem de ônibus mais cara será, no entanto, mais forte nas famílias de baixa renda - nas quais esse gasto representa 10% do orçamento mensal. Por isso, a inflação acumulada em 12 meses até abril do IPC-C1 ficou em 8,57%, acima da apurada para o mesmo período no IPC-BR, de 8,41%. O IPC-BR abrange famílias de maior poder aquisitivo, com até 33 salários mínimos.


"Essa trajetória ascendente no acumulado em 12 meses IPC-C1 deve continuar até o fim do ano" disse o economista. Ele não descarta a possibilidade de a taxa anual desse indicador se posicionar acima do IPC-BR, ao final deste ano.


Para ele, o único fator que pode reduzir o avanço da inflação percebida por famílias de baixa renda é a trajetória dos preços dos alimentos, atualmente em desaceleração. Isso porque os alimentos têm peso de em torno de 40% do IPC-C1 - sendo que a inflação desse setor responde por 28% dentro do IPC-BR.


"Se isso continuar [os alimentos mais baratos] pode ser que isso contribua para um IPC-C1 menor", afirmou o economista da FGV. "Mas não há como prever se os preços dos alimentos continuarão a se comportar assim", complementou.



Setor fica pior que o esperado no 1º tri


Por Denise Neumann | De São Paulo


O resultado da indústria no mês de março foi muito ruim e sepulta qualquer esperança de que a atividade do primeiro trimestre poderia não estar tão mal quanto se pensava em função do efeito calendário. Ruins à primeira vista, os dados pioram quando desdobrados.


No primeiro trimestre, a produção da indústria foi 5,9% menor que em igual período do ano passado. No setor de transformação, contudo, a queda chegou a 7,9%. Na média, o segmento foi salvo pelo setor extrativo, leia-se Petrobras e Vale. A produção desse setor cresceu 10,9% na mesma comparação, de acordo com os dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).


Os setores extrativo, de celulose e papel e o de fabricação de produtos diversos são os únicos cuja produção de janeiro a março foi maior que em igual período do ano passado. Nos outros 23 setores, só dados negativos, com quedas muito expressivas, como a de 20,7% em veículos automotores, setor cuja produção já havia recuado no começo do ano passado.


Os dados do primeiro trimestre de 2015 aproximaram faturamento e volume físico pelo lado negativo. No ano passado, a produção encerrou o ano com queda de 4,2% e o faturamento real diminuiu 1,3%. Nos 12 meses encerrados em março, a queda na produção foi ampliada para 6,1%, mas a retração no faturamento aumentou proporcionalmente mais, chegando a 3,9%, segundo dados divulgados na terça-feira pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).


Uma série de movimentos pelo lado dos custos ajuda a explicar essa aceleração da queda da receita real da indústria. O câmbio encareceu os produtos importados (e a indústria ampliou a presença de insumos vindos do exterior ao longo dos últimos anos), a energia elétrica ficou mais cara, e o aumento da demissões tem, em um primeiro momento, um impacto mais alto no caixa das empresas em função das verbas rescisórias.


Pelo lado das receitas, o mesmo câmbio poderia ajudar o faturamento dos setores exportadores, mas o preço das commodities caiu e a demanda externa ainda é fraca. No mercado interno, o aumento do desemprego e a alta da inflação reduziram a renda disponível para o consumo em geral.


Pelos dados disponíveis na Pesquisa Mensal de Emprego (PME), do IBGE, a massa real de rendimentos ficou 8% menor em março na comparação com novembro, pico de massa salarial dos últimos meses.


Ao contrário da produção, setorialmente, o faturamento de alguns setores ainda subiu neste começo de ano, mas foram poucos casos e alguns relacionados a commodities ou preços cotados no mercado externo, como celulose e químicos.


Os dados divulgados ontem pelo IBGE referentes ao Índice de Preços ao Produtor (IPP) mostram que alguns setores reajustaram bastante os preços, um sinal de que a indústria pode tentar reduzir suas perdas por meio dos preços. Uma aposta arriscada em ano de recessão e de política apertada justamente para controlar a inflação.



Indústria encolhe há 13 meses, período que já supera queda vista no pós-crise de 2008


Por Arícia Martins e Robson Sales | De São Paulo e do Rio


A trajetória recessiva da indústria se aprofundou em março, quando a produção recuou 0,8% em relação a fevereiro, feitos os ajustes sazonais, depois de já ter diminuído 1,3% na comparação anterior - dado que foi revisado de uma queda de 0,9%. O novo resultado negativo divulgado ontem pelo IBGE na Pesquisa Industrial Mensal - Produção Física (PIM-PF) veio pior do que o esperado pelos analistas - que previam recuo de 0,3%, de acordo com as projeções colhidas pelo Valor Data - e poderia ser ainda pior não fosse o setor extrativo mineral, que avançou 0,5% no mês.


O desempenho ruim da produção se mostra também persistente. Na comparação com o mesmo mês do ano passado, a indústria encolheu 3,5%, mesmo contando com três dias úteis a mais do que março de 2013. Esse foi o 13º recuo seguido sob essa ótica, um novo recorde na série iniciada em janeiro de 2002 - a comparação com igual mês do ano anterior só começou portanto em 2003. Até então, a maior sequência de quedas eram os 12 meses entre novembro de 2008 e outubro de 2009.



Com o número de março, a atividade industrial fechou o primeiro trimestre de 2015 com retração de 2,4% ante os últimos três meses de 2014, sétima contração seguida nessa comparação, comportamento que reforçou previsões também negativas para o Produto Interno Bruto (PIB) neste início de ano (Ver análise em Setor fica pior que o esperado no 1º tri).


Em março, a retração frente a fevereiro foi espalhada em todas as categorias econômicas pesquisadas pelo IBGE e em 14 dos 24 ramos de atividade analisados, com destaque para veículos automotores, reboques e carrocerias (- 4,2%) e máquinas e equipamentos (-3,8%). "O mercado interno contribui pouco para retirar a indústria dessa situação, e o resultado está bem disseminado em termos de queda" disse André Macedo, gerente da coordenação de indústria do IBGE.


Para Rodrigo Myiamoto, do Itaú Unibanco, além do elevado nível de estoques acumulado principalmente pelos segmentos de bens de capital e bens duráveis, em linha com o enfraquecimento da demanda, alguns fatores "extraordinários" prejudicaram ainda mais a produção neste começo de ano. "Houve uma queda da confiança maior que a observada no período recente, puxada por setores específicos, como a construção civil. Os ajustes fiscais também provocaram uma demanda menor no curto prazo, o que afeta a produção."


O economista Caio Megale, também do Itaú, acrescenta que a volatilidade da taxa de câmbio foi outro ponto que influenciou negativamente a confiança do empresariado. Junto às incertezas domésticas e aos efeitos restritivos do ajuste no curto prazo, a combinação para a indústria foi muito ruim neste primeiro trimestre, diz Megale.


Um sinal adicional de fraqueza do setor vem da constatação de que, em março, a produção se situou 11,2% abaixo do pico alcançado em junho de 2013, ficando no mesmo nível de janeiro de 2007, nos cálculos de Alberto Ramos, chefe de pesquisa para América Latina do Goldman Sachs. "Isso mostra, entre outras coisas, que a política recente de desenvolvimento de campeões nacionais por meio de relaxamento do crédito, junto a benefícios fiscais a setores selecionados, regras de conteúdo nacional, acesso preferencial às compras do setor público e proteção comercial falhou", argumentou.


Na avaliação de Ramos, esse modelo não funcionou porque a inflação elevada e os ganhos salariais acima do crescimento da produtividade pressionaram os custos industriais, ao mesmo tempo em que o período de real sobrevalorizado - devido, em parte, a intervenções no mercado de câmbio - minou a competitividade externa da indústria. Como restrições a uma possível melhora nos próximos meses, o economista menciona, entre outros fatores, o acúmulo de inventários, os baixos índices de confiança, aumentos de custos com energia e impostos e a demanda externa também desaquecida.


Os primeiros indicativos para o segundo trimestre estão em linha com este cenário. Segundo Bruno Rovai, economista para Brasil do Barclays, o resultado de março ainda não foi o piso da indústria, que deve ter continuado em queda no mês passado. Em relatório, Rovai afirma que os indicadores antecedentes conhecidos até agora apontam para um período de fraqueza prolongado da atividade industrial.


São eles o Índice de Confiança da Indústria (ICI) medido pela Fundação Getulio Vargas, que atingiu em abril o menor nível da série histórica, iniciada em outubro de 2005, e a trajetória decadente do Nível de Utilização da Capacidade Instalada (Nuci) do setor, também calculado pela FGV, que passou de 80,4% para 79,9% de março para abril - mesmo patamar de julho de 2009.


Myiamoto, do Itaú, também avalia que a tendência para o segundo trimestre é de deterioração, após a esperada queda de 0,4% do PIB de janeiro a março. "Os estoques estão muitos altos e a confiança não está voltando."


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