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Valor Online ( Brasil ) - SP - Brasil - 06-05-2015 - 10:15 -   Notícia original Link para notícia
Atividade fraca acelera recuperação judicial

O esfriamento da atividade econômica no início do ano já começa a se refletir em piora da saúde financeira das empresas domésticas. Com queda de receita, aumento de custos fixos e dificuldade para obter empréstimos, os pedidos de recuperação judicial aumentaram 8,2% entre janeiro e abril, na comparação com igual período do ano anterior. Em 2014, esses requerimentos mostravam queda de 17,6% até abril. Apenas no mês passado, foram 98 pedidos, maior número para um mês desde outubro de 2013.


De acordo com dados levantados pela Serasa Experian com exclusividade para o Valor, o aumento se concentrou no comércio, com alta de 23%, e em serviços, em que o crescimento foi de 32%. Para especialistas, entre os ramos específicos de atividade econômica mais afetados pela conjuntura atual estão a construção civil e o setor de óleo e gás, com as investigações em curso envolvendo a Petrobras, além da indústria automobilística, com a queda das vendas.


Essa situação, afirmam, ainda deve piorar nos próximos meses, já que os bancos continuam seletivos na concessão de crédito, o custo dos empréstimos está aumentando e a inadimplência ainda deve subir, assim como o desemprego.



Para Luiz Rabi, economista da Serasa, a crise que vem deprimindo a atividade doméstica também começa a fazer seus estragos sobre a saúde financeira das empresas. Rabi avalia que essa tendência se aprofundou no início do segundo trimestre, quando os pedidos de recuperação judicial aumentaram 11,4% e os de falência, 23,9%. Entre janeiro e abril, as recuperações subiram 8,2%, enquanto as falências caíram 6,3%.


"São dois os indicadores que afetam a solvência das empresas: atividade econômica e custo do crédito, e neste ano tivemos uma combinação ruim", comenta Rabi. Por um lado, a fraqueza das vendas e o aumento de custos fixos, com alta das tarifas de energia, por exemplo, pioraram o fluxo de caixa das empresas. Por outro, o custo de crédito aumentou e os empréstimos ficaram mais escassos, tanto por causa da alta da taxa básica de juros quanto pela maior seletividade dos bancos.


Rabi lembra que a demanda das empresas por empréstimos aumentou 27% no primeiro trimestre, em relação a dezembro, mas o saldo de operações para pessoa jurídica subiram apenas 1% no período, de acordo com dados da Serasa e do BC. "As empresas estão procurando tomar empréstimos e não conseguem, e quem consegue paga juros mais altos", comenta.


O cenário é mais delicado no comércio. Neste setor, os pedidos de recuperação judicial aumentaram 22,9% nos primeiros quatro meses do ano. A concessão de crédito para o setor, no entanto, caiu 3,2% no primeiro trimestre, último dado disponível no BC.


Lazar Halfon, CEO da HSA Soluções, avalia que a "paralisação do mercado interno" é responsável pelo aumento dos pedidos de recuperação judicial. "Mesmo sem os efeitos da Operação Lava-Jato, o setor de construção civil já mostrava desaquecimento e redução do desemprego, o que afeta o comércio", diz. A investigação envolvendo as principais empreiteiras do país e a Petrobras agravou o cenário, diz.


Marco Aurélio Barreto, sócio da Ivix, consultoria que atua na reestruturação de empresas, comenta que a recuperação judicial de grandes empresas do setor de infraestrutura tem efeitos sobre toda a cadeia de fornecedores.


O mesmo raciocínio, diz, vale para o setor automotivo, com dificuldades enfrentadas pelos fornecedores de autopeças diante da redução de produção das montadoras com a queda de vendas. Segundo a Fenabrave, o comércio de veículos caiu 25% até abril deste ano, na comparação com igual período do ano passado. As empresas, diz, Barreto, não têm muitas alternativas além de cortar custos, com demissão de funcionários, por exemplo, e venda de ativos.


Douglas Duex, sócio da Quist Investimentos, faz a mesma análise. As empresas, que se endividaram nos últimos anos, enfrentam queda do faturamento por causa da piora na atividade econômica e agora têm dificuldades para honrar compromissos. Por isso, estão enxugando operações para se adequar à nova realidade. "As empresas ou fecham a loja menos rentável, ou uma fábrica, ou demitem".


Para esses executivos, ainda é difícil enxergar melhora do cenário, até porque a perspectiva é de aumento do desemprego, com efeito negativo sobre o consumo. Rabi, da Serasa, porém, avalia que já é possível enxergar uma luz "distante" no fim do túnel, quando os efeitos de reajuste de tarifas sobre a inflação diminuírem e o ajuste fiscal estiver mais encaminhado. "Aos poucos, as coisas estão caminhando, pode ser que tenha espaço para o BC reduzir juros em 2016. Mas no curto prazo, ainda deve piorar um pouco", afirma.


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