Demanda por carros usados no 1º trimestre aumentou somente 2,3%

Na contramão, vendas na Flex Car cresceram 40%/Alisson J. Silva

As montadoras e concessionárias de veículos novos não são as únicas que sofrem com a atual crise. Isso porque a desconfiança e o alto nível de endividamento do consumidor também afetam o mercado de carros usados. Segundo a Associação dos Revendedores de Veículos Usados de Minas Gerais (Assovemg), as vendas no primeiro trimestre deste ano registraram tímido crescimento de 2,3% na comparação com idêntico intervalo de 2014.

O presidente da Assovemg, Marlon Vieira, observa que o resultado foi impulsionado pelo desempenho do terceiro mês do ano. "Em março, os consumidores desistiram de esperar pelo retorno do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) reduzido e, com isso, acabaram perdendo o entusiasmo pelos veículos novos. Assim, a alternativa encontrada foi optar pelo usado, que tem um valor agregado menor", analisa.

Embora positivo, o índice é insuficiente para renovar os ânimos do setor. Na visão de Vieira, 2015 será um período repleto de desafios e sem incremento expressivo nas vendas. "Acredito, inclusive, que ainda há risco de queda frente a 2014", lamenta. Ele ressalta que, além do receio do consumidor, as concessionárias vão enfrentar dificuldades para renovar o estoque, pois poucos estão trocando seus carros antigos pelos novos. Dessa maneira, os usados em boas condições tornam-se raridade."

Na Stop Car, com duas unidades instaladas nos bairros Carlos Prates (região Noroeste) e Itapoã (região da Pampulha), os negócios estão estáveis. A sócia-proprietária, Janine Bretas, percebe que o consumidor está muito cauteloso e evita financiamentos de longo prazo, o que provoca mudança no perfil dos clientes. "Agora, a maioria deles procura carros mais baratos e tenta pagar o valor total à vista ou, pelo menos, dar uma boa entrada", avalia.

Janine Bretas, porém, conserva o otimismo e continua apostando em ações de divulgação para motivar o comprador e tenta qualificar ainda mais a equipe de vendas. Por enquanto, a empresária prefere não estabelecer previsões para os próximos meses, devido às incertezas que insistem em rondar a economia brasileira.

A Activa Multimarcas, no bairro Carlos Prates (região Noroeste), não registrou expansão no primeiro trimestre. O proprietário, Feliciano Quintão, acredita que o mercado reaja a partir do segundo semestre, mas prevê melhora significativa somente em 2016. Ele reclama das dificuldades para repor os estoques e da escassez de crédito. "Os bancos estão realmente bastante exigentes para aprovar os financiamentos", diz.

Na contramão, algumas concessionárias continuam crescendo. Esse é o caso da Flex Car, no bairro Carlos Prates. De acordo com o proprietário, Rodrigo Souki, a expansão nos três primeiros meses foi de 40% no confronto com idêntico intervalo do exercício anterior. No entanto, ele reconhece que o resultado é bem acima da média. "Adotei algumas mudanças ao adquirir mercadorias e contratar funcionários e elas me permitiram alcançar esse percentual", diz.

Ele continua bastante otimista em relação ao restante do ano e estima que, em sua loja, a variação positiva sobre 2014 seja de até 30%. Para Souki, o fim da redução do IPI e o conseqüente encarecimento do veículo novo são fatores que impulsionam fortemente seu mercado. "As pessoas estão realmente preferindo as alternativas mais em conta", emenda o empresário.

A SRM Veículos, com unidades no bairro Pompeia (região Leste) e Jardim Industrial (Barreiro), também finalizou o primeiro trimestre com alta expressiva de 30%. Mas o gerente comercial, Ronaldo Tavares, ainda é receoso e revela que não houve expansão em abril. Para ele, um bom desempenho em 2015 está necessariamente vinculado à desaceleração da inflação e redução dos juros. "Enfrentamos um período complicado, então é preciso trabalhar com mais força no dia a dia", afirma.