Leitura de notícia
Valor Online ( The Wall Street Journal ) - SP - Brasil - 30-04-2015 - 10:04 -   Notícia original Link para notícia
Mercados emergentes vivem uma recuperação, mas alívio é temporário

No início do ano, a estratégia mais aceita para investir em mercados emergentes era simplesmente não fazê-lo.


Mas as ações de países em desenvolvimento subiram cerca de 13% nas últimas oito semanas, em grande parte porque a maldição que as perseguia, a cada vez mais próxima alta dos juros nos Estados Unidos, provavelmente foi adiada. O câmbio e a renda fixa também dispararam.


É um alívio temporário.


Desafios que variam de país para país - níveis elevados de endividamento, moedas se desvalorizando, drama político, dependência da exportação de commodities - provavelmente voltarão à tona nos próximos meses, dizem investidores e analistas.


"Boa parte do mundo emergente está sofrendo uma ressaca, e países individuais têm problemas muito específicos com os quais têm que lidar", diz Paul McNamara, gestor de portfólio de dívida de mercados emergentes na GAM, que administra US$ 6 bilhões em ativos.


Ele diz que os problemas específicos dos países podem ter uma influência maior nas economias e nos mercados do que a esperada decisão do Federal Reserve, o banco central americano, de elevar os juros. Ontem, o Fed informou que considera a forte queda na economia americana no primeiro trimestre fruto de efeitos transitórios, sinalizando que uma alta dos juros nos próximos meses continua na sua mira, apesar de o momento exato ter se tornado mais incerto.


Segundo investidores e analistas, as moedas estão refletindo melhor os fundamentos econômicos do que as ações e estão dando fortes sinais de como será o desempenho dos mercados até o fim do ano. Até terça-feira, o Índice MSCI de Moedas de Mercados Emergentes acumulava alta de 4,7% desde meados de março, mas ainda 3,5% abaixo do nível em que estava há seis meses.


Em contrapartida, a alta das ações tem sido estimulada por países como a China, apesar do enfraquecimento das suas condições econômicas. A bolsa de Xangai acumula alta de 38% no ano, mesmo com a desaceleração da economia.


Muitos outros países emergentes que enfrentam dificuldades têm sido afetados pela queda nos preços das commodities, que se junta aos fracos fundamentos econômicos.


No Brasil, grande exportador de recursos naturais, o escândalo da Petrobras tem ampliado a pressão sobre o governo. A Malásia, outro país altamente dependente de exportações de commodities, vive situação parecida. A Bovespa fechou ontem com alta acumulada no ano de 11%, enquanto na Malásia as ações subiram 4,6% até agora em 2015. As moedas dos países, porém, se desvalorizaram: o real recuou 10,3% até agora no ano e o ringgit malasiano, 0,9%.


Os mercados emergentes têm se beneficiado não apenas da falta de ação do Fed, mas de grandes estímulos monetários de bancos centrais na Europa e Japão. A enxurrada de dinheiro tem levado vários investidores a buscar melhores retornos em mercados emergentes, onde o maior risco é recompensado com um rendimento mais alto. Empresas e governos de mercados em desenvolvimento venderam US$ 473 bilhões em títulos de dívida este ano, apenas 12% menos do que no mesmo período de 2014, de acordo com os dados mais recentes do BNP Paribas. As taxas se mantiveram próximas a mínimas recorde em muitos desses mercados.


Apesar da reanimação dos mercados emergentes, as economias em muitos desses países continuam enfrentando dificuldades. O crescimento nos mercados emergentes caiu para o nível mais baixo desde 2009, devido às fracas exportações e à queda nos preços das commodities.


Mesmo as moedas desvalorizadas, o que normalmente beneficia a indústria por tornar as exportações mais baratas, não conseguiram estimular algumas economias e a atividade industrial permaneceu fraca, de acordo com os dados mais recentes. Na semana passada, o indicador da atividade industrial da China caiu para o seu patamar mais baixo em um ano, enquanto no Brasil, a produção do setor privado registrou sua maior queda em seis anos.


O crescimento baixo e o recuo nos preços das commodities estão atingindo os lucros das empresas, que costumam ser o principal estímulo para as cotações das ações. Na próxima temporada de divulgação de resultados, alguns analistas esperam que muitas empresas do mundo em desenvolvimento não consigam cumprir suas metas de desempenho, freando a alta das bolsas.


A recuperação dos mercados não tem sido suave. Os mercados acionário e de câmbio passaram por um forte movimento de venda no início deste ano e têm se recuperado desde então. "Esperamos ver muita volatilidade nos mercados emergentes, especialmente em países como Turquia, África do Sul e Brasil, que enfrentam seus próprios problemas", diz Benoit Anne, líder global de estratégia para mercados emergentes no Société Générale SA.


Koon Chow, estrategista do Union Bancaire Privée em Londres, diz que a volatilidade atual se deve principalmente ao crescimento fraco e ao ressurgimento das preocupações com a China, somados a problemas específicos de alguns países. "O elemento do Fed e dos EUA é só parte disso."


Nenhuma palavra chave encontrada.
O conteúdo acima foi reproduzido conforme o original, com informações e opiniões de responsabilidade da fonte (veículo especificado acima).
© Copyright. Interclip - Monitoramento de Notícias. Todos os direitos reservados, 2013.