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Valor Online ( Finanças ) - SP - Brasil - 30-04-2015 - 08:29 -   Notícia original Link para notícia
BC segue o script e eleva Selic a 13,25%

Por Eduardo Campos, Alex Ribeiro e Lucinda Pinto | De Brasília e São Paulo


O Banco Central (BC) aumentou ontem o juro básico da economia em 0,50 ponto percentual, para 13,25% ao ano, maior percentual desde dezembro de 2008, por considerar que os progressos feitos até agora no combate à inflação ainda não são suficientes.


O breve comunicado divulgado logo após a reunião não dá indicações claras se o Comitê de Política Monetária (Copom) pretende parar de subir os juros ou diminuir o ritmo de aperto, em linha com a comunicação reiterada por representantes do BC nas últimas semanas de que a política monetária "foi, está e continuará vigilante" para cumprir o centro da meta de inflação, de 4,5%, em dezembro de 2016. A próxima reunião do Copom ocorre nos dias 2 e 3 de junho.


A nota à imprensa divulgada pelo Banco Central é praticamente cópia das divulgadas em reuniões anteriores: "Avaliando o cenário macroeconômico e as perspectivas para a inflação, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic em 0,50 ponto percentual, para 13,25% ao ano, sem viés."


Nos encontros anteriores, o Copom sinalizou, ao poucos, qual seria sua decisão seguinte. A ata de cada um dos encontros deixou portas abertas para altas tanto de 0,25 ponto como de 0,5 ponto, e pronunciamentos de autoridades do BC indicaram mais claramente a opção por um aperto mais forte.


A repetição do comunicado do Copom surpreendeu e é uma indicação de que uma nova alta de 0,5 ponto da Selic na reunião de junho segue no páreo, segundo a economista da Tendências Consultoria Alessandra Ribeiro.


"Esperávamos alguma mudança no comunicado para indicar redução de ritmo para junho", afirma Alessandra, lembrando que a leitura da ata na semana que vem ficou ainda mais importante agora, de onde pode vir algum sinal que possa balizar as apostas daqui para frente.


Para a economista, o Copom parece tentar passar um recado ao mercado de que pode ir com a Selic para além dos 13,5% ao ano - algo já precificado pelo mercado. E, com isso, tentar levar as expectativas para a inflação para a meta. "Acho que o BC está tentando inverter a cabeça do mercado para ancorar expectativas para 2016", afirma.


O comunicado conciso e idêntico ao anterior dá ao BC "o benefício do tempo" para avaliar o desempenho da atividade, da inflação e a evolução do câmbio para conduzir as expectativas do mercado até o próximo encontro, segundo o do diretor de pesquisa econômica para América Latina do Goldman Sachs, Alberto Ramos. "A ata, que será publicada na semana que vem, pode fornecer informações úteis sobre como o Banco Central vê o balanço de riscos para a inflação e o crescimento, pistas sobre o quão perto da inflação projetada para o fim de 2016 está perto da meta, de 4,5% e, portanto, se o Copom pode encerrar o ciclo na reunião de junho", afirma Ramos.


Para o economista, se o câmbio se estabilizar perto de R$ 3,25, o BC deve encerrar o ciclo com mais uma alta de 0,25 ponto percentual em junho. Mas não está completamente descartada a possibilidade de estabilidade da taxa na próxima reunião, caso a inflação surpreenda para baixo e o dólar ceda.


Entretanto, se o dólar subir para um nível mais alto, entre R$ 3,30 e R$ 3,35, então, o risco de outra alta de 0,5 ponto em junho vai crescer significativamente.


"Em nossa opinião, reancorar as expectativas e conduzir a inflação de volta à meta é um objetivo chave para que se reequilibre a economia", acrescenta Ramos.


Já o chefe de Pesquisas Econômicas para América Latina do Barclays, Bruno Rovai, considera mais provável que o ciclo de aperto monetário tenha sido encerrado ontem "Com a política fiscal mostrando melhora em junho, a inflação anual estabilizada, uma coleção de dados de atividade fracos, confirmando recessão, principalmente do lado do mercado de trabalho, o Copom deve manter o juro inalterado na próxima reunião", afirma.


Essa foi a primeira reunião com a participação dos novos diretores, Octavio Damaso (regulação) e Tony Volpon (assuntos internacionais), que votaram em linha com o presidente, Alexandre Tombini, e os demais diretores.


Projeções apresentadas pelo Banco Central no seu mais recente relatório de inflação indicam uma variação do IPCA de 4,9% em 2016, no chamado cenário de referência, que tomava como pressuposto a manutenção da Selic em 12,75% ao ano. Com a alta dos juros de ontem é possível que essa projeção tenha cedido um pouco mais. Para 2015, a projeção do BC era uma variação de 7,9% no IPCA.


Na última medição, o índice oficial apontava 8,22% no acumulado em 12 meses (IPCA-15 de abril). O Focus estima IPCA de 8,25% no fim deste ano e 5,6% no fim de 2016, ainda cima da meta de inflação e da própria projeção da autoridade monetária.


A mensagem dada até aqui por Tombini e outros membros do colegiado é de que política monetária seguirá vigilante para assegurar que os efeitos dos ajustes de preços relativos "fiquem circunscritos ao curto prazo e para que o IPCA convirja para o centro da meta de 4,5% no fim de 2016".


"Comunicado não sugere pausa no ciclo de aperto", diz Mesquita


Por Silvia Rosa | De São Paulo



Para Mesquita, ex-BC, autoridade monetária deve desacelerar ritmo de alta na próxima reunião e elevar a Selic em 0,25 ponto


O fato de o Comitê de Política Monetária (Copom) ter mantido o comunicado da última reunião deve manter as apostas no mercado divididas entre uma alta de 0,25 ponto e de 0,50 ponto para o próximo encontro em junho. Essa é a visão do ex-diretor de Política Econômica do BC e atual sócio do banco Brasil Plural, Mário Mesquita. Para ele, o Copom deve desacelerar o passo em junho e subir a Selic em 0,25 ponto percentual, por causa da desaceleração da atividade. "Na verdade a gente caminha para uma recessão importante neste ano. E isso contribuirá para trazer a inflação para baixo", diz.


Valor: Qual a sua leitura sobre a decisão do Copom de manter o comunicado da reunião anterior? Há possibilidade do BC continuar com o ciclo de alta de juros?


Mário Mesquita: O comunicado, no meu modo de ver, sugere a continuidade do ciclo de ajuste monetário. Usualmente, quando o Copom repete a comunicação, ele sinaliza que contempla repetir a própria ação. Com esse comunicado, o Copom joga a expectativa do mercado para uma nova alta da taxa Selic entre 0,25 ponto percentual e 0,50 ponto. É claro que vamos ter que ver a ata na semana que vem. Tem muito tempo até a próxima reunião, teremos mais dados de atividade e inflação. Vamos avaliar o comportamento das expectativas de inflação. Enfim, não está claro o que o Copom vai fazer, mas com esse comunicado, a probabilidade de ele dar o ciclo por encerrado parece baixa.


Valor: Qual o efeito dessa decisão sobre o mercado de juros?


Mesquita: Acho que o mercado vai ficar dividido entre um aumento de 0,25 ponto e 0,5 ponto da Selic. A tendência hoje é ter um movimento de alta na parte mais curta da curva de juros.


Valor: Qual a sua perspectiva para a próxima reunião do Copom?


Mesquita: Esperamos que ele reduza o ritmo para 0,25 ponto. e termine o ciclo em junho. Vamos rever ou não essa projeção à luz dos dados e da comunicação do BC, que com certeza será mais refinada na ata do Copom.


Valor: Quais os fatores que sugerem que ele pode desacelerar o ritmo de alta da taxa Selic?


Mesquita: O comportamento da atividade, que mostra uma desaceleração. Na verdade, caminhamos para uma recessão importante neste ano. Isso significa que o hiato do produto vai abrir e isso contribuirá para trazer a inflação para baixo. O BC trabalha com uma projeção de retração da atividade econômica neste ano de 0,5%, bem mais suave do que a maioria das projeções do mercado. A nossa projeção é de uma contração do PIB de 1,2% neste ano. O que importa para o BC é como estão se comportando as suas projeções para inflação. As projeções do BC para a inflação no ano que vem - o objetivo declarado da política monetária é trazer a inflação para 4,5% em 2016 -, foram elaboradas com essa hipótese de contração de 0,5% do PIB. À medida que o BC atualizar a sua visão para o PIB, provavelmente as projeções do BC para a inflação vão caminhar para meta e isso criaria condições para ele pausar o ciclo de aperto monetário. É óbvio que ele vai olhar para outras variáveis, para a expectativa do mercado, a implementação da política fiscal, que foi descrita no Relatório Trimestral de Inflação como tendendo à neutralidade, quando a visão consensual dos analistas é que ela vai ser contracionista, o que vai contribuir para controlar a inflação.


Valor: O BC vai conseguir trazer a inflação para o centro da meta, de 4,5%, em 2016?


Mesquita: Não é nossa projeção, mas não é um cenário impossível. A nossa projeção é de 5,7% para a inflação para 2016, que nota-se já é uma desinflação intensa tendo em vista o patamar que ela vai terminar 2015, acima de 8%. Há riscos para cima e para baixo. O real se fortaleceu e, se permanecer nesse patamar, por exemplo, porque o Fed resolveu postergar por alguns trimestres o ajuste monetário, é um risco para baixo para a inflação. A própria elevação do desemprego e descompressão do mercado de trabalho, que tem se acelerado, podem ajudar a segurar a inflação de salários e de serviços em 2015 e o próprio IPCA. Na outra ponta, há uma dúvida sobre o possível comportamento dos preços administrados. A maioria dos analistas de mercado, e nós nos incluímos nesse grupo, acredita que depois do ajuste intenso dos preços relativos em 2015, os preços administrados voltarão a ter um comportamento bem mais livre em 2016. Se esse não for o caso, por exemplo, caso continuem as pressões no setor de energia, as projeções podem estar subavaliando o comportamento de inflação. Então, atingir a meta de 4,5% no fim 2016 é uma possibilidade, não é ainda a nossa projeção central e nem, acredito, a do mercado.


Valor: Há a chance de a continuidade da alta do real no curto prazo levar o BC a encerrar o ciclo de aperto monetário antes de junho?


Mesquita: Não acho que o BC conte com uma grande ajuda da taxa de câmbio neste momento. O câmbio influencia as projeções de inflação. O BC rodou o Relatório Trimestral de Inflação de março com um câmbio a R$ 3,15. Se fosse rodar o relatório agora, o câmbio estaria abaixo de R$ 3, e isso traria um alívio para as projeções de inflação. Mas como o câmbio tem sido muito volátil, não dá para descartar que ele volte a se depreciar. É óbvio que há um conjunto de informações muito amplo, não é uma isoladamente que vai determinar o BC a parar o ciclo ou não. Vale notar que as expectativas de inflação vinham melhorando nos prazos mais longos e pararam de melhorar e talvez, isso tenha motivado o BC a manter o ritmo de 0,5 ponto na reunião de ontem. Então, será importante ver como elas vão se comportar até a próxima reunião. Agora, o comunicado não prepara nenhuma pausa no ciclo de aperto monetário. Se ele quisesse preparar a pausa, ele provavelmente estaria se comunicando de forma bem diferente.


Valor: Qual a sua perspectiva para a taxa de câmbio neste ano? Quais os principais riscos para a essa recuperação recente do real no cenário externo e doméstico?


Mesquita: Esperamos que o câmbio volte a depreciar e termine o ano em torno de R$ 3,20. Não acreditamos em nenhuma disparada do dólar, apenas em um movimento em direção a taxas mais sustentáveis. Achamos que esse movimento recente da moeda tem a ver com alívio em relação a diversos riscos que o mercado estava considerando, como o do Fed subir a taxa de juros mais rápido, da dívida da Petrobras sofrer uma aceleração, do Brasil sofrer um rebaixamento do rating pelas agências de classificação de risco, do racionamento de energia e de água na Grande São Paulo. A mitigação desses riscos levou a essa apreciação do real. Agora, os fundamentos do balanço de pagamentos sugerem a tendência de médio prazo de uma depreciação do real, em especial devido a um déficit em conta corrente superior à média histórica. Agora se o Fed resolver subir a taxa de juros em setembro, o movimento do câmbio pode se antecipar. Agora se a alta da taxa de juros nos EUA ficar para dezembro, o movimento do câmbio pode ser mais suave.


Valor: Após a conclusão do ciclo de aperto monetário, há espaço para o BC cortar a taxa básica de juros no fim deste ano?


Mesquita: Possível é. No momento que o BC parar de subir a taxa básica de juros o mercado vai começar a discutir quando virá o próximo corte. Agora, isso pode coincidir com o momento que Fed vai subir a taxa de juros. Vamos ver como o mercado vai reagir a isso. Mais importante é ver o comportamento das projeções do BC, das expectativas de inflação. Não acredito que o BC vá agir de forma muito rápida, porque ele quer consolidar a convergência da inflação para a meta, e caso faça uma mudança muita abrupta na política monetária, essa convergência pode ser comprometida.



Copom ainda não deu sua tarefa por cumprida


Por Alex Ribeiro | De Brasília


O Banco Central subiu os juros em 0,5 ponto percentual, como quase todo mundo esperava, mas não acenou com a proximidade do fim no ciclo de alta, como muitos acreditavam que poderia acontecer. No geral, a mensagem do Copom é de que a tarefa ainda não está cumprida.


Um dos motes mais recentes do Banco Central é que vai perseguir com "determinação" o centro da meta, de 4,5%, em dezembro de 2016. Foi o que disse o diretor de política monetária da instituição, Luiz Awazu Pereira, em apresentação recente em Washington, durante evento do J.P. Morgan Chase. "A política monetária vigilante se foca com determinação no nosso objetivo", declarou.


Isso não significa que o Banco Central esteja planejando um movimento mais forte do que o esperado na taxa de juros. Mas vai fazer o trabalho que considera necessário para levar a inflação à meta no prazo estabelecido e reagir a ventos contrários ao seu cenário.


Qual o trabalho necessário para cumprir a meta? Seu cenário para a inflação é bem conhecido e assume como premissa que é possível levar a inflação para 4,5% até dezembro de 2016. Comparado com os analistas do mercado, o Copom está do lado mais otimista. Na sua projeção apresentada no relatório de inflação, de março passado, a variação do IPCA fecharia o próximo ano em 4,9%.


O Copom tem dito que acredita que o repasse do câmbio para a inflação será menor desta vez, que a política fiscal mais ajustada vai aumentar o poder de fogo da política monetária e que o desemprego vai ter um peso maior do que muitos acreditam para trazer a inflação para baixo.


Mas o BC vinha dizendo que ainda não está satisfeito com os progressos, daí o esforço adicional em termos de política monetária para garantir que a variação do IPCA chegue a 4,5% em 2016. Pode ser que a ata da semana que vem tenha alguma pista sobre o quão próximo o BC está de seu objetivo. Mas, provavelmente, só o relatório de inflação de junho irá trazer informações mais concretas sobre isso. Até lá, teremos outra reunião do Copom, em 3 e 4 de junho.


A determinação do Copom também significa, provavelmente, que o colegiado estará pronto para reagir contra contratempos que encontrar pelo meio do caminho, caso o cenário de convergência da inflação fique sob novos riscos. Nesse caso, não são apenas as incertezas até a reunião de junho. Embora a inflação vá deixar em abril para trás o pico deste começo do ano, permanecerá sob pressão pelo menos até o terceiro trimestre, quando haverá um efeito estatístico de substituição dos índices mensais muito baixos de meados de 2014 por índices que tendem a ser mais altos.


No ano passado, o BC suspendeu o ciclo de alta de juros quando considerava que a inflação convergiria para a meta, mas avisou que estava vigilante e que poderia voltar a subir a taxa básica, se necessário. Voltou a aumentar, de fato, em outubro, depois de sinalizar suas intenções na reta final das eleições presidenciais. Hoje, a mensagem parece ser a mesma, quando o Copom indica que a política monetária "foi, está e continuará vigilante".


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