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Valor Online ( Brasil ) - SP - Brasil - 28-04-2015 - 09:43 -   Notícia original Link para notícia
Desempenho do PIB no 2º trimestre gera divergência entre economistas

A percepção de que o Produto Interno Bruto (PIB) vai recuar cerca de 1% em 2015 é consenso entre economistas, mas há divergências sobre em que momento a recessão atingirá seu pior ponto. Com previsões de queda para o primeiro trimestre já feitas, alguns analistas acreditam que a retração do PIB pode se aprofundar ainda mais entre abril e junho, enquanto outro grupo avalia que os impactos negativos do ajuste ficarão concentrados nos primeiros três meses do ano. De qualquer forma, a expectativa é que o primeiro semestre mostre uma dinâmica bastante ruim da atividade.


O economista-chefe do banco ABC Brasil, Luis Otávio de Souza Leal, ainda não tem projeções fechadas para o segundo trimestre, mas afirma que o tombo do PIB no período pode ser mais forte do que o previsto para o primeiro trimestre, que deve ter ficado entre 0,5% e 1%. A herança estatística deixada pelos primeiros três meses para o período seguinte será negativa em torno de 0,5 ponto percentual, calcula Leal, o que significa que, se a economia registrar crescimento nulo entre abril e junho, vai recuar 0,5% ante o trimestre anterior.


Além dessa influência negativa, o economista observa que a percepção de que 2015 seria um ano ruim ficou mais clara no começo do ano, o que também deve afetar a atividade de forma mais significativa nos próximos meses. Com a operação Lava-Jato, várias empresas podem ter problemas financeiros, situação que prejudica não só os setores envolvidos mas também a concessão de crédito dos bancos a outras companhias, aponta Leal.


O economista-chefe do ABC ainda destaca a sazonalidade positiva do PIB agropecuário, que se concentra no início do ano e perde força no segundo trimestre, e a expectativa de que o desempenho dos serviços piore daqui para frente. "Ao contrário da indústria, que já vinha em trajetória ruim, os serviços começaram a se deteriorar no fim do ano passado. Por isso, o primeiro semestre terá uma base de comparação alta."


Para a equipe econômica do Banco de Tokyo-Mitsubishi UFJ Brasil, a resistência do setor de serviços pode ocasionar uma surpresa positiva no PIB do primeiro trimestre, que, nos cálculos da instituição, ficou estagnado em relação aos últimos três meses de 2014. No trimestre seguinte, no entanto, a estimativa é que a economia tenha retração de 0,4%, na medida em que os impactos do ajuste sobre a atividade fiquem mais claros.


Alberto Ramos, chefe de pesquisa para América Latina do Goldman Sachs, projeta que o PIB encolheu 0,8% entre o quarto trimestre de 2014 e o primeiro de 2015, feitos os ajustes sazonais na trajetória que não deve ser revertida no segundo trimestre. Em suas estimativas, a atividade deve diminuir 0,45% no período em relação aos três meses anteriores, devido à intensificação dos efeitos negativos do ajuste econômico em curso. "Esperamos que o impacto negativo do ajuste no crescimento, no investimento e na criação de empregos aumente", diz, em relatório.


Já o economista-sênior do banco Besi Brasil, Flávio Serrano, avalia que a dinâmica da atividade será parecida nos dois primeiros trimestres, com queda por volta de 0,5% do PIB em cada período. O volume de vendas no varejo ampliado, nota Serrano, que inclui automóveis e material de construção, retornou neste início de ano aos níveis mais baixos da série histórica recente e, por isso, é difícil imaginar desempenho ainda pior para esse segmento.


Do lado da indústria, ele afirma que a queda adicional da confiança em abril sinaliza que o declínio do setor pode se acentuar, mas ainda é cedo para concluir que esse movimento causará uma retração mais expressiva do PIB no segundo trimestre. De qualquer forma, Serrano pondera que só é possível prever resultados menos negativos a partir do terceiro trimestre. "Não esperamos nenhum sinal favorável para a atividade no primeiro semestre."


Mais pessimista em relação ao primeiro trimestre do que os outros analistas ouvidos, Alessandra Ribeiro, da Tendências Consultoria, estima que o PIB caiu 1,9% entre janeiro e março, tombo que deve permitir uma ligeira recuperação no trimestre seguinte, para o qual prevê crescimento de 0,6%. Segundo a economista, a queda "brutal" da confiança de empresários e consumidores observada na abertura do ano, junto ao efeito restritivo do choque de preços administrados sobre o consumo e o setor de serviços, justificam a previsão negativa para o primeiro trimestre, mas a alta esperada nos três meses seguintes não indica uma melhora da atividade.


Mesmo com o aumento na comparação com ajuste sazonal, Alessandra ressalta que o PIB deve encolher 0,6% em relação ao segundo trimestre de 2014, o que representa um recuo significativo, uma vez que, naquele período, a atividade tinha caído 1,2% nessa mesma ordem. "Ainda que o choque maior tenha vindo no primeiro trimestre, teremos por outro lado a continuidade do aumento do desemprego e os efeitos da Lava-Jato serão distribuídos ao longo do ano."


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