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Valor Online ( Brasil ) - SP - Brasil - 27-04-2015 - 11:35 -   Notícia original Link para notícia
Deterioração de expectativa responde por 40% da alta do IPCA, calcula consultoria

O processo de deterioração das expectativas respondeu pela maior parte da inflação de 6,41% registrada pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2014, segundo estudo da MCM Consultores. Para o Banco Central, essa variável teve papel secundário no IPCA do ano passado. Cálculos feitos pela MCM, no entanto, mostram que as estimativas para o indicador 12 meses à frente explicaram 2,56 pontos percentuais do índice oficial de inflação no período, ou 40% do total.


Para chegar a esse resultado, a consultoria usou metodologia alternativa à do BC para decompor a alta dos preços. Tanto para estimar a contribuição da inércia quanto das expectativas sobre a inflação corrente, o BC inclui em seu modelo somente a parcela de variação do IPCA que excede o centro da meta de 4,5%. Esse cálculo foi usado na Carta Aberta de 2002. Nela, o então presidente do BC Arminio Fraga explicava a Pedro Malan, ministro da Fazenda na época, por que o IPCA havia estourado o teto da meta de 6,5% no ano.


A equipe da MCM avalia que esse método é útil para identificar os motivos do desvio do IPCA em relação à meta em determinado ano, mas, para analisar a herança da evolução passada dos preços na inflação presente, assim como o impacto das expectativas, o correto seria usar os "índices cheios".


Com essa mudança, as expectativas passariam a explicar 2,56 pontos da inflação de 2014, ao invés do 0,69 ponto apontado pelo BC, ou apenas 11% do total. Para a inflação de cada trimestre, a consultoria considera a influência das estimativas para o IPCA 12 meses à frente contidas no boletim Focus, assim como os efeitos defasados da expectativa passada.


Em 2013, as expectativas responderam por 10,1% da inflação no cálculo do BC, fatia que aumenta para 40,9% na metodologia da consultoria. O BC destaca que esse fator ganhou participação na dinâmica inflacionária de 2012 a 2014, uma vez que as expectativas para o IPCA nos próximos 12 meses fecharam 2012 em 5,5%, ultrapassaram 6,2% em outubro de 2013 e subiram mais em 2014, terminando o ano acima de 6,6%.


"Como as expectativas foram se deteriorando a partir de 2011, é natural que seu peso na inflação aumente", diz Mauro Schneider, economista da MCM, para quem uma combinação de fatores está por trás dessa trajetória. Em primeiro lugar, Schneider menciona o ciclo de relaxamento monetário entre agosto de 2011 e outubro de 2012, que levou a Selic de 12,5% para 7,25% ao ano. "Daquele processo, ficou uma sensação de que a redução dos juros era um objetivo em si. Isso foi revertido, mas o estrago já havia sido feito", afirma.


Naquele momento, lembra Schneider, a autoridade monetária parecia estar conformada com a ideia de que a inflação seria elevada por período mais longo, o que teve repercussão negativa sobre as expectativas. Mesmo depois que o ciclo de queda da Selic foi revertido, a partir de meados de 2013, o BC estava "enxugando gelo", porque a política fiscal expansionista caminhava em sentido contrário ao aperto monetário, diz. Além disso, afirma Schneider, no período mais recente, a recomposição de preços administrados e a alta do dólar também afetaram as expectativas para a inflação futura.


"Quando há algum crescimento econômico, como nos últimos anos, os agentes econômicos olham para a norte das expectativas para reajustar seus preços, que no nosso caso foi sendo elevado a cada ano em que o governo não conseguia cumprir a meta de inflação", afirma Schneider.


Fazendo um paralelo com 2002 e 2003 - quando, de acordo com a medição do BC, as expectativas foram responsáveis por 1,7 ponto do IPCA nos dois anos - o professor Luiz Roberto Cunha, da PUC-Rio, observa que a variável ganha peso na inflação quando as incertezas sobre a economia aumentam. O ano passado, diz Cunha, foi de incertezas elevadas. A partir de 2016, a tendência é que as expectativas tenham influência menor no processo inflacionário, mas caso o ajuste fiscal fracasse, pode haver nova deterioração.


Adriana Molinari, da Tendências Consultoria, não tem cálculos específicos sobre o tema, mas concorda que as expectativas são o componente de maior peso na formação de preços atualmente, na medida em que foram sendo revistas para cima, mesmo depois que o BC começou a subir os juros. Adriana vê pequena mudança no período recente, já que, segundo o boletim Focus, a estimativa para a alta do IPCA em 2016 se estabilizou em 5,6%, mas destaca que a melhora da comunicação do BC ainda não foi suficiente para ancorar as expectativas em nível mais próximo ao centro da meta.


Para 2017, a projeção mediana dos analistas consultados pelo BC conta com alta de 5% do IPCA, mesmo percentual previsto para 2018. "Se o BC quiser trazer a inflação um pouco mais para baixo, uma das questões mais relevantes é ancorar as expectativas em patamar mais próximo de 4,5%", diz Adriana.


A equipe da MCM avalia que, para vencer a batalha das expectativas, o juro real precisa ficar acima do nível considerado neutro - que permite à economia crescer sem gerar pressões inflacionárias - mesmo em 2016. A consultoria trabalha com corte de apenas um ponto na Selic no próximo ano. Em 2015, a expectativa é que chegue a dezembro em 13,25% ao ano.



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