O setor de franchising se consolida no cenário brasileiro como a galinha dos ovos de ouro e indica crescimento principalmente no interior, que vem se despontando como um mercado cada vez mais promissor

Zulmira Furbino

Diretora regional da ABF Minas, Danyelle Van Straten diz que a associação tem foco grande na interiorização e na internacionalizaçãoMesmo com a estagnação econômica no Brasil, o setor de franchising no país, considerado o o último a entrar nas crises e o primeiro a sair delas, registrou forte crescimento no ano passado. Enquanto a economia brasileira ficou praticamente parada, com crescimento de apenas 0,1% no ano passado, o faturamento do setor de franquias no país avançou 7,7%. O resultado positivo, no entanto, representa desaceleração no avanço registrado nos últimos anos. Há uma década, o segmento crescia a uma taxa de dois dígitos, sendo que, em 2013, a expansão foi de 11,7%. A expectativa para este ano, no entanto, continua ótima, com previsão de aumento de vendas entre 7% e 9%.

Para a diretora regional da Associação Brasileira de Franquias (ABF) em Minas, Danyelle Van Straten, dona de franquia do segmento de estética, a Depyl Action, a pujança econômica do setor tem raízes numa forma saudável de associativismo. "Neste setor, o forte fortalece o pequeno. O franqueador fortalece o franqueado. A franquia é uma forma de uma empresa se destacar em meio à concorrência local por meio de estratégias de marketing diferenciadas e melhores indicadores de desempenho para o negócio. É uma forma de associativismo muito feliz", sustenta. A tendência, de acordo com ela, é que a expansão desse modelo de negócio se dê rumo ao interior e até ao exterior. "A ABF tem foco grande na interiorização e na internacionalização. São dois extremos", reconhece.

Danyelle explica que a interiorização acompanha o movimento econômico do país, que se mostra forte no interior. "O franchising leva o mercado de varejo para o interior com índice de mortalidade de empresas muito menor. Por isso, os empresários que estão fora das grandes capitais do país preferem investir em franquias. As chances de sucesso são muito maiores, já que é a força do grande que chega para competir com um concorrente local", observa. De acordo com ela, a demanda pelos segmentos franqueados depende de cada estado. Em Minas, os líderes do franchising estão na área de saúde, esporte e beleza. "Esses segmentos dominam o mercado no estado e também mostram crescimento no interior", diz.

Essa expansão é impulsionada pela alta imobiliária nos grandes centros, associada ao aumento da renda da classe C e ao potencial de consumo dos moradores das cidades fora das regiões metropolitanas. Tudo isso tem potencializado a migração das franquias para o interior. Hoje, uma em cada quatro franquias brasileiras está fora das capitais e das regiões metropolitanas, o que confirma a existência de um enorme mercado potencial. Dados da ABF apontam que 75% das marcas associadas à entidade estão nas capitais e nas regiões metropolitanas e apenas 25% nas cidades do interior do país. Diante disso, em parceria com o Sebrae, a ABF vai levar cursos sobre franchising para 120 cidades brasileiras este ano e em 2016.

A parceria entre as duas entidades integra o projeto Franquias Brasil. Ao todo, serão realizados 337 cursos "Entendendo franchising", em 19 estados, para capacitar potenciais franqueados e franqueadores. O conteúdo inclui conceitos de franquia, vantagens e desvantagens do sistema, mitos e verdades e aspectos legais do franchising. O Sebrae também vai orientar os empreendedores sobre como escolher uma franquia e analisar o investimento necessário para a abertura do negócio. A meta é atender pelo menos 25 mil pessoas. A ideia é aproveitar o enorme potencial de consumo dessas regiões do país.

EXPANSÃO Levantamento realizado pelo Sebrae mostra que o consumo fora das capitais e regiões metropolitanas soma R$ 827 bilhões ao ano, o equivalente a 38% do total do consumo no país. "De cada R$ 10 gastos no Brasil, quase R$ 4 correspondem ao consumo efetuado no interior. Esse cenário confirma a existência de um ambiente promissor para os pequenos negócios, à medida que metade da população brasileira vive nessas cidades e essas regiões vêm apresentando crescente desenvolvimento econômico", ressalta o presidente nacional do Sebrae, Luiz Barretto.

Apesar disso, há quem cresça de forma equilibrada entre as capitais e o interior. É o caso do Kumon, que chegou ao Brasil como franquia em 1977. Segundo João Daniel Palma Ramos, chefe de pesquisa do Kumon, o franchising foi a saída para a expansão no Brasil e no mundo, e a franquia está presente em 26 mil unidades localizadas em 48 países. "A empresa é sólida e vem crescendo todos os anos. Em 2014, crescemos bem mais do que a economia brasileira", revela. De acordo com ele, essa expansão ocorre de maneira equilibrada entre os grandes centros e os municípios localizados fora das regiões metropolitanas do Brasil.

Para o gerente de franchising internacional da Localiza, Cristiano Bastos, o mercado de franquias no Brasil já comprovou que é forte e continua com potencial de crescimento. "Hoje, o mercado brasileiro de franquias é destaque mundial, figurando entre os cinco maiores do mundo. Isso demonstra que o brasileiro tem perfil empreendedor", diz. Segundo ele, a Localiza está no mercado de franquias há mais de 30 anos. Na época em que começou, o país vivenciava a crise da dívida externa, com o capital escasso e o custo elevado. Foi quando a Localiza adotou a estratégia de franchising, interiorizando a atividade de aluguel de carros e fortalecendo sua marca.

"Com isso, ampliamos substancialmente nossa presença no mercado brasileiro e alavancamos os negócios. Hoje não é diferente. Continuamos apostando na mesma estratégia, tanto no Brasil quanto na América do Sul, a fim de conquistar mais mercado", diz Cristiano Bastos. A empresa conta com 172 franquias no Brasil e 64 na Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai, Peru e Uruguai. Em 2014, a Localiza viu sua receita líquida crescer 11% em relação a 2013, em mais um ano de crescimento consistente, apesar do fraco cenário macroeconômico. "Conseguimos superar os efeitos desse cenário desafiador. Investimos na revisão de processos, melhoramos nossa produtividade, diversificamos nossa base de clientes. Este ano exigirá o mesmo esforço e cuidado para mantermos a competitividade."


CONSULTA DIRECIONADA
A internacionalização permite à rede de franquia rápida expansão e pode ser um excelente negócio para o franqueador. Contudo, a forma de expansão deve ocorrer de forma planejada, consciente e com o domínio das regras e usos do comércio exterior. Caso contrário, a atuação internacional pode representar um enorme prejuízo. Para evitar insucessos, uma solução é recorrer a um serviço de consultoria. "Não adianta o empresário, simplesmente, ter o dinheiro. Ele tem de ter perfil e uma boa estrutura. Por exemplo, você quer abrir uma franquia de uma grande rede de sanduíches, nos Estados Unidos, mas não poderá tratar seus funcionários americanos como trata os brasileiros. Ou você é dono de um posto de gasolina aqui e quer ter um também lá. Aí, tudo bem, vai atuar no mesmo segmento e, talvez, a única barreira seja a língua", explica Aldo D'Vale, diretor da empresa mineira Despachatur. Com 40 anos no mercado, a empresa, que atua junto a embaixadas e consulados, também presta esse tipo de serviço para quem pretende abrir uma franquia no exterior. "O nosso objetivo é aproximar o investidor do negócio que ele deseja com ações precisas e muita honestidade e transparência, e detectar se ele está habilitado ou não para o tipo de investimento."