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O Globo Online (RJ) ( Economia ) - RJ - Brasil - 24-04-2015 - 09:25 -   Notícia original Link para notícia
Até o pré-sal entra no ajuste

Para sanear finanças e reduzir endividamento, Petrobras pode buscar sócios e 'compartilhar riscos'


"Estamos olhando com atenção alguns ativos, e não importa se é pré-sal ou pós-sal" Solange Guedes Diretora de Exploração e Produção da Petrobras


Diretores afirmam que objetivo é reduzir endividamento da empresa, adiando projetos


MARCELO CARNAVAL/22-4-2015Prioridade. Ivan Monteiro afirma que reduzir a alavancagem da estatal é uma das metas


que tenham baixo retorno


Para tentar sanear as finanças, após anunciar prejuízo de R$ 21,6 bilhões em 2014, a Petrobras já admite buscar sócios até mesmo para o valioso présal. Segundo Solange Guedes, diretora da estatal, a ideia é "compartilhar riscos". A empresa quer reduzir o endividamento e aumentar geração de caixa rapidamente, adiando projetos que tenham baixo retorno. Depois de finalmente publicar seu balanço auditado de 2014, a Petrobras agora entra na fase dos ajustes para sanear as finanças. A ideia é reduzir seu elevado nível de endividamento e gerar receita rapidamente. E, nesse contexto, pode entrar até parte das áreas da camada do pré-sal em exploração, a menina dos olhos da companhia. Em teleconferência de apresentação das demonstrações financeiras a analistas do mercado, Solange Guedes, diretora de Exploração e Produção da Petrobras, admitiu a possibilidade de vender participações em ativos do pré-sal, buscando sócios para "compartilhar riscos".


- Não vamos fazer desinvestimentos em ativos do pré-sal. Mas estamos olhando com atenção alguns ativos, e não importa se é pré-sal ou pós-sal, e se podemos compartilhar riscos. Nós estamos buscando trabalhar com projetos iguais e padronizados - afirmou Solange.


Segundo a diretora, o objetivo é firmar parcerias:


- Muitas empresas têm interesse em se associar à Petrobras e se aproximar da Petrobras para carregar investimentos. Estamos, sim, conversando com empresas para ter desoneração no capex (investimento em capital fixo) via parcerias.


Na teleconferência de ontem, os analistas se mostraram mais preocupados em cobrar resultados futuros - ao contrário do que se esperava, nada se falou sobre o esquema de corrupção na estatal, que gerou perdas de pelo menos R$ 6,2 bilhões e contribuiu para baixas contábeis dos ativos no valor de R$ 44,6 bilhões. A empresa anunciou anteontem um prejuízo de R$ 21,6 bilhões em 2014. Solange destacou a importância de se concentrar em projetos que deem um retorno mais rápido:


- Há um foco no retorno de curto prazo. Como exemplos dessa estratégia, estamos postergando projetos de baixo retorno ou que demandem investimento inicial prolongado, focando nossa carteira em ativos de baixo risco.


Ivan Monteiro, diretor financeiro da Petrobras, frisou que a prioridade é reduzir o nível de endividamento da companhia, que fechou 2014 em R$ 282,1 bilhões, maior que os R$ 221,6 bilhões de 2013:


- A diminuição da alavancagem (relação entre endividamento total líquido e geração de caixa) é uma prioridade. O investimento já está sofrendo uma redução expressiva de 37% para 2016 (para US$ 25 bilhões). Já o programa de desinvestimento é conduzido de forma confidencial. Mas essa será uma premissa importante para desalavancar a empresa. O novo Plano de Negócios vai ser um conjunto harmonioso dessas decisões.


AGÊNCIAS MANTÊM NOTA DA ESTATAL


O Plano de Negócios 2015-2019 será divulgado em 30 dias. Luciana Nazar, da GO Associados, acredita que a venda de ativos da estatal - de US$ 13 bilhões até 2016 - trará alívio para o endividamento.


- As agências já rebaixaram a nota da Petrobras recentemente e deverão esperar um pouco antes de fazer outra avaliação. O endividamento da empresa é alto, mas cerca de R$ 79 bilhões são com bancos públicos federais - disse.


Ontem, a agência de classificação de risco Standard & Poor's informou que manteve a nota (BBB-, grau de investimento, mas apenas uma acima do nível especulativo) e perspectiva negativa para a empresa, o que significa que pode rebaixá-la a médio prazo. Segundo a agência, a divulgação do balanço já fazia parte do cenário traçado, mas continuam as preocupações com a capacidade de elevação da produção e possíveis multas devido à corrupção. A Moody's, que já tirou o selo de bom pagador da Petrobras, também não viu motivos para alterar a nota Ba2 - a dois degraus do grau de investimento.


Em relatório, o analista do Credit Suisse Andre Sobreira afirmou que os investimentos "não são baixos o suficiente" frente à geração de caixa da empresa. Já Bruno Piagentini, da Coinvalores, avaliou que a estatal enfrentará sérios desafios para reduzir sua alavancagem, uma vez que tem grandes investimentos pela frente, como o pré-sal, e sua geração de caixa não tem sido a que se esperava há alguns anos.


Para Karina Freitas, da Concórdia, o endividamento da Petrobras deve aumentar no primeiro trimestre de 2015 por causa da desvalorização do real:


- Essa relação (endividamento total líquido/geração de caixa) está em 4,7 vezes, mas há o risco de superar cinco, uma razão muito preocupante. Tudo vai depender de sua geração de caixa. A companhia vinha gerando caixa com o petróleo barato, mas a valorização do dólar anulou isso.


Segundo o diretor financeiro, a estatal adotará uma política de preço dos combustíveis no país que evite a volatilidade:


- As premissas incorporam preços competitivos e de mercado. O presidente da Petrobras, Aldemir Bendine, avisa que o nível de alavancagem da estatal vai subir mais no primeiro trimestre de 2015, e que é ilusão pensar que o endividamento possa cair a curto prazo. "Vamos conviver ainda com um nível de dívida acima do razoável, mas vamos conseguir uma redução gradual." Bendine diz que a Petrobras é uma "joia" e pede um voto de confiança.


Ogrande problema da Petrobras, neste momento, é que ela precisa continuar investindo. Por outro lado, como a dívida já está alta, ela tem pouca capacidade de se financiar. Em entrevista que me concedeu ontem, Aldemir Bendine admitiu que esse é o dilema central:


- Nosso tipo de atividade exige investimento. Sem isso, nós não conseguimos gerar caixa. Vamos investir US$ 25 bilhões, menos do que o previsto, e com o foco em Exploração e Produção, onde nosso negócio é mais rentável. Nós não temos pressão muito forte de desembolsos nos próximos cinco anos. E iniciaremos um plano de venda de ativos. Mas a realidade é que não há milagre, vamos continuar com uma alavancagem alta por um bom tempo.


Como a maior parte da dívida da Petrobras é em dólar, mesmo que ela não tomasse mais crédito, e ela está tomando, a dívida subiria no primeiro trimestre, por razões cambiais.


- No primeiro trimestre, sim, o impacto do dólar elevará a dívida. A alavancagem deve subir para 5. Para o ano, deve estabilizar, num cenário de dólar a R$ 3,30 - admitiu o presidente.


Uma relação entre a dívida e a capacidade de geração de caixa em 5 anos é mais do que os atuais 4,7 e o dobro do que é considerado normal, que é 2,5. Mesmo assim, ele diz que a empresa continua sendo financiável e conta que recebeu várias propostas de linhas de crédito. Fechou com as que não tinham custo superior ao dos bonds:


- Recebemos autorização do conselho de administração para tomar crédito no valor de US$ 19 bilhões. Isso e o fluxo de caixa mais do que garantem as operações deste ano de investimento, sem depender do resultado da venda dos ativos. Terminaremos o ano com um caixa de US$ 20 bilhões. Estava previsto US$ 10 bilhões, mas elevamos.


Este ano, a empresa tomou empréstimos com o Banco do Brasil, Caixa e Bradesco, com um banco estatal chinês e fechou uma operação de venda e aluguel de plataformas com o banco Standard Chartered.


Bendine disse que a empresa pode monetizar vários ativos. Citou o caso da malha de gasodutos. Poderia ser vendido o espaço para uma empresa de telefonia colocar fibra ótica ao longo do gasoduto:


- Há vários ativos aqui na empresa que são intangíveis, mas que a gente pode transformar em tangíveis.


Ele não quis adiantar o que pretende vender, mas disse que a petroquímica está fora do negócio central da companhia de exploração e produção de petróleo:


- Admito que neste momento não tem atratividade, mas não queremos ficar com ativos que sangrem, que consumam caixa da companhia. Vamos fornecer a nafta, mas a valor de mercado, não estamos interessados em subsidiar a matéria-prima.


Disse que 80% dos investimentos serão em exploração e produção, a maior parte no pré-sal, que afirma ser extremamente atrativo. Explica a estratégia:


- Não vamos abrir um campo atrás do outro, os campos que já perfuramos serão explorados. Quanto maior a escala, mais o custo diminui. Há interesse internacional no pré-sal, tanto que a Shell comprou a BG atrás destes ativos. Mesmo com a queda do Brent, a exploração do pré-sal continua atrativa e nós temos uma belíssima reserva.


Bendine disse que os R$ 5 bilhões dos recebíveis de energia não foram baixa, mas provisão. E se referem a crédito contra a Eletrobras para fornecimento de óleo para termelétricas no Norte. Como no final do ano a dívida não fora paga nem renegociada, a empresa colocou em provisão, mas agora a dívida está renegociada e com garantias. O que foi colocado em provisão pode voltar para os ativos.


O presidente da Petrobras terminou a conversa em tom otimista:



- Vamos agora olhar o futuro. A Petrobras é uma joia. O que ela precisa é de um voto de confiança. Para isso estamos trabalhando forte em governança para que nunca mais volte a acontecer o que aconteceu.


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