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Valor Online ( Brasil ) - SP - Brasil - 20-04-2015 - 07:58 -   Notícia original Link para notícia
Taxa de inflação sobe mais para famílias de baixa renda no 1º tri

Por Arícia Martins | De São Paulo


O ajuste de preços relativos colocado em curso neste início de ano restringiu mais o orçamento das famílias pobres. Enquanto o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) - indicador oficial do IBGE que mede a inflação para uma faixa ampla de renda, que vai até 40 salários mínimos - subiu 3,83% no primeiro trimestre, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) avançou 4,21%, maior alta para esse período desde 2003, quando havia aumentado 5,39%. Nesse índice, a variação dos preços é calculada para as famílias que ganham de um a cinco salários mínimos.


Em um segmento de renda ainda mais baixa, até dois mínimos e meio, a inflação foi de 4,54% no primeiro trimestre, segundo o Índice de Preços ao Consumidor - Classe 1 (IPC-C1), calculado pela Fundação Getulio Vargas.



Em alguns anos, o INPC aumentou um pouco mais que o IPCA nos primeiros três meses, porque os alimentos, que sazonalmente aceleram nesta época, têm peso maior na cesta de consumidores de baixa renda. Em 2015, no entanto, essa tendência foi acentuada pela forte recomposição de tarifas básicas, que também representam uma parte bem mais expressiva dos gastos de famílias pobres: transporte público, água e esgoto e, principalmente, energia elétrica.


Embora a alta da energia no primeiro trimestre captada pelos dois indicadores seja bem parecida, de 35,21% no INPC e de 36,34% no IPCA, ela respondeu por 31,4% da inflação acumulada pelo índice da baixa renda no período e por 27,9% do indicador oficial. Esse item é responsável por 3,7% no INPC, peso que cai para 3,2% no indicador usado como referência no regime de metas inflacionárias.


A despesa individual mais pesada para os consumidores que ganham até cinco salários mínimos é o ônibus urbano, que também influenciou o quadro de maior pressão inflacionária para essas famílias. Responsável sozinha por 7,18% do INPC, a tarifa foi reajustada em 10 das 13 capitais pesquisadas pelo IBGE no primeiro trimestre, e subiu, em média, 11,56% até março dentro desse indicador. No mesmo trimestre do ano passado, essa alta foi de apenas 1,69%.


"A renda mais baixa está pagando o preço da correção de itens administrados distorcidos que tinham sido usados como forma de segurar a inflação", afirma o professor Luiz Roberto Cunha, da PUC-Rio.


Entre as tarifas administradas que foram reajustadas neste início de ano, a única que compromete menos o orçamento dos mais pobres é a gasolina, observa André Braz, economista da FGV, porque essa faixa usa mais o transporte coletivo. De forma geral, porém, o custo de vida dessas pessoas foi mais afetado neste início de ano devido a uma concentração atípica de aumentos com impacto significativo em sua renda disponível.


"O primeiro trimestre é carregado de aumentos que a baixa renda quase não percebe, como IPTU, IPVA e mensalidades escolares. Neste ano, tivemos a entrada da bandeira tarifária para eletricidade e quase todas as cidades reajustaram as tarifas de ônibus. Essas são variáveis essenciais para esse público", diz Braz, acrescentando que índices como o IPC-C1 tentam mostrar de forma mais fiel a alta de preços para um estrato específico. "Fazer as pessoas perceberem a inflação é um grande desafio. Quando você calcula a inflação para um determinado grupo, há mais chances de se aproximar da variação de preços sentida por ele."


Além do processo de "realismo tarifário", Fabio Romão, da LCA Consultores, acrescenta que a trajetória dos alimentos também explica a inflação maior nos índices calculados para a baixa renda. O grupo alimentação e bebidas é o de maior participação nos índices, comentou, mas tem peso de 30,4% no INPC e de 24,9% no IPCA. De janeiro a março, os preços de alimentação avançaram 3,16% no INPC e 3,5% no IPCA.


Outro indicador específico da FGV, o IPC-3i, que calcula o aumento de preços para a terceira idade, também subiu mais do que o IPCA por causa dos preços administrados. No primeiro trimestre, o índice que mede a inflação para famílias majoritariamente compostas por pessoas com mais de 60 anos avançou 4,16%. "Como o idoso permanece mais tempo em casa, é mais refém de serviços como o de eletricidade", explica o economista da FGV.


Na metodologia da fundação, os itens gasolina e táxi, que também tiveram reajustes expressivos neste início de ano, pesam mais na inflação da terceira idade, porque essa população usa mais meios de transporte individual e tem gratuidade no transporte púbico.


Nos próximos meses, a tendência é que os índices de baixa renda continuem mais pressionados, projeta Romão, da LCA, devido aos reajustes ordinários das concessionárias de energia que ainda vão ocorrer. Em seus cálculos, o IPCA vai aumentar 1,52% de abril a junho, 0,12 ponto abaixo do previsto para o INPC. Para este ano, a consultoria trabalha com alta de 8,1% do indicador oficial e de 8,7% do INPC. "Mesmo que essas famílias tenham conseguido algum ganho real, porque têm seus ganhos mais atrelados ao salário mínimo, essa pressão de custos tem maior força", diz.


Mesmo a depreciação cambial, que tem impacto sobre itens mais consumidos pela classe média, como bens duráveis e viagens, também deve elevar os preços para a baixa renda, com reflexos nos preços de alimentação, acrescenta Cunha, da PUC-Rio. Devido à alta do trigo, por exemplo, o pão subiu 1,89% em março no IPC-C1, item que compromete cerca de 2% da renda dos mais pobres - o dobro do peso no IPC "médio" da FGV.


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