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Valor Online ( Brasil ) - SP - Brasil - 16-04-2015 - 08:42 -   Notícia original Link para notícia
Sem soja e minério, as exportações do Brasil para China crescem 13% no 1º tri

Por Tainara Machado e Denise Neumann | De São Paulo


No primeiro trimestre, as exportações do Brasil para a China caíram 35%, queda explicada integralmente pela redução de embarques de soja e minério de ferro para o país asiático. Para analistas, os preços de commodities podem até se estabilizar nos próximos meses, mas com a economia chinesa menos aquecida, dificilmente deve haver recuperação significativa nas vendas desses produtos ao longo de 2015.


No médio prazo, porém, a mudança de modelo de crescimento chinês, mesmo que se traduza em taxas mais baixas de expansão do Produto Interno Bruto (PIB) chinês, pode ser uma boa notícia para o Brasil. A expectativa é que, ao longo do tempo, a pauta de exportação brasileira para a China fique menos concentrada em produtos básicos e incorpore itens de maior valor agregado.


Os primeiros sinais dessa tendência podem ser vistos nos dados da balança comercial do primeiro trimestre. Sem as expressivas quedas de embarques de soja e minério de ferro, a receita da exportação brasileira para a China aumentou 13%, segundo levantamento do Valor. No caso das vendas de produtos semi e manufaturados, o aumento foi de 5,4%, enquanto as importações desses itens caíram 1,7% na comparação com o primeiro trimestre de 2014, segundo a Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex).


Em valores, o Brasil exportou US$ 6,2 bilhões de janeiro a março deste ano para a China, cifra 35% inferior aos US$ 9,6 bilhões vendidos em igual período do ano passado. A conta de produtos semimanufaturados e manufaturados foi mais positiva. No primeiro trimestre do ano passado, os embarques nessas duas categorias somaram US$ 1,343 bilhão, valor que aumentou para US$ 1,415 bilhão entre janeiro e março de 2015.


Para Daiane Santos, economista da Funcex, a desaceleração da economia chinesa traz implicações importantes para o Brasil, com possibilidade de mudança no mix de produtos vendidos à China. "A China está vivendo um momento ímpar e tem que se adaptar a um novo contexto global, com necessidade de depender menos do setor externo e dos investimentos e mais do consumo doméstico", diz.


De acordo com dados divulgados ontem, a economia do país asiático cresceu 7% no primeiro trimestre de 2015, a menor taxa de expansão do PIB chinês dos últimos seis anos. Segundo projeções da Funcex, o país deve encerrar o ano de 2015 com crescimento de 6,8%.


Para Silvio Campos Neto, economista da Tendências Consultoria, a redução de ritmo de expansão da atividade na China não chegou a surpreender. "A maior dúvida agora é se essa desaceleração será mais ou menos gradual", afirma o economista, para quem um cenário de 'pouso forçado', com redução abrupta do ritmo de expansão do PIB chinês, parece pouco provável. Ao longo dos próximos quatro anos, diz Campos Neto, o país asiático deve passar de um crescimento em torno de 7% em 2015 para algo mais próximo de 6% em 2018, o que é razoavelmente suave. "E a base econômica hoje é muito maior, o que quer dizer que um avanço do PIB de 7% agora representa demanda até maior do que quando a China crescia 14% há dez anos", afirma.



Daiane, da Funcex, diz que cenário pode mudar mix de produtos vendidos à China


As implicações desse cenário para o Brasil, comenta Campos Neto, também já estão razoavelmente incorporadas nas projeções do mercado. "Sem a política de incentivar agressivamente os investimentos, a área de infraestrutura pode até desacelerar mais do que a média da economia, o que afeta mais claramente o minério de ferro". Não à toa, o preço dessa commodity caiu mais de 50% desde julho do ano passado, lembra Campos Neto.


Como as condições de oferta também ficaram mais favoráveis, a Tendências revisou a estimativa de cotação para essa matéria-prima ao fim do ano para em torno de US$ 60 a tonelada, queda de 37,3% em relação à média de 2014.


"O cenário para commodities não é nada animador", afirma o economista, que não espera reversão da tendência observada no primeiro trimestre, quando as exportações brasileiras de soja e de minério de ferro para a China foram US$ 3,7 bilhões menores do que em igual período de 2014. No caso da soja, o volume caiu mais (33%), enquanto para o minério de ferro a principal causa foi o preço, que recuou mais de 50%.


Para Daiane, da Funcex, o volume de desembarques de soja deve ser normalizado ao longo do ano, mas o impacto positivo do aumento da quantidade vendida não deve compensar a queda de preço. No caso do minério de ferro, os dois fatores pesam contra, avalia. Em 2015, estima a Funcex, as exportações de minério de ferro, soja e petróleo devem ser US$ 14,6 bilhões menores do que em 2014.


As vendas de óleo em bruto até impediram um resultado pior das exportações do Brasil à China no primeiro trimestre, com aumento de 35% em valor, mas Daiane pondera que a queda da cotação do barril deve impedir aumento do valor exportado no ano, mesmo com crescimento do volume desembarcado. "O barril de petróleo só deve voltar a superar US$ 70 em 2017, então a ajuda desse item é limitada", diz.


O que pode dar alguma ajuda à balança comercial, afirma Daiane, são as vendas de itens semi e manufaturados, também por causa da desvalorização do real, que aumenta um pouco a competitividade do produto nacional. A economista lembra que os desembarques de produtos semimanufaturados do Brasil para a China aumentaram 14% no primeiro trimestre, o que pode representar uma tendência, até por causa do maior interesse dos empresários nacionais em vender para o exterior.


Esse é um processo, porém, que deve ser lento, comenta Daiane, o que aponta para recuperação tímida do saldo da balança comercial neste ano, para um superávit de US$ 2 bilhões.


Campos Neto, da Tendências, projeta superávit de US$ 1,5 bilhão em 2015, resultado de uma queda de 0,7% das exportações e de 3,1% das importações. Uma recuperação dos desembarques, diz, só deve ficar mais clara no ano que vem. "O processo de recuperação de mercado, especialmente para manufaturados, é bem lento, mas esse movimento deve se intensificar ao longo de 2016, influenciado pela desvalorização do real", afirma.


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