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Valor Online ( Brasil ) - SP - Brasil - 15-04-2015 - 08:39 -   Notícia original Link para notícia
Juro alto impede recuperação da indústria

Por Vanessa Jurgenfeld | De São Paulo


As condições macroeconômicas desfavoráveis - em especial os juros mais altos do que seria "razoável" - vão impedir que a situação ruim da indústria brasileira, com redução da sua importância para a economia, seja revertida. Estudo realizado por Antonio Corrêa de Lacerda, professor da PUC-SP, e por Rodrigo da Rocha Loures, presidente do Conselho Superior de Inovação e Competitividade (Conic) da Fiesp, aponta que juros altos e taxa cambial real efetiva valorizada são algumas das condições macroeconômicas sistêmicas desfavoráveis que não permitirão a recuperação do setor, e, consequentemente, do crescimento do país.


"Sem resolver esse dilema - sem ter uma taxa de juros mais baixa e um câmbio mais competitivo -, o país não conseguirá retomar o crescimento", disse Lacerda, para quem o PIB industrial deve recuar neste ano entre 2% e 3%, após já ter contraído 1,2% em 2014.



Os juros tão altos, para esses autores, não se justificam, nem mesmo no controle da inflação. Lacerda destaca que se criou no Brasil um "sofisma" de que inflação se combate com elevação de taxas de juros, independentemente da sua causa. Para ele, grande parte da inflação brasileira nos últimos anos tem pouca relação com o excesso de demanda (o que justificaria o seu combate com base em restrições monetárias).


O entendimento desses autores é que as pressões inflacionárias no Brasil decorrem principalmente de questões de oferta: falta de investimentos, problemas de estiagem, urbanização, que encarecem produtos agrícolas, entre outras questões, que não se resolvem com juros mais altos.


Para os pesquisadores, o país tem uma taxa de juros "além do que seria razoável". Para mostrar isso, chamam a atenção para o fato de que, considerando a dívida líquida do setor público sobre o PIB, o Brasil - numa lista de dez países selecionados - é o que mais gasta com pagamento de juros como proporção do PIB. "Temos uma carga de juros que é de 5,2% do PIB, muito maior do que a Grécia (3,6%), que é um país quebrado", disse Lacerda.


"O Brasil, com dívida líquida de 33,6% do PIB, tem um custo de financiamento de 5,2% do PIB, enquanto países, cujas dívidas líquidas são proporcionalmente equivalentes, têm um custo de financiamento de cerca da metade, ou ainda menos que o brasileiro, como Polônia (2,1%), Holanda (1,3%), Canadá (0,4%) e Coreia do Sul (-0,4%)", reforçam os pesquisadores no estudo.


Uma taxa "mais razoável" levaria em conta a isonomia do Brasil em relação aos seus concorrentes internacionais. "Ou seja, uma taxa de juro real da ordem de 1% a 2% ao ano, mas atualmente estamos em 5%", disse Lacerda.


Os autores chegam a sugerir reformar a dívida pública brasileira introduzindo uma estrutura a termo da taxa de juros, premiando o longo prazo em detrimento do curto prazo. Segundo o estudo, hoje a dívida está excessivamente concentrada no curto prazo e os títulos, "ao contrário da normalidade, oferecem simultaneamente liquidez imediata, razoável nível de segurança e elevada rentabilidade", escrevem.


A mudança na estrutura da dívida traria "benefícios" ao país, porque reduziria o custo de financiamento da dívida, diminuiria o elevado custo do financiamento e do crédito, com vantagens para oferta de linhas de longo prazo no mercado, "hoje basicamente restritas aos bancos públicos", afirmam os autores. Isso favoreceria o setor industrial, hoje com crédito mais escasso e mais caro para realizar investimentos.


O ajuste do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, é criticado principalmente porque além de concentrar cortes de investimento público, corte de desonerações, é combinado com elevação de juros. "Isso torna todo o quadro ainda mais grave", diz Lacerda.


Para o professor da PUC-SP, a única mudança que seria capaz de afetar positivamente a indústria neste ano seria a desvalorização do real, em razão dos seus efeitos sobre a melhora das condições para o setor competir com os importados no mercado nacional e pela ampliação do mercado externo que pode proporcionar. Mas, ressalta, que entre algumas das limitações para que esse processo ocorra está o fato de que a desvalorização não é algo que acontece apenas com a moeda brasileira neste momento.


"Essa não é uma condição específica do país, pois há um movimento de desvalorização de várias moedas frente ao dólar", ressaltou. Dessa forma, explica ele, a desvalorização do real frente ao dólar dá maior competitividade do Brasil frente aos Estados Unidos, mas não em relação a outros países.


O estudo faz parte do livro "Indústria e Desenvolvimento Produtivo no Brasil", que será lançado pelo Ibre-FGV no próximo mês.


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