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Estadão ( Economia ) - SP - Brasil - 05-04-2015 - 11:51 -   Notícia original Link para notícia
Consignado escapa da freada do crédito

Só os aposentados e pensionistas da Previdência escaparam da freada do crédito. Em fevereiro, a única linha de financiamento que registrou aumento no ritmo de concessões foi a do crédito consignado dos beneficiários do INSS. Nessa modalidade de financiamento, onde o desconto da prestação do empréstimo é feito antes de o benefício chegar ao bolso do aposentado ou pensionista, houve acréscimo de 1,6% nos financiamentos aprovados. Segundo o Relatório de Crédito do Banco Central, em fevereiro os aposentados e pensionistas tomaram R$ 4,213 bilhões em novos empréstimos.


Enquanto houve um avanço, ainda que pequeno, no crédito para aposentados e beneficiários da Previdência, nas demais linhas de financiamentos voltadas a pessoas físicas as concessões deram marcha à ré, com recuos expressivos até mesmo nos empréstimos consignados para os trabalhadores do setor privado (-12,8%) e do serviço público (-4,5%).


De janeiro para fevereiro, a retração nos novos empréstimos atingiu também o crédito tapa-buraco, ou seja, aquele financiamento mais caro usado em situações de emergência. Nesse rol estão o cheque especial, que teve queda de 3% nas concessões, o crédito pessoal não consignado (-9,8%) e o cartão de crédito (-8,5%), com retração em todas as modalidades - à vista, rotativo e parcelado.


O tombo na tomada de novos financiamentos foi ainda maior nas linhas atreladas à compra de um bem. Em veículos, por exemplo, os novos empréstimos caíram 23,5%. Em outros bens, a retração foi de 17% em fevereiro ante janeiro.


"A demanda de crédito hoje é por dinheiro e não para consumo", afirma o economista-chefe da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), Nicola Tingas. Segundo ele, o aumento da inflação, da taxa de juros e o desaquecimento do mercado de trabalho afetaram a capacidade das famílias de fechar as contas no final do mês. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


'TROCO DE BANCO E VOU REFINANCIANDO'



O consignado dos aposentados funciona como uma espécie de crédito tapa-buraco para socorrer as finanças da família, ajudar a fechar as contas do mês e pagar dívidas mais caras. Usar esse dinheiro para ir às compras não está entre as prioridades dos que contraem o empréstimo.

"Peguei crédito consignado no meu nome para ajudar a pagar as dívidas das minhas duas filhas", conta o gráfico aposentado José Aparecido Ferreira, de 69 anos. Ele tem uma aposentadoria de R$ 2,8 mil, mas, na prática sobram R$ 1,8 mil por mês depois de pagar a prestação do consignado.

Entre dois empréstimos, Ferreira pegou cerca de R$ 11 mil em crédito consignado. "Se fosse só para mim, eu não precisava de crédito consignado não." Mas ele conta que as filhas repõem mensalmente o valor da prestação. "Tenho três anos de consignado para pagar daqui para frente."

Já a bancária aposentada Esther Meirelles Montenegro, de 69 anos, tem quatro empréstimos consignados para uso próprio. O financiamento foi feito para quitar dívidas mais caras, como a do cartão de crédito e do empréstimo pessoal.

"Desde que começou o consignado troco de banco e vou refinanciando", diz ela, que reclama da dificuldade de migrar de um empréstimo consignado com taxa maior para outro banco que cobra menos. "Os bancos dificultam a portabilidade."

O empréstimo inicial da aposentada era de R$ 10 mil. Atualmente ela recebe uma aposentadoria de R$ 2,1 mil e paga uma prestação mensal de R$ 670 pelos quatro empréstimos. "Sobra muito pouco", diz Esther, fazendo referência ao dinheiro que tem líquido no bolso, depois de pagar a prestação e cobrir os gastos do convênio médico, entre outras despesas obrigatórias. Ela conta que já cortou muito gastos. "Antes a gente viajava e almoçava fora com maior frequência."

Comida. Para o segurança aposentado Pedro Nunes dos Reis, de 85 anos, o consignado tem um papel essencial: fechar as contas do mês. "Recebo R$ 2,3 mil. Esse dinheiro é muito ruim, não dá para viver", reclama. Ele conta que pegou um financiamento consignado de R$ 700 para cuidar da saúde e comprar comida também. "Só a aposentadoria não dá."

Para Reis, despesas com comida e saúde são as que mais pesam no seu orçamento. "A gente vai no posto de saúde, o médico dá a receita, mas não tem o remédio para oferecer", afirma. / M.C.


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