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Isto é Dinheiro online ( Economia ) - SP - Brasil - 04-04-2015 - 11:31 -   Notícia original Link para notícia
Cinquentão envergonhado


Dois dias antes do aniversário de 51 anos do golpe militar, que resultou em duas décadas de ditadura, uma das instituições criadas naquele período comemorou seu cinquentenário de maneira envergonhada. Na segunda-feira 30, o presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, reuniu funcionários, ex-presidentes e diretores da instituição num auditório para uma cerimônia a portas fechadas. O objetivo era se proteger do olhar crítico da imprensa e da sociedade. Com inflação estourando o teto da meta, dólar em alta e juros elevados, a autoridade monetária tem poucos motivos para se orgulhar.


A tentativa de esconder a comemoração acabou frustrada. Enquanto Tombini discursava, um grupo de 40 servidores vestidos com uma camiseta de protesto virou-lhe as costas por cerca de cinco minutos, antes de deixarem a sala em silêncio, enquanto o chefe ainda falava. Em greve durante toda a semana, eles representam 580 técnicos, menos de 10% do quadro total do BC, e reclamam do descumprimento, por parte do governo, de três acordos para estruturar a carreira de especialistas. Nas camisetas dos funcionários, a pergunta: "Comemorar o quê?"


A irônica pergunta também está na mente de boa parte dos analistas do setor privado, que acompanham a atuação do Banco Central e semanalmente declaram à instituição suas projeções para o País. A mais recente mostra uma expectativa de recessão de 1% para este ano, com inflação de 8,13%, taxa de juros de 13,25% e câmbio a R$ 3,20. No discurso, Tombini destacou a responsabilidade da instituição. "Preservar o poder de compra da moeda e assegurar a estabilidade do sistema financeiro nacional são pilares fundamentais para o desenvolvimento econômico e social de qualquer país", afirmou.


Na teoria, o discurso é correto, mas o histórico de Tombini mostra que a principal atribuição da autoridade monetária do País não vem sendo cumprida: a manutenção do poder de compra da moeda. Desde que assumiu seu mandato, em 2011, nunca conseguiu entregar a inflação dentro do centro da meta, de 4,5%. Em 2014, quase ultrapassou o teto, de 6,5%. Neste ano, isso acontecerá com certeza, segundo previsão do próprio BC. O desempenho do atual presidente, na comparação com seu antecessor, Henrique Meirelles, é francamente desfavorável nesses quesitos. O descontrole da inflação não é, no entanto, o único problema da gestão Tombini.


O aumento da taxa de juros, numa tentativa desesperada de conter a inflação, cobra sua conta na queda dos investimentos privados e no aumento da dívida pública. O programa de swaps cambiais, abandonado neste mês, também custou caro e foi insuficiente para conter a alta do dólar. Os gastos do governo com juros, em torno de 5,2% do PIB, entre 2009 e 2013, saltou para 6,7%, no início deste ano, considerando o cálculo antigo do PIB. Boa parte da dívida é resultado das perdas com os swaps cambiais. "O Banco Central ficou na ponta errada, e agora vai depender da sorte", afirma o economista Carlos Thadeu de Freitas Gomes, exdiretor do BC e chefe da divisão de economia da Confederação Nacional do Comércio (CNC). "O erro do BC foi contaminar-se com o otimismo do governo."


Na foto de Tombini com ex-presidentes e ex-diretores notaram-se algumas ausências, como a do ex-presidente Affonso Celso Pastore, citado por ele, e a do ex-diretor Alexandre Schwartsman. Pastore disse em recente palestra que a gestão Tombini nunca entregou a inflação na meta. O Banco Central respondeu que na época dele, nos anos 1980, o índice era maior. Schwarstman, por seu turno, foi ameaçado de processo por manifestar suas críticas à autoridade monetária em entrevistas à imprensa. Ao comentar o convite, disse que preferia não aceitar agrados de quem prometeu processá-lo. "Fica para os 100 anos!", escreveu no Twitter.


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