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Diário do Comércio online - BH (MG) ( Opinião ) - MG - Brasil - 02-04-2015 - 10:08 -   Notícia original Link para notícia
Cesar Vanucci - Voltando aos reclames governamentais

"Os gastos com publicidade durante os governos tucanos em Minas dariam para construir duas novas cidades administrativas." (Carlos Alberto Teixeira de Oliveira, presidente da Associação dos Economistas MG)

Semanas atrás andamos comentando neste espaço o despropósito dos gastos publicitários governamentais nos níveis federal, estadual e municipal. Lembramos que a opinião pública acompanha com total desagrado essa frenética disputa por espaço midiático que os setores mencionados vivem travando com anunciantes de grande porte, ao estilo do "Magazine Luiza", "Ricardo Eletro", "Casas Bahia", marcas de cerveja e de veículos. Complementamos o registro com uma momentosa ilustração. Nos últimos dias do ano transcorrido, em todos os intervalos do chamado "horário nobre", até mesmo na hora do foguetório da despedida de 2014, nos estertores a bem dizer do mandato, o governo de Minas manteve-se ruidosamente empenhado na divulgação de peças publicitárias na televisão chamando com insistência a atenção do distinto público para o "colosso" de realizações promovidas em favor da coletividade.

Até aquele momento, espantados com o que víamos na telinha, ainda desconhecíamos os impressionantes dados oficiais sobre os exorbitantes aportes de recursos em propaganda feitos no curso das gestões administrativas do PSDB no Estado. Não sabíamos, por exemplo, que a dinheirama aplicada sob a rubrica "publicidade" entre 2003 e 2013 daria para construir duas novas ôcidades administrativas" da imponência da que foi implantada à margem da rodovia que leva ao Aeroporto Internacional de Confins. Quem nos colocou a par dessa desconcertante revelação, numa análise esmiuçada das contas públicas estampada em edição do "Mercado Comum", março de 2015, foi o conceituado economista Carlos Alberto Teixeira de Oliveira, presidente da Assemg (Associação dos Economistas de Minas Gerais) e do Ibef Nacional (Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças). As informações são parte de um alentado estudo que traz outros dados desnorteantes relativos à economia brasileira e mineira. No que concerne especificamente à publicidade paga pelo governo de Minas Gerais no período reportado, o autor do trabalho se louva em levantamento feito junto ao Tribunal de Contas do Estado. Fica demonstrado que os dispêndios a esse título, em valores atualizados de 2013, atingiram a altitude everestiana de 2 bilhões, 172 milhões e 58 mil reais. Para que se possa ter uma ideia mais ampla do significado desse incrível gasto, é bom saber que a soma apontada é 27 por cento superior ao patrimônio líqüido do BDMG (Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais), ou seja, um bilhão setecentos e dez mil reais no final de 2013. A média anual dos recursos aplicados em publicidade pelo governo mineiro alcançou, nos períodos administrativos referidos, a impressionante cifra de 197 milhões, quinhentos e dez mil reais. Em 2013 o valor apurado foi de 254 milhões 180 mil reais.

A lembrança ainda muito acesa de que parte substancial dos reclames oficiais conferia ênfase toda especial aos assim chamados "choque de gestão" e "déficit zero", fundamentais na programação administrativa dos governos tucanos, produz compreensível impacto no espírito popular diante de outras revelações surgidas da análise dos números da economia estadual.

A descomunal dívida pública deixada é, por exemplo, de apenasmente 88 bilhões 272 milhões 50 mil reais (Uai! e o "déficit zero"?). Valor superior à receita anual do Estado, que chegou em 2014 a 73 bilhões 347 milhões. Desponta aí, indisfarçavelmente, lembrando o que ocorre hoje em matéria de dívida pública na Comunidade Europeia das Nações, um certo toque de tragédia grega na vida financeira do Estado.

Mas não se restringem a esses dados os registros chocantes. Minas foi também o Estado que, nos últimos anos, mais se endividou em moeda estrangeira. Em dezembro do ano findo, o volume da dívida externa de Minas totalizava 9 bilhões 396 milhões, correspondendo a 21,8 por cento da receita corrente líquida. De outra parte, o relatório de gestão fiscal e o orçamento fiscal da Secretaria da Fazenda relativos ao período janeiro/dezembro de 2014 expuseram uma situação inesperada e extremamente penosa do ponto de vista da gestão financeira. Com receitas da ordem de 73 bilhões 347 milhões e despesas estimadas em 75 bilhões 512 milhões, as contas públicas acusaram um déficit de quase 2 bilhões. Isso foi detectado na precisa hora da mudança do comando administrativo.


* Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)


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