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Valor Online ( Empresa ) - SP - Brasil - 26-03-2015 - 09:54 -   Notícia original Link para notícia
Mapa da urbanização pode ajudar na geração de novos negócios

Por Cristian Klein, Alessandra Saraiva e Robson Sales | Do Rio


Fonte de informação para a exploração de negócios por empresas privadas e uma base de dados que pode incentivar a parceria de municípios na oferta mais eficiente de serviços públicos. O inédito mapa da urbanização brasileira, que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) lançou ontem, poderá servir, afirmam pesquisadores, tanto para a elaboração de novas políticas públicas quanto para a descoberta de estratégias de mercado pelos agentes da iniciativa privada.


Com o estudo "Arranjos populacionais e concentrações urbanas do Brasil", o IBGE amplia o conhecimento sobre as aglomerações urbanas no país, antes concentrado no grupo das grandes e mais importantes regiões metropolitanas - cuja delimitação nem sempre segue critérios técnicos. De acordo com a Constituição de 1988, cabe às Assembleias Legislativas estaduais definir que municípios participam dessas regiões, num processo fragmentado e sujeito a influência política.



A grande novidade é o fornecimento de informação baseada em critérios sociodemográficos, nacionalmente padronizada, e a inclusão de municípios que formam concentrações urbanas pequenas (até 100 mil habitantes) e médias (entre 100 mil e 750 mil habitantes), cujas populações são fortemente integradas, seja pelo deslocamento para estudar ou, principalmente, trabalhar.


Com o mapeamento do fluxo de pessoas entre os municípios, o IBGE destaca conjuntos, ou arranjos, de população que podem ser tratados como uma só unidade territorial. Foram identificados 294 arranjos populacionais, formados por 938 municípios, que reuniam 106,8 milhões de habitantes. Representavam quase 56% da população brasileira em 2010. O impacto do levantamento para as estratégias de empresas e governos é direto.


"Redes de lojas, por exemplo, terão uma unidade mais interessante para avaliar melhor o seu mercado, sua logística, seus investimentos", afirma Claudio Stenner, coordenador de geografia da diretoria de geociências do IBGE.


No setor público, o estudo deixa claro que, para determinados municípios, faz mais sentido uma atuação em parceria com outras prefeituras na solução de problemas. "Não adianta pensar no meu município, isoladamente, na hora de construir um hospital ou uma escola, ao saber que eles serão utilizados pela população de outros municípios", afirma o pesquisador Paulo Wagner Marques.


Para Maurício Gonçalves e Silva, também da equipe do IBGE, os municípios grandes, geralmente capitais que formam regiões metropolitanas, percebem que devem buscar parcerias com seus vizinhos. "Mas não sei se todos têm a mesma noção do que está acontecendo e de que têm que sentar juntos. Nos municípios que formam médias concentrações urbanas, uns têm, outros não. Mas os pequenos não têm essa noção", diz.


Para Tânia Bacelar, professora da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e sócia da consultoria Ceplan, o estudo do IBGE está em sintonia com uma nova realidade. Os Censos, afirma a economista, têm apontado uma mudança na urbanização brasileira. Há o crescimento mais lento das grandes metrópoles e uma taxa maior registrada pelas chamadas "cidades intermediárias", entre 200 mil e 2 milhões de habitantes. "Esse mapeamento está buscando as novas tendências. E isso é verdade, realmente está acontecendo", diz Tânia, ao citar a integração recente e intensa entre os municípios de Juazeiro do Norte, Crato e Barbalha, no Ceará, que formam um arranjo de 426.690 pessoas pelo estudo do IBGE.


Tânia afirma que esse fenômeno é impulsionado menos pela indústria e mais pelos setores de comércio e serviços, principalmente no Nordeste. A região, lembra, experimentou na última década um crescimento de renda, "que acionou o consumo e que, por sua vez, acionou o comércio". O novo quadro é ainda incentivado pela descentralização na oferta de serviços de saúde e educação. "É uma festa de motos, ônibus, micro-ônibus, que levam e trazem pessoas de um município para o outro nessas cidades", diz.


Entre os menores arranjos populacionais identificados pelo IBGE estão o de Serranos-Seritinga, em Minas Gerais, e um dos 27 arranjos fronteiriços, formado pelo município gaúcho Porto Vera Cruz e o argentino Panambí, ambos com menos de 4 mil habitantes. O maior arranjo é o de São Paulo, com 19,6 milhões de pessoas, formado por 36 municípios.


Por se articular intensamente com outros dez arranjos paulistas (entre eles os liderados por Campinas, Jundiaí, Sorocaba, Baixada Santista e São José dos Campos), São Paulo é considerada a única cidade-região do Brasil, termo que extrapola a ideia de metrópole e se aplica a enormes concentrações urbanas globais, como as de Tóquio e Nova York. A cidade-região de São Paulo engloba 89 municípios, tem 27,4 milhões de habitantes e responde por 25% do PIB nacional, impulsionado por quase 1 milhão de empresas (993.789, em 2011).


O estudo do IBGE será realizado a cada dez anos a partir de dados do Censo Demográfico. Por enquanto, não permite comparações. Mas favorece cruzamentos com dados sobre PIB, números de empresas e põe o Brasil na linha de frente em relação a outros países, argumenta Sérgio Besserman Vianna, professor da PUC-Rio e ex-presidente do IBGE. "Sempre fomentei que se usassem critérios sociodemográficos. Portugal tem um modelo sofisticadíssimo e até a Argentina. Aqui, costumava-se a usar a lei orgânica dos municípios e nossa taxa de urbanização atinge mais de 80%. Ocorre que qualquer município tem interesse em aumentar sua área urbana para aumentar a arrecadação, já que o IPTU é sempre um imposto mais alto do que o IPTR. Fora o estigma de que o rural representa o atraso", afirma.


Com critérios técnicos, o estudo do IBGE mede o deslocamento absoluto e relativo de pessoas, por meio de um índice de integração, entre os municípios que formam um arranjo populacional.


SP e Rio aceleram arranjo Compartilhar:



Por Cristian Klein, Alessandra Saraiva e Robson Sales | Do Rio


Separados por cerca de 430 quilômetros, Rio e São Paulo ainda não formam um arranjo populacional, mas, de acordo com os pesquisadores do IBGE, essa tendência está em andamento e pode ocorrer naturalmente ou ser acelerada com projetos voltados para a área, como é o caso do trem-bala, adiado pelo governo federal.


Cerca de 13,4 mil pessoas se deslocaram para trabalhar ou estudar entre as maiores capitais do país. Em números absolutos, o recorde nacional de deslocamentos entre dois municípios é mais de dez vezes maior do que o que ocorre no eixo Rio-São Paulo. Trata-se da ligação entre São Paulo e Guarulhos, que registrou movimento de 146,3 mil pessoas. Logo atrás vieram os municípios fluminenses de Niterói e São Gonçalo, com 120,3 mil pessoas que realizaram o movimento pendular de sair e voltar para casa para trabalhar ou estudar na cidade vizinha.


Pelo estudo do IBGE é possível saber que, embora o movimento para trabalhar seja sempre majoritário, Belford Roxo e Nova Iguaçu, também no Estado do Rio, se destacam por terem 36% dos deslocamentos voltados para o estudo.


Pesquisadora do instituto, Mônica O'Neill não arrisca dizer que se trata de uma especialização, mas seis dos sete maiores fluxos para estudar, em termos percentuais e em arranjos com mais de 2,5 milhões de habitantes, foram realizados entre municípios do Rio.


Mônica, no entanto, é mais afirmativa ao dizer que se "percebe uma revitalização econômica do Rio de Janeiro" pelo fato de que três arranjos do Estado - Campos dos Goytacazes, Macaé-Rio das Ostras e Resende - constam entre os dez maiores PIBs entre as concentrações urbanas de médio porte.


Já o arranjo de Campinas mostra sua força quando comparado ao de Salvador. Tem quase o mesmo número de empresas (66.281 contra 68.925), embora a população seja de 54% do total em torno da capital baiana.


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