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Valor Online ( Finanças ) - SP - Brasil - 17-03-2015 - 08:37 -   Notícia original Link para notícia
Credit Suisse revisa setores de energia e bens de capital

Por Natalia Viri, Daniela Meibak e Thais Carrança | De São Paulo


O Credit Suisse revisou suas estimativas para as ações de energia elétrica, diante das incertezas em relação ao cenário para as chuvas e de um potencial racionamento. Nesse contexto, o banco elevou a recomendação para as ações da Energias do Brasil e da Tractebel de "neutra" para "compra" e rebaixou a indicação para os papéis da Cemig e da Taesa para "venda".


Apesar de considerar o corte compulsório da demanda "prudente" para garantir o abastecimento futuro, o Credit acredita que a medida não deverá ser anunciada pelo governo neste ano. "Em nossa visão, o governo brasileiro vai declarar o racionamento apenas se houver uma certeza cristalina de que os reservatórios ficarão abaixo de 10% em novembro", afirma o analista Vinicius Canheu, em relatório enviado a clientes.


Nesse cenário, a principal preocupação do banco diz respeito ao déficit de geração hídrica. Pelas regras do setor, a diferença entre as garantias físicas das usinas hidrelétricas e a energia que elas são efetivamente capazes de despachar é liquidada no mercado de curto prazo e rateada entre todos os empreendimentos que compõem o sistema, numa conta que chegou a mais de R$ 20 bilhões em 2014.


Na avaliação do Credit, esse déficit deve ficar em 15% neste ano, acima do patamar de cerca de 12% de 2014, e deve seguir como uma preocupação em 2016, dada a expectativa de saturação dos reservatórios sem o racionamento e um novo cenário hidrológico adverso.


O banco aponta, contudo, que as incertezas em relação ao quadro de curto prazo escondem boas oportunidades de valor num horizonte mais longo. Segundo a equipe de análise, diante dos maiores riscos percebidos pelo setor e da necessidade de ampliar a matriz energética, a curva de preços de energia elétrica deve subir no longo prazo, criando boas oportunidades para geradoras.


Além disso, o aumento nas taxas mínimas de retorno (dadas pelo WACC, ou custo médio ponderado de capital) tanto para distribuidoras quanto para transmissoras devem se traduzir em melhor rentabilidade também para esses dois segmentos. A mudança de recomendação para as ações da Tractebel de "neutra" para "compra" vai nesse sentido. O Credit acredita que a geradora é uma das mais bem posicionadas para se beneficiar do aumento dos preços da energia no médio e longo prazo.


"Vemos a recente indicação de dividendos menores como uma iniciativa prudente e não apenas baseada em temores de racionamento, e ligada à manutenção de uma posição de caixa forte para aproveitar oportunidades futuras, tanto em leilões quanto em fusões e aquisições", explica Canheu. O preço-alvo estimado para as ações ordinárias da companhia em 12 meses é de R$ 38.


No caso da Energias do Brasil, que também foi elevada para "compra", a percepção do banco é que as ações estão entre as mais baratas do setor em relação ao seu potencial. Conforme a equipe de análise, a empresa, controlada pela portuguesa EDP, está pronta para reverter as recentes decepções operacionais, já que o segmento de distribuição deve ter retornos melhores e a usina térmica de Pecém começa a mostrar bons resultados. O preço-alvo em 12 meses foi elevado de R$ 12 para R$ 13.


Além das duas empresas, o Credit tem recomendação de compra para os papéis da distribuidora Equatorial, com preço-alvo estimado em R$ 36, e para a CPFL Energia, com preço-alvo de R$ 22.


Na contramão, a equipe do banco vê pouco potencial de valorização para as ações preferenciais da Cemig e passou a recomendar a venda dos papéis. "Acreditamos que é pouco provável que a Cemig seja bem-sucedida em sua tentativa de negociar termos melhores para a renovação de suas três usinas com a União", disse Canheu.


A equipe rebaixou também a recomendação para os papéis da transmissora Taesa, controlada pela estatal mineira, para venda. Na avaliação dos analistas do banco, a empresa está protegida de um eventual racionamento, já que suas receitas independem do volume de energia que passa pelas linhas, mas esse benefício já está completamente "no preço".


O setor de bens de capital também foi alvo de revisão das estimativas pelo Credit Suisse, o que gerou corte nos preços-alvo das companhias brasileiras que a casa acompanha. De acordo com a instituição, os níveis de confiança ficaram muito menores nos últimos três meses. Em novembro, a expectativa da indústria para veículos leves e pesados era de queda marginal na produção de cerca de 5%. Em janeiro, as empresas começaram a ajustar o cronograma de produção com um cenário de redução de dois dígitos.


"Após considerar o cenário macroeconômico mais incerto, acreditamos que o declínio da produção deve ser de 15% para veículos leves, 15% para ônibus e 30% para caminhões", afirmam os analistas Bruno Savaris e Felipe Vinagre, em relatório.


Depois de incorporar as perspectivas mais fracas para a indústria, os analistas cortaram as estimativas de resultados para as empresas em 34%, em média, sendo uma redução de 44% no caso de Marcopolo, 38% para Randon, 35% para Iochpe-Maxion, 29% para Metal Leve e 25% para Tegma.


Com isso, o preço-alvo para a Iochpe-Maxion caiu de R$ 20 para R$ 19; para a Randon, de R$ 8 para R$ 4,50; Marcopolo, de R$ 4,50 para R$ 3,50; Metal Leve, de R$ 28 para R$ 23; e Tegma, de R$ 27 para R$ 19. Iochpe e Tegma têm recomendação de compra e as demais, neutra.


No setor de petróleo, o Itaú BBA revisou suas projeções para as empresas Queiroz Galvão Exploração e Produção (QGEP) e HRT. Para a QGEP, a recomendação permanece em "outperform" (desempenho acima da média do mercado, equivalente à compra), mas o preço-alvo foi reduzido de R$ 18 para R$ 12,90. Em relação à HRT, a recomendação foi rebaixada para "underperform" (desempenho abaixo da média do mercado, equivalente à venda), com preço-alvo também cortado, de R$ 13 para R$ 8,40.


No caso do QGEP, "a redução se justifica pela exclusão do projeto Carcará, enquanto o preço do petróleo mais baixo foi parcialmente compensado pela redução dos custos de Atlanta e um real mais depreciado", justifica a analista Paula Kovarsky, do Itaú BBA.


Já o corte de HRT, segundo a analista, é sustentado por novas premissas macroeconômicas, preços mais fracos de petróleo, exclusão da participação adicional de 40% no campo de Polvo a ser adquirida pela empresa Maersk e incorporação dos campos de Bijupirá e Salema. "Mesmo que o preço do petróleo aumente, a HRT terá que provar sua capacidade de reverter ou reduzir o ritmo de esgotamento natural dos campos, a fim de gerar valor", ressalta a analista.


No segmento de infraestrutura, o Citi cortou o preço-alvo para as ações da concessionária EcoRodovias de R$ 12 para R$ 10, mas reiterou a recomendação neutra. Os volumes de tráfego de veículos mais fracos que o esperado para o quarto trimestre, despesas maiores com aumento da taxa de juros e mudanças em tributação levaram à redução das estimativas para a empresa.


De acordo com o Citi, a forte dependência da EcoRodovias do tráfego de veículos pesados deixa as operações vulneráveis, considerando que as fracas condições econômicas poderiam continuar a pressionar essa fonte de fluxos de caixa de margem alta. Diferentemente da rival CCR, que está aproveitando os bons resultados dos seus projetos de metrô e seus investimentos em aeroportos estrangeiros, as operações de logística e portos da EcoRodovias ainda não encontraram o fundo do poço, destaca o banco.


O fraco desempenho em bolsa, pondera o Citi, faz com que a EcoRodovias não tenha uma interpretação ainda mais negativa do ponto de vista dos investimentos. Apesar disso, ressalta, não há catalisadores de curto prazo para as ações.


O preço-alvo dos ADRs da companhia aérea Gol também foi cortado pelo Citi, de US$ 6 para US$ 5,50. A recomendação é de compra. De acordo com o relatório assinado pela equipe do analista Stephen Trent, o banco incluiu no modelo o real mais fraco, o que aumenta e expectativa de custos operacionais e com dívida em moeda local, pois são denominados em dólar.


A recomendação continua de compra, apesar da extrema volatilidade no curto prazo para o preço-alvo das ações, destaca o banco americano. As pressões do câmbio poderiam levar a empresa a cortar capacidade, segundo a casa. Além disso, a baixa probabilidade de o Brasil lançar neste ano estímulos para aviação regional significa que a necessidade de capital de algumas operadoras poderia piorar. O Citi destaca que, no dia 23, os detentores de ações preferenciais da empresa vão deliberar sobre o aumento dos direitos econômicos dos papéis em 35 vezes.


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