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Valor Online ( Finanças ) - SP - Brasil - 17-03-2015 - 08:34 -   Notícia original Link para notícia
Concorrência de bolsas traz ganhos, diz consultor

Por Vinícius Pinheiro | De São PauloEstrutura de custos da BM&FBovespa afasta potenciais investidores do mercado brasileiro, afirma Larry Tabb


Com uma das maiores economias do mundo, o Brasil conta com um mercado de capitais ainda pouco desenvolvido em relação a outros países. Para o consultor americano Larry Tabb, parte do problema está nas altas tarifas cobradas dos investidores pela BM&FBovespa, por onde passam os negócios de compra e venda de ações. "A competição entre bolsas de valores ajudaria a reduzir os custos e a ampliar o mercado", afirma.


Consultor do CFTC, um dos órgãos reguladores do mercado americano, Tabb vem ao Brasil nesta quinta-feira para participar de um seminário promovido pela Ancord, associação que representa as corretoras. Pressionadas por custos em alta e margens apertadas, elas teriam a ganhar com a entrada de um concorrente para a BM&FBovespa, segundo o executivo, fundador da empresa de pesquisa e consultoria Tabb Group.


Um dos efeitos da chamada fragmentação dos mercados de ações em dezenas de bolsas e ambientes de negociação privados ("dark pools") no exterior na última década foi justamente a transferência de parte das margens de negociação das bolsas para as corretoras e investidores, de acordo com o especialista. "A concorrência permitiu às corretoras oferecerem serviços diferenciados a seus clientes", diz.


A regulação brasileira não deve permitir que ocorra o mesmo fenômeno dos Estados Unidos, onde existem hoje 11 bolsas e 41 dark pools, segundo o especialista. "Não acredito que a CVM permitirá a criação de dark pools no Brasil", afirma. Questionado sobre a viabilidade de um novo competidor ingressar neste momento no país, Tabb reconhece que se trata de uma missão difícil, em particular para empresas estrangeiras. "Mas para uma firma local o momento é tão bom quanto qualquer outro, talvez até melhor", diz.


O debate sobre a concorrência no mercado de ações brasileiro começou em 2011, com o anúncio das americanas Bats e Direct Edge de instalarem plataformas de negociação alternativas à BM&FBovespa. Até o momento, a única empresa que formalizou o pedido para criar uma nova bolsa no país foi a ATS Brasil, um projeto de executivos brasileiros financiado por fundos de pensão estatais e que até o momento não saiu do papel. Tabb participou no ano passado de um evento promovido pela companhia em São Paulo.


Depois de vários anos em forte crescimento, o giro médio diário da bolsa brasileira mantém-se praticamente estagnado entre R$ 6 bilhões e R$ 7 bilhões desde 2010. Embora avalie que fatores macroeconômicos, como as altas taxas de juros, prejudiquem o mercado local, Tabb diz que a estrutura de custos da BM&FBovespa afasta potenciais investidores. "O Brasil tem um mercado de ações muito menor do que o tamanho da economia", afirma.


A BM&FBovespa argumenta que a comparação dos custos de negociação com outros mercados em geral não considera que a companhia também presta serviços de liquidação e custódia dos ativos, diferente da maioria das bolsas internacionais. Para se proteger da concorrência, a BM&F rebalanceou as tarifas, colocando maior peso na cobrança dos serviços de "pós-negociação".


A competição entre bolsas também rendeu polêmica no mercado americano após a publicação do livro "Flash Boys", do jornalista Michael Lewis. O autor revela práticas supostamente irregulares dos sistemas de alta frequência (HFT, na sigla em inglês), que realizam operações na escala de microssegundos (equivalente a um milionésimo de segundo). De acordo com o livro, a possibilidade de atuar em várias bolsas permite aos HFT terem acesso e se anteciparem às ordens de compra e venda dos demais investidores.


Tabb tem uma visão crítica do trabalho de Lewis e diz que o livro é parcial. Para ele, os sistemas de alta frequência contribuíram para aumentar a liquidez dos mercados. "Os HFT competem entre em si e hoje ganham menos dinheiro do que no passado", afirma. No modelo de concorrência proposto no Brasil, em que as corretoras precisam executar as ordens de compra e venda na bolsa que tiver as melhores condições, os investidores estariam protegidos de eventuais problemas, segundo o consultor.


A eventual entrada de um concorrente obrigará as corretoras a investir em sistemas para se conectar à nova bolsa, em um momento em que a maior parte das instituições enfrenta dificuldades financeiras. "Mas os ganhos potenciais da competição, como a redução nos custos e a possibilidade de oferecer novos serviços aos investidores, mais que compensam os custos de conectividade", defende Tabb.


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