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Valor Online ( Empresa ) - SP - Brasil - 16-03-2015 - 11:19 -   Notícia original Link para notícia
Fraco início de ano açoda revisão das vendas de carros

O primeiro trimestre nem terminou e a indústria de veículos já se vê forçada a rever previsões sobre o desempenho do setor que se mostraram otimistas demais depois do fraco desempenho no início do ano. A mudança das expectativas está sendo brutal.


Dois meses após anunciarem suas apostas, a Fenabrave, entidade das concessionárias, subiu de 0,5% para 10% a projeção de queda das vendas de veículos neste ano, enquanto a Anfavea, associação das montadoras, adiantou que pretende divulgar em abril um corte significativo de suas estimativas, que, por enquanto, apontam para estabilidade das vendas, alta de 4,1% da produção e avanço de 1% das exportações. Em 2014, a entidade das montadoras esperou o fim do primeiro semestre, quando a tendência recessiva já estava bem delineada, para "jogar a toalha" nas previsões de retomada.


O desempenho de fevereiro, remetendo o setor de volta a números da crise financeira de 2008/2009, foi a pá de cal sobre qualquer esperança de que o mercado poderia, ao menos, repetir o resultado de 2014, quando 3,5 milhões de veículos foram licenciados no país. Se no início do ano falar em queda de 10% parecia ser uma conta pessimista - dado que o mercado já vinha de uma contração de 7,1% em 2014 -, hoje, crescem as apostas na variação negativa de dois dígitos, a ponto de essa tendência já ser encampada até mesmo oficialmente por importantes entidades do setor como a Fenabrave e a Abeifa, que representa as marcas importadas.


Entre as consultorias especializadas, a Jato Dynamics revisou de 3% para 13,5% a queda esperada no consumo nacional de veículos em 2015. A Oikonomia, por sua vez, entrou em janeiro com a expectativa de redução de 2,4%, mas agora suas previsões estão na faixa de 11% a 13%. Raphael Galante, analista da Oikonomia, diz ver, até outubro, uma tendência de moderação dos índices negativos registrados no primeiro bimestre, quando houve queda de 23,1% dos emplacamentos. No entanto, adianta o consultor, a diferença em relação a 2014 deve voltar a subir com o fortalecimento da base de comparação nos dois últimos meses do ano. Nesse ponto, vale lembrar que dezembro de 2014 foi o terceiro melhor mês das vendas de carros novos na história.


Nas contas do Bradesco, o consumo de carros terá queda de 5%, ao passo que o de veículos pesados - caminhões e ônibus - deve cair 12%, o que, em conjunto, resultaria em queda de 5,3% das vendas totais de veículos.


A quebra na confiança dos consumidores na economia, a seletividade bancária nas concessões de crédito e o esgotamento da demanda após a antecipação de compras em dezembro - antes do aumento do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) - estiveram, na divulgação dos resultados de fevereiro, entre os motivos mais citados por fontes da indústria e do varejo de automóveis na análise do pior primeiro bimestre em cinco anos.


Também compõe o quadro a adversidade macroeconômica. Juros e inflação em alta, em paralelo à retirada de incentivos ao consumo, ajudam a tirar poder de compra das famílias, ao passo que a tendência de recessão na economia joga contra investimentos em frotas de veículos comerciais, dada a perspectiva de menor transporte de cargas.


Tanto na crise de 2008/2009 como em 2012, as últimas vezes em que as montadoras atravessaram zonas de turbulência, o governo conseguiu reverter a tendência baixista e garantir novos recordes nas vendas de carros com cortes nas alíquotas do IPI e medidas para destravar o crédito. A indústria, contudo, não pode mais contar com essa solução porque, além de o IPI reduzido ter mostrado menor eficácia nos últimos dois anos, o governo, como se sabe, promove um arrocho na política fiscal para cumprir a meta de superávit primário e, com isso, tentar não perder o selo de bom pagador conferido pelas agências de classificação de risco.


Até então, dirigentes de montadoras vinham, ao menos em declarações públicas, manifestando apoio ao esforço da equipe econômica no sentido de equilibrar as contas públicas, mesmo quando foram retirados os dois principais estímulos à venda de veículos no país: os descontos no IPI e as taxas superbaixas dos financiamentos a caminhões e ônibus. Nos bastidores, porém, já começam a surgir demonstrações de grande insatisfação com as medidas anunciadas pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy.


A boa vontade com a condução da política econômica "azedou", principalmente, depois que o Planalto resolveu mexer na desoneração da folha de pagamento e no Reintegra, o programa de restituição de impostos a empresas exportadoras. Uma das queixas é que o governo cortou a alíquota de devolução de crédito do Reintegra - de 3% para 1%, até 2016, e 2%, em 2017 - quando, na direção oposta, a indústria "brigava" para aumentá-la a 5%.


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