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O Globo Online (RJ) ( Economia ) - RJ - Brasil - 14-03-2015 - 11:23 -   Notícia original Link para notícia
Dólar sobe 22% no ano, a R$ 3,25

LUCIANNE CARNEIRO lucianne.carneiro@oglobo.com.br Colaboraram Cássia Almeida e Flávia Aguiar


Crise política interna e recuperação dos EUA levam divisa ao maior valor desde 2003


Analistas não veem um teto para o dólar. A economia americana vem se recuperando, e o cenário brasileiro é dominado pela incerteza


O dólar comercial subiu mais 2,81%, para R$ 3,25, a maior cotação desde abril de 2003. A crise política interna e a expectativa de que os juros nos EUA subam antes do previsto pressionaram o câmbio. No ano, a alta já chega a 22,08%. O dólar no cartão pré-pago para turistas era vendido por até R$ 3,72 ontem. Mas, como a moeda americana também subiu frente a outras divisas, os exportadores brasileiros ainda não tiveram alívio nas suas vendas para o exterior. Analistas acreditam que o ajuste no câmbio apenas começou e que o dólar vai continuar a subir frente ao real. O dólar avançou quase 3% ontem e já acumula alta superior a 20% no ano, numa maxidesvalorização do real há muito não observada. A moeda americana subiu 2,81%, para R$ 3,25, o maior nível em quase 12 anos, desde os R$ 3,255 de 3 de abril de 2003, no início do governo Lula. Ainda que haja um movimento mundial de alta do dólar, o Brasil vem vivendo isso de forma mais intensa. Este ano, a moeda americana já subiu 22,08% frente ao real, acima do observado em relação a outras moedas, como 15,38% frente ao euro, 5,62% frente à libra e 1,34% frente ao iene.



A recuperação da economia americana e a consequente perspectiva de elevação da taxa de juros dos Estados Unidos são as razões que puxam essa tendência mundial de alta do dólar, apontada como um processo de longo prazo por analistas. O quadro macroeconômico delicado no Brasil e as incertezas políticas pesam ainda mais no cenário interno. Ontem, operadores se mostraram cautelosos com possíveis desdobramentos das manifestações contra o governo Dilma previstas para o fim de semana. E aumentou ainda mais a percepção de que o governo e o Banco Central devem deixar o câmbio flutuar e não farão intervenções no mercado de câmbio.


A BM& FBovespa também operou sob a influência desse cenário. O índice Ibovespa, que reúne as principais ações da Bolsa, caiu 0,58%, para 48.595 pontos.


O mercado de câmbio já abriu com alta expressiva, de mais de 1%, passou dos R$ 3,20 ainda de manhã e pouco depois do meio-dia atingiu R$ 3,281 - subindo 3,8% -, maior patamar desde os R$ 3,3130 de 1º de abril de 2003. O dólar se manteve com alta acima de 3% na maior parte da tarde, até perder um pouco de fôlego no fechamento. Foi um dia de muito volume, com recorde no número de negócios e contratos negociados no minicontrato futuro de dólar da Bolsa brasileira.


Olhando para a frente, o que analistas veem é que essa alta da moeda americana ainda está longe do fim.


- Ainda não chegamos ao ponto mais alto do dólar. Fatalmente o dólar vai a R$ 3,50 na próxima semana e vai continuar testando novos limites. Temos alta de mais de 20% em menos de três meses, é uma maxidesvalorização - afirma o gerente da mesa de câmbio da corretora Icap Brasil, Italo Abucater.


Mas o movimento atual é diferente daquele registrado em 1999. Entre o fim de 1998 e 2 de março de 1999, o dólar saltou de R$ 1,2087 para R$ 2,16,uma alta de 78,7%. A partir daí, no entanto, a moeda perdeu força. Agora, porém, não há essa expectativa. Para o analista da Clear Raphael Figueiredo, "o dólar não tem sinal de topo". Ele acredita que há muitos fatores contribuindo ao mesmo tempo para essa tendência. Para além dessas razões, no entanto, Figueiredo e Abucater admitiram que a intensidade da valorização de ontem pode ter tido influência de um movimento especulativo.


- Não há teto previsto para o dólar. Mas ontem houve um perfil mais especulador, por já vir de uma disparada forte. Há um pouco de histeria diante do cenário de incerteza - diz Figueiredo.


A valorização do dólar ainda tem outro impulso. O risco-país, que mostra o quanto os investidores estrangeiros estão avessos ao Brasil, está subindo. A taxa de 253 pontos é maior que as de África do Sul e Turquia, países que caminhavam junto com o Brasil nesse indicador num passado recente, dizem especialistas.


- A média do risco-país de 2010 a 2013 era de 135 pontos. Hoje está perto de 300. Considerados os emergentes, o Brasil só perde para a Rússia, que está acima de 400 - diz o economista Alexandre Maia, sócio da Kyros Investimentos.


Para efeito de comparação, o Chile, por exemplo, tem risco de cem pontos.


O chefe do Centro de Estudos Monetários do FGV/Ibre e ex-diretor do Banco Central, José Júlio Senna, lembra que aumentou nos últimos dias a percepção de risco do país e dos conflitos na busca do ajuste fiscal:


- Há uma questão de curto prazo, que é a percepção de um risco mais exacerbado e a preocupação com a queda de braço política. (A alta de 20% do dólar) é uma depreciação excessiva, não há a menor dúvida. E há uma probabilidade bem alta de que essa depreciação continue.


NO CÂMBIO TURISMO, DÓLAR VAI A R$ 3,72


Mais do que uma questão de curto prazo, diz Senna, o dólar vive as consequências de uma recuperação desequilibrada da economia mundial, em que os Estados Unidos avançam e, por isso, espera-se retirada dos estímulos econômicos e alta de juros.


- Os ciclos cambiais são longos, e o que se vê é um expressivo espaço para um fortalecimento adicional do dólar - diz o ex-diretor do BC.


Economista e sócio da Cenário Investimentos, José Alfredo Lamy concorda:


- Tudo indica que estamos vivendo o início de um processo longo de valorização do dólar, não é um movimento de um, dois, três meses.


Aqueles que se preparam para viajar também já sentiram o impacto da disparada. Além do recorde na cotação comercial, o dólar turismo era negociado ontem por até R$ 3,72 no cartão prépago, valor já com o IOF de 6,38%.


No cartão, a cotação variava, com imposto, de R$ 3,55 a R$ 3,72, de acordo com pesquisa feita pelo GLOBO junto a seis operadoras de câmbio. Em espécie, a moeda americana variava entre R$ 3,35 e R$ 3,49, também incluindo o IOF de 0,38%.


A cotação mais barata do dólar, tanto para o papel-moeda como para o cartão, era a do Banco do Brasil. Em espécie, a divisa era vendida por R$ 3,35, enquanto no travel money ela custava R$ 3,55. A Western Union era a casa com o dólar turismo mais caro: R$ 3,49 em papel-moeda ea R$ 3,72 no cartão.


A Ultramar, no Centro do Rio, oferecia a moeda em espécie a R$ 3,40. Já para recarregar o cartão pré-pago, o dólar era vendido a R$ 3,59.


Na Corretora Cotação, a moeda americana era encontrada a R$ 3,48 em dinheiro ea R$ 3,64 no pré-pago. No Bradesco, o dólar saía a R$ 3,43 em papel ea R$ 3,63 no cartão. Já a TOV vendia a divisa dos EUA a R$ 3,43 em espécie e R$ 3,60 no pré-pago.


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