Erros cometidos em tempos recentes provocaram desajustes na economia brasileira que precisam ser corrigidos. Se são poucas as dúvidas quanto a este ponto, persistem indagações quanto à estratégia mais adequada, notadamente no que toca à política monetária. A ortodoxia, mais uma vez evidenciada com a decisão do Conselho de Política Monetária (Copom) do Banco Central de elevar a taxa básica de juros, agora a 12,75% ao ano, figura entre os pontos controversos. Para o BC, que ainda não dá por encerrado o ciclo de elevação dos juros, trata-se, primordialmente, de conter a inflação, mas há quem acredite que o remédio pode se transformar em veneno. A economia caminha para a recessão, prosseguindo a redução do ritmo das atividades produtivas, o que implica queda também na arrecadação, conforme já está acontecendo. Dessa forma, é evidente, as contas não fecham e os resultados esperados ficam mais distantes. Sem contar que a inflação não é de demanda, mas fundamentalmente conseqüência da correção de tarifas e preços controlados, o que implica risco de a economia ser ainda mais deprimida sem que a inflação seja de fato enquadrada nas metas preestabelecidas.
São variáveis que precisam ser tomadas em conta porque o risco que se apresenta é de aprofundamento da recessão, com impacto evidente nas contas públicas, e sem que os efeitos desejados sejam alcançados. O presidente da Federação das Indústrias de Minas, Olavo Machado, é bastante incisivo nesse ponto. Para ele, sem que medidas compensatórias sejam aplicadas, a tão desejada recuperação não virá em 2016, a recessão será mais longa e alguns setores, notadamente na indústria, não terão como suportar a pressão. Riscos que se estendem também ao setor público, seja pela perda de arrecadação, seja pelo impacto da elevação dos juros na composição da dívida pública e conseqüentemente nos custos de rolagem, de longe o maior dos encargos.
Se todos estes argumentos não bastam para que se compreenda que o presidente da Fiemg tem razão ao apontar a inconsistência das políticas adotadas e assinalar a necessidade, pelo menos, de compensações aos setores produtivos, um olhar retrospectivo reforçará o acerto de suas ponderações. O remédio amargo dos juros tem sido aplicado, com ligeiras e breves interrupções, já a mais de vinte anos sem produzir resultados saudáveis. Não para a indústria, não para os setores produtivos ou para a esfera pública, nem mesmo para a estabilização monetária.
Certo é que com a decisão tomada na semana passada o Banco Central recolocou o país na posição de detentor das mais altas taxas de juros praticadas no mundo e, pior, tornando mais distantes as perspectivas de que os desvios possam ser corrigidos e a rota do crescimento reencontrada.
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