Em mais um dia de especulação crescente, a moeda contabilizou uma desvalorização de 2,3%
Ativos repercutem o impacto da divulgação dos políticos incluídos na lista do STF/Divulgação
São Paulo - A tensão política no Brasil e sinais de desaceleração na China pressionaram o dólar comercial nesse início de semana. A moeda americana fechou o dia com alta de 2,39% diante do real, cotada a R$ 3,12972, maior valor desde 22 de junho de 2004. Já o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), registrou queda de 1,60%, aos 49.181 pontos. Foi a quarta queda consecutiva do índice, que refletiu a preocupação dos investidores com os rumos do ambiente interno.
Na avaliação de analistas, a questão política deve prevalecer nessa semana, ainda sob o impacto da divulgação, na noite de sexta-feira, pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Teori Zavascki, dos pedidos de abertura de inquérito feitos pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Ao todo, são 49 políticos, incluindo aí o presidente do Senado Federal, Renan Calheiros (PMDB), e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB).
Na avaliação de Luciano Rostagno, estrategista chefe do Mizuho Bank, o comportamento do dólar é influenciado nessa segunda-feira, principalmente, por fatores internos. "Há a preocupação de que o governo possa não ter força política para levar adiante as medidas fiscais necessárias para colocar as contas do governo em uma trajetória sustentável. Isso faz o dólar subir, já que o risco de um rebaixamento pelas agências de avaliação de risco está aumentando" diz, lembrando que a inclusão dos nomes de Calheiros e Cunha na lista de Janot aumenta ainda mais a turbulência no cenário político.
O analista técnico da Guide Investimentos, Lauro Pilares, avalia que a tendência é de alta para a moeda. "O contrato futuro com vencimento no dia 1º de abril já está sendo negociado a R$ 3,14", salientou.
Já no campo econômico, os investidores repercutem a nova projeção do relatório Focus, em que o Banco Central compila as projeções de dados econômicos feitas por bancos e consultorias. A expectativa é que em 2015 o PIB tenha uma retração de 0,66% _ ante queda de 0,58% esperada anteriormente.
Bolsa - O ambiente político fragilizado também afeta o mercado acionário brasileiro. O temor de rebaixamento do Brasil teria impacto também nas empresas brasileiras, o que estimula a desvalorização dos principais ativos do Ibovespa. "Há várias pressões negativas que justificam essa queda. Há uma reação negativa em relação à lista da Lava Jato, o nível de confiança do consumidor está abalado, teve o pronunciamento da presidente, a volta das especulações sobre a situação da Grécia e, além disso, ainda tem a questão inflacionária e do câmbio", explicou Elad Victor Revi, analista da Spinelli Corretora.
Os papéis preferenciais (PNs, sem direito a voto) da Petrobras recuara 3,03%, cotados a R$ 8,96. Já os ordinários (ONs, com direito a voto) tiveram quedam 2,86%, a R$ 8,83. Queda também no setor bancário, o de maior peso no Ibovepsa. As ações preferenciais do Itaú Unibanco recuam 2,88% e as do Bradesco caem 2,75%. No caso do Banco do Brasil, a queda é de 3,31%.
Entre as ações do Ibovespa, a maior queda ocorre nos papéis da Cetip, recuo de 8,23%. Há o temor, entre os investidores, de que as denúncias da operação Lava Jato respinguem indiretamente na empresa. A GRV, comprada pela Cetip, desenvolveu um sistema para o registro de veículos do Denatran. O doleiro Alberto Yousseff, em um de seus depoimentos, afirmou que o esquema de propinas envolveu outras estatais.
De acordo com Revi, a queda mais acentuada nos papéis do setor bancário decorre do processo de revisão das notas de crédito que está sendo feita pelas agências de classificação de risco.
O mercado responde negativamente também ao desempenho do exterior. Prevalece a preocupação com os dados fracos do comércio exterior na China, com queda nas importações, e também a volta das tensões entre a Grécia e a União Europeia. Há também a expectativa de que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) antecipe a alta de juros. (AE)
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