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Estado de Minas Online ( Opinião ) - MG - Brasil - 06-03-2015 - 09:56 -   Notícia original Link para notícia
Inflação aleija, câmbio mata

Dólar a R$ 3 e preços em alta refletem erros do governo


Crises e desarranjos na economia brasileira não são novidade. Mas não deveria ser assim. Afinal, depois de derrotar a hiperinflação e de negociar com inteligência e pagar com esforço a constrangedora dívida externa herdada dos governos militares, era de se esperar que não caíssemos mais em grosseiras tentações. Repetir velhos erros é passar atestado de que não aprendemos ou nos esquecemos de velhas lições.

A primeira delas é a de que não existe almoço grátis. A segunda nos foi dada pelo professor Mario Henrique Simonsen, ministro da Fazenda entre 1974 e 1979: "A inflação aleija, o câmbio mata". Na quarta-feira, ao devolver ao Brasil o primeiro lugar no pódio das mais altas taxas de juros básicos do mundo (12,75% ao ano), o Banco Central nada mais fez do que reagir ao perigo que ronda seu Comitê de Política Monetária (Copom), de assistir ao descontrole da inflação.

Departamentos de economia dos bancos (entenda-se por profissionais encarregados de evitar perda de dinheiro por erro na definição das taxas cobradas no crédito) passaram a trabalhar com inflação de 8% em 2015. É uma taxa distante até mesmo do teto de 6,5% da meta oficial de inflação. Era preciso, então, agir rápido e deixar claro que a autoridade monetária está atenta e reativa. Fez mais: demonstrou que nem o BC, que integra a equipe econômica do governo, está seguro de que o ajuste fiscal destinado a reverter a situação de déficit de 0,6% do PIB (2014) em superávit de 1,2% (2015) será integralmente cumprido. As dificuldades políticas não dão trégua. Pelo contrário, elas aumentaram nas últimas semanas, já que os embates políticos voltaram a se sobrepor à urgência da recuperação da credibilidade do país.

E toda essa batalha se deve ao descumprimento de mais uma velha lição: o governo não deve gastar mais do que arrecada, sob pena de gerar mais inflação e mais endividamento. Nem mesmo o calendário eleitoral deveria prevalecer sobre essa regra, pois um dia a conta terá de ser paga. O ajuste de Joaquim Levy é a conta que estamos pagando, porque Dilma fez o diabo para vencer a eleição de 2014.

Mas a inflação que hoje retira poder de compra dos salários e obriga o Banco Central a aumentar os juros não se explica só pelo descalabro fiscal. Há pelo menos duas outras lições esquecidas. Antes das trapalhadas de 2014, Dilma já havia promovido verdadeiro desarranjo no setor elétrico, ao tentar baixar na marra as tarifas de energia elétrica em 2012, afetando a capacidade de investimento das concessionárias. A atual falta de chuvas só agravou a situação e as contas de luz estão pesando na inflação de 2015.

Outro foco de pressão sobre a inflação é o câmbio. Na mesma quarta-feira do Copom, as cotações do dólar dispararam para perto de R$ 3, marca que foi alcançada ontem, tornando-se o maior valor em relação ao real desde 13 de agosto de 2004.

Simonsen dizia que o câmbio mata, porque boa parte dos fatores que influenciam na sua cotação estão fora do nosso controle. Por isso mesmo, como no controle da pressão arterial, é fundamental estar preparado para os momentos de pico, provocados por fatores externos. Com o acúmulo de erros na política externa e a falta de uma política industrial horizontal e consistente, passamos a acumular déficits comerciais nos dois últimos anos, aumentando nossa fragilidade às oscilações do dólar. E todos os sinais são de que a moeda norte-americana continuará se valorizando. Ou seja, se a inflação aleija e o câmbio mata, as duas coisas ao mesmo tempo são uma herança do primeiro mandato de Dilma, que já está custando caro ao país.


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