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Valor Online ( Opinião ) - SP - Brasil - 04-03-2015 - 05:00 -   Notícia original Link para notícia
Desaceleração do crédito reforça marasmo na economia

As operações de crédito começaram o ano em queda, introduzindo mais um elemento negativo nas expectativas para os próximos meses. As concessões de recursos para empresas recuaram 27,2% em janeiro em comparação com dezembro; e a queda de 10,4% das operações com pessoas físicas não ficou muito atrás. O estoque total de empréstimos, que normalmente cresce pela simples incorporação dos juros e correção, encolheu 0,2% em comparação com dezembro, puxado pela queda de 1,1% das operações com pessoas jurídicas. No acumulado em 12 meses, a variação do estoque foi de 11%, abaixo dos 11,3% de 2014, que já havia ficado marcado como o quarto ano seguido de perda de ritmo do crédito.


Na comparação com o Produto Interno Bruto (PIB), o estoque de empréstimos de R$ 3,013 trilhões caiu de 58,9% para 58,5%. O Banco Central tentou minimizar esse fraco desempenho lembrando que a demanda por recursos cai no início de ano, especialmente entre as empresas. Mas é inegável que o recuo foi forte demais desta vez.


São muitos os fatores que indicam que a oferta de recursos pode ser mais minguada nos próximos meses. O principal deles é o claro movimento de aversão ao risco entre os bancos privados e públicos em consequência da operação Lava-Jato. (Valor, 27/2).


O leque de potenciais afetados pode não ser amplo, mas o desconhecimento de sua extensão acentua a cautela. Na dúvida sobre quais empresas podem ter problemas, todas são penalizadas, e até as operações com pessoas físicas são afetadas. Alguns segmentos foram especialmente atingidos. A carteira de crédito para o setor de construção encolheu 2,1% informou o BC; a da indústria da transformação, 1,7%; e do comércio, 3,3%. Rara exceção, a indústria extrativa aumentou em 6,8% as operações de crédito.


Igualmente evidente é o impacto nos juros. A taxa média cobrada pelos bancos nas operações com recursos livres para pessoas físicas registrou aumento de 2,5 pontos percentuais em janeiro, para 52,6% ao ano, o maior patamar em quase três anos, desde o início da série histórica, em março de 2011. No caso extremo do rotativo do cartão de crédito, a taxa bateu 334% ao ano. A taxa das operações de pessoas jurídicas também com recursos livres avançou um ponto percentual em janeiro, para 25,2% ao ano, a mais alta desde novembro de 2011. Na média, o juro subiu de 37,6% para 39,4% ao ano entre dezembro e janeiro - o maior patamar da série histórica.


As margens cobradas pelos bancos nos empréstimos com recursos livres a empresas e famílias atingiram 27,5 pontos percentuais em janeiro, as maiores desde os 27,9 pontos de março de 2012, quando a presidente Dilma Rousseff determinou que os bancos públicos fizessem corte radical nos spreads para acirrar a competição no sistema.


A queda foi favorecida pelo corte da taxa básica de juros, que sustentou o emprego e a renda e reduziu a inadimplência. Em 2013, o spread chegou a cair a 21,5 pontos. O fôlego foi curto, no entanto. As condições macroeconômicas adversas exigiram a elevação dos juros para conter a inflação no fim do primeiro semestre de 2013, depois de terem atingido 7,25%. O Copom deve decidir novo aumento da taxa básica de juros na reunião desta semana, de 12,25% para 12,75%, dando mais gás na tendência de encarecimento do custo do crédito.


Até os bancos públicos elevaram os spreads para recompor as margens. Sinal mais recente dos novos tempos foi a decisão da Caixa Federal de suspender a linha de financiamento subsidiado Minha Casa Melhor, que concedia até R$ 5 mil para a compra de móveis e eletrodomésticos para os beneficiados pelo programa imobiliário Minha Casa Minha Vida, com juros de apenas 5% ao ano e prazo de pagamento em 48 meses. A justificativa oficial é que as condições operacionais serão rediscutidas no âmbito da nova fase do programa habitacional.


A desaceleração do crédito reforça a perspectiva de enfraquecimento da economia neste ano. O setor de veículos já deu o primeiro alarme. Depois de ter caído 10,3% em janeiro, as vendas de automóveis novos recuaram mais de 28,3% em fevereiro, com os consumidores revelando menor confiança no futuro e na manutenção dos seus empregos, e se ressentindo de condições menos favoráveis de crédito, com juros mais elevados e maior seletividade.


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