Marcelo Silva, do Magazine Luiza: "Para compensar um cenário mais recessivo, um dos caminhos é abrir mais loja"

O Magazine Luiza vai mudar o foco dos investimentos, na tentativa de ampliar a base de lojas e diluir mais rapidamente custos fixos. Se em 2014, a varejista abriu menos lojas do que reformou - inaugurou 24 pontos e reformou 60 - neste ano deve abrir de 40 a 50 lojas e reformar de 20 a 30 unidades. Deve ser mantido o volume de investimentos de R$ 150 milhões em relação ao ano passado - valor subiu apenas 4% em 2014.

Esta é um estratégia comum no setor em períodos em que há perda de vigor no consumo e pressão em despesas. Se o volume maior de novas lojas eleva despesas operacionais - com impacto inicial em margem bruta (lojas recém-abertas são mais promocionais) - as aberturas aceleram expansão da receita, diluindo custos.

Algumas redes têm seguido caminho oposto, revendo projetos de expansão e reduzindo valores para investimento desde 2014.

"Para compensar um cenário mais recessivo, um dos caminhos é abrir mais loja. No varejo não dá para ficar segurando expansão orgânica por muito tempo, e nós já abrimos volume menor [de pontos] no ano passado", disse Marcelo Silva, diretor superintendente do Magazine Luiza.

"Também devemos aumentar um pouco despesas com marketing em ações na TV, com maior visibilidade em praças que não atingimos com os outros investimentos [em marca]. E podemos compensar isso reduzindo outras despesas da companhia ou até mesmo despesas da área de marketing".

Sobre investimentos, como o plano é manter o nível de R$ 150 milhões em 2015, e haverá mais aberturas, as reformas serão em menor número. A expectativa é que a metade das 40 a 50 inaugurações de 2015 aconteça no mercado do Nordeste - em 2014, das 24 aberturas, 14 foram na região. Nos estados nordestinos, redes operam com margens de lucro menores do que no Sudeste, mas crescem de forma mais acelerada.

Questionado sobre os riscos de inaugurações em mercados de rentabilidade menor, Silva descartou efeitos maiores. "Lojas têm promoções mais fortes após abertura, depois isso se normaliza".

Segundo balanço publicado na sexta-feira, a receita líquida da empresa subiu 12% de outubro a dezembro, para R$ 2,77 bilhões, e lucro líquido teve alta de 19,2%, para R$ 39,3 milhões. A margem de lucro antes de juros impostos, amortização e depreciação (ebitda, da sigla em inglês) subiu um ponto, para 6,3%, e a margem de lucro líquida passou de 1,3% para 1,4%.

Analistas destacam ganhos em vendas "mesmas lojas" (em operação há mais de um ano) acima da Via Varejo (Casas Bahia e Ponto Frio). Vendas "mesmas lojas físicas" subiram 15% no magazine e 3% na Via Varejo em 2014. No quarto trimestre, foi 7,5% de expansão no magazine e 1,5% na Via Varejo (só lojas físicas). Presença mais forte do magazine no Nordeste (menos afetado pelo consumo menos) explica, em parte, os números.

"É uma performance impressionante ['mesmas lojas' do magazine] ao se considerar como o varejo sofreu em 2014, e ainda mais marcante se comparado com o competidor direto, Via Varejo", escreveu em relatório Guilherme Assis, analista da Brasil Plural.

Se Magazine cresce mais rápido do que a Via Varejo, a empresa do Grupo Pão de Açúcar tem margens bruta, líquida e ebitda maiores do que o Magazine Luiza - isso, apesar do que se viu em 2014.

É que no ano passado, o magazine manteve margens líquida e ebitda praticamente estáveis, e Via Varejo teve perda nestas duas taxas (não ajustadas). Já a margem bruta da Via Varejo subiu de 30,8% para 32,4% em 2014 e o magazine, perdeu 0,5 ponto, para 27,5%.

As duas varejistas de eletrônicos, com ação em bolsa, fecharam a sexta-feira com preço da ação em queda (Magazine Luiza, retração de 7,6% e Via Varejo, de 5,6%). A Medida Provisória 699, que reduziu a desoneração da folha de pagamento ao elevar as alíquotas cobradas das empresas, inclusive as de varejo, afetou as ações.