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Valor Online ( Finanças ) - SP - Brasil - 27-02-2015 - 05:00 -   Notícia original Link para notícia
BC tende a repetir ritmo de alta da Selic

Por Angela Bittencourt e Lucinda Pinto | De São Paulo


Goldenstein, da Arsa: BC terá de lidar com continuidade da depreciação do real


A atividade fraca e a perspectiva de que o Brasil fará um ajuste fiscal não devem ser argumentos para que o Banco Central interrompa ou desacelere o ritmo de aperto monetário por ora. A maioria dos economistas ouvidos pelo Valor (32, de um total de 34 entrevistados) espera que a Selic volte a subir em 0,50 ponto percentual no próximo encontro de política monetária, a ser realizado nos dias 3 e 4 de março. Também é majoritária (24 economistas) a ideia de que o ciclo terá de prosseguir até levar a Selic para o nível de 13%. A taxa básica está hoje em 12,25%.


Ainda assim, boa parte desses analistas não acredita que esse aperto adicional será suficiente para fazer com que a inflação convirja para a meta em 2016, objetivo declarado pelo Banco Central recentemente. "Para que a inflação chegue em 4.5% ainda em 2016, o BC teria de dar um choque de juro muito maior, algo como 15%, 16% de Selic", afirma Daniel Weeks, economista-chefe da Garde Investimentos.


A ideia de que a inflação deve ficar acima do teto da meta já é consensual entre analistas, por causa da correção dos preços administrados, que haviam sido represados pelo governo nos últimos tempos. Mas o que parece ter crescido recentemente é o risco de que essa inflação "transborde" ainda mais do que se imaginava para 2016.


Além do fato de que algumas tarifas, como a de água, vão subir mais do que se previa, a desvalorização cambial acelerou ao longo de fevereiro e muita gente já vê o dólar na casa dos R$ 3. Por fim, o risco de racionamento de água e energia elétrica está no radar dos agentes. Embora seja um elemento recessivo, o racionamento é um choque de oferta que alcança, inevitavelmente, a inflação. Por isso, mesmo com a expectativa de retração da economia este ano, há dúvidas sobre se esse aperto monetário projetado será suficiente para colocar a inflação na direção dos 4,5% no ano que vem.


"Com uma economia fraca e com desemprego em alta, deveremos ter algum alívio dos serviços e certamente um alívio dos preços de administrados, porém esses não devem ser suficientes para colocar a inflação cheia em 4,5%", afirma a economista-chefe da ARX Investimentos, Solange Srour. "Para que a inflação chegue a 4,5% em 2016, precisamos de uma economia bem mais fraca do que temos como projeção para 2016, o que só dependeria de um aperto mais forte da política monetária e da política fiscal."



Também o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, considera que a Selic deveria subir mais, para 13,5%, para que a inflação entrasse em trajetória de convergência. Entretanto, ele prevê que o juro suba para 12,75% na próxima semana, mas volte a cair e esteja em 12,50% no fim de 2015 e em 11,25% em dezembro de 2016.


"A inflação de 7,3% exige ação efetiva do BC para impedir que ela permaneça nesse patamar nos próximos anos, independentemente da fonte de elevação", afirma Solange. "O que se vê hoje é que o fiscal terá dificuldade em fazer um ajuste significativo e o BC não poderá esperar saber se a Fazenda conseguirá entregar o que prometeu."


Esses riscos de inflação podem levar a Selic a superar os 13%, na opinião do economista-chefe do Banco Pine, Marco Maciel. Ele trabalha com a ideia de uma Selic de 13% no fim de 2015 e de 11% no próximo ano. Mas ele não descarta que, a depender das expectativas de inflação, o juro tenha de alcançar 14% para que esse recuo no próximo ano seja viável.


Já o sócio-fundador da Arsa Investimentos, Sérgio Goldenstein, diz acreditar que o aumento da taxa de desemprego, o menor reajuste do salário mínimo e a fraqueza da demanda doméstica são fatores que podem contribuir para que a inflação convirja para a meta em 2016. Ele ressalta o fato de o juro real estar acima da taxa de equilíbrio e as políticas monetária e fiscal mais restritivas contribuindo para ancorar as expectativas também são elementos que favorecem esse alívio dos índice de preço. De todo modo, ele pondera que o BC terá de lidar com os riscos de maior inércia inflacionária para o próximo ano e também da continuidade da trajetória de depreciação do real.


Na mesma linha está a economista-chefe do J.P. Morgan, Cassiana Fernandez, para quem o IPCA deverá estar em 5,3% no fim de 2016, em um cenário que considera a Selic em 13% este ano e em 11,50% em dezembro do próximo ano. Ela observa que, mesmo com a inércia e o "pass-through" cambial, a atividade fraca e os efeitos defasados das políticas monetária e fiscal devem conter o aumento de preços livres. "Neste ano, as pressões de preços administrados são muito fortes para serem compensadas permitindo que a inflação termine o ano abaixo de 6,5%", diz.


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