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Diário do Comércio online - BH (MG) ( Negócios ) - MG - Brasil - 24-02-2015 - 08:42 -   Notícia original Link para notícia
Micro e pequenos empreendedores são mal-atendidos pelos bancos

Estudo ouviu comerciantes da Serra


Daniela Maciel                


                                           


No estudo foram ouvidos manicures, alfaiates, donos de lanchonetes, de açougues, entre outros em sete vilas/Renato Pinto / Divulgação


Capazes de gerar emprego e renda e movimentar de forma significativa a economia não apenas das regiões em que estão inseridos, os microempreendedores ou empreendedores de subsistência ainda enfrentam muitas dificuldades para acessar produtos e serviços bancários. O estudo qualitativo "Os desafios da inclusão bancária na percepção do empreendedor da base da pirâmide social", coordenado pelo mestre em Administração pelo Centro Universitário Una, Renato Pinho, ouviu os empreendedores do Aglomerado da Serra, na região Centro-Sul, sobre seus sentimentos e percepções acerca dos serviços e atendimento prestados pelas instituições bancárias.

"Procuramos entender a lógica da inclusão bancária para o empreendedor de subsistência. Ouvimos manicures, alfaiates, donos de lanchonetes, de açougues, entre outros profissionais nas sete vilas do aglomerado. Já existiam algumas referências sobre o tema, mas sempre filtrado pelo olhar das instituições. Queríamos, então, dar voz ao outro lado, compreender a questão pelo lado dos microempreendedores", explica Pinho.

Na avaliação desse público as instituições bancárias ainda deixam muito a desejar. Falta de informação, dificuldades de comunicação, atendimento falho e puro descaso, que muitas vezes resulta em discriminação, são algumas das reclamações colhidas pelo pesquisador e sua equipe.

Apesar de compreender a importância do serviço bancário para a própria continuidade dos negócios, existe um baixo nível de conhecimento sobre produtos e serviços. Os bancos são lembrados apenas para o pagamento de contas, pequenos empréstimos e guarda de dinheiro. Produtos como seguros, previdências, fundos, linhas de financiamento ou empréstimos específicos para a necessidade do empreendedor são totalmente ignorados.

"Esses clientes não são sequer abordados pelos funcionários para oferecer qualquer um desses produtos ou serviços. Fica claro nos depoimentos que existe um juízo de valor. A maneira como os produtos são formatados também faz uma seleção prévia. Eles são dirigidos a uma faixa de renda mais alta e não existem versões específicas", afirma o pesquisador.

Faz parte do senso comum que as pessoas que fazem parte das faixas de renda mais baixas, ao contraírem um empréstimo, só se interessam pelo valor das parcelas e não pela taxa de juros. Com o público formado pelos empreendedores, porém, essa máxima já caiu por terra. Talvez por estarem acostumados a negociar e a - de alguma forma - calcularem juros e venderem a prazo, eles se importam com as taxas praticadas pelas instituições. "Os empreendedores também vendem a prazo, calculam juros e margens de lucro dos produtos e serviços que oferecem. Isso faz com que tenham uma visão mais aguçada sobre o tema, mesmo que não saibam nomear tecnicamente cada ação realizada", destaca.

Sobre o atendimento e acesso às unidades a percepção também não é boa. Os casos mais lembrados são sobre extratos extras, mensagem de celular e utilização de máquina de cartão de crédito. Um fator evidente de exclusão bancária descreve-se ao custo de manutenção da conta, utilização de maquininha de cartão ou a percepção dos juros abusivos dos empréstimos ou financiamento, gerando uma equação custo versus beneficio desigual para o empreendedor.



Inovações - As novas tecnologias de atendimento também foram abordadas na pesquisa. O mobile banking foi considerado inseguro para transação bancária. O mesmo ocorre para o 0800 ou call center, também visto como uma ferramenta pouco segura. "Aparentemente as instituições bancárias têm realizado grandes investimentos na divulgação do mobile banking, como facilidade e comodidade de acesso a produtos e serviços bancários. As propagandas não se atentam à questão da segurança, fator chave para o acesso dessa população. O empreendedor de subsistência não tem margem para se arriscar a perder dinheiro. As classes mais altas além da margem tem muito mais acesso à informação, o que dá segurança às operações", compara.

Bancos públicos e privados compartilham da mesma má avaliação. A favor das instituições estatais aparecem os juros menores e a presença física mais próxima, já que o único caixa eletrônico dentro da comunidade é da Caixa Econômica Federal (CEF), instalado nas dependências de um açougue. Os caixas ou unidades mais próximas ficam em bairros ao redor.

"As pessoas não gostam de Àir lá embaixo" para encontrar uma agência. Se sentem pouco importantes, nas palavras delas mesmas Àinvisíveis" nesses lugares. No Brasil, desde o governo Fernando Henrique Cardoso, existe um esforço para a bancarização das classes mais baixas, porém ainda estamos longe do ideal. Dessa forma, não apenas os microempreendedores perdem dinheiro porque têm mais dificuldades do que os outros, mas também as instituições que deixam de captar um volume enorme de clientes e investimentos. Os bancos precisam se dedicar mais a esse público", conclui.


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