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Valor Online ( Empresa ) - SP - Brasil - 23-02-2015 - 12:06 -   Notícia original Link para notícia
Alta do dólar anima produtor local

Por Cibelle Bouças | De São PauloImportações de têxteis recuaram 0,97% em janeiro, para 128,7 mil toneladas - efeito da economia fraca e do dólar caro: produtor local sente a mudança


A desvalorização do real em relação ao dólar reanima fabricantes de produtos têxteis, que sofrem há anos com a concorrência de importados vindos principalmente da Ásia. Companhias ouvidas pelo Valor relataram aumento das encomendas de redes varejistas neste início de ano de até 15% em relação a 2014. As importações, por sua vez, caíram. O movimento é avaliado como um sinal de que varejistas podem substituir parte das importações por produtos locais.


De acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior compilados pela Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), as importações de produtos têxteis recuaram 0,97% em janeiro, para 128,7 mil toneladas. Em receita, a redução foi de 6,07%, para US$ 650,6 milhões.


"A queda na importação deve-se a uma queda da atividade econômica e a uma substituição parcial de importações em função do câmbio e dos custos", afirmou Ulrich Kuhn, presidente do Sindicato das Indústrias de Fiação, Tecelagem e do Vestuário de Blumenau (SC). O executivo estima uma redução pequena nas importações neste ano, com mais efeito a partir de maio, quando passam as valer as novas alíquotas de PIS e Cofins. "É um movimento que está no começo. Mas não há dúvida de que o humor dos fabricantes mudou."


A Fakini Malhas, empresa familiar de Pomerode (SC) que produz 1 milhão de peças de algodão por mês, está entre os fabricantes que melhoraram o humor. Francis Fachini, diretor comercial da Fakini Malhas, disse que as encomendas entre janeiro e fevereiro estão 15% maiores que o registrado no ano passado. Para 2015, a companhia prevê crescer de 12% a 15% em receita de vendas, com aumento de 5% em volume e de 10% em preços. "Com a subida do dólar, grandes varejistas diminuíram as compras no exterior e aumentaram as encomendas à indústria local. Estamos colhendo um pouco desse movimento", disse Francis Fachini, diretor comercial da Fakini Malhas.


A Têxtil Canatiba, fabricante de denim, também relatou um aumento das encomendas das redes varejistas de moda. "Grandes redes como C&A, Renner e Riachuelo aumentaram as consultas e encomendas de tecidos de fabricantes locais. Mas é um movimento de substituição lento, que vai ficar mais claro daqui a alguns meses", disse Fabio Covolan, diretor de marketing da Canatiba. A fabricante de Santa Bárbara do Oeste (SP) produz, em média, 10 milhões de metros de tecido por mês e, de acordo com Covolan, a produção no primeiro trimestre está estável.


A Marisol, que produz malha com marca própria e para terceiros, informou que, importa em torno de 30% dos tecidos que usa, mas devido à alta do dólar, avalia ampliar as compras no Brasil. "Neste momento, a companhia está fazendo uma readequação nas linhas de produção, mas nada muito drástico", disse Jair Pasquali, diretor industrial da Marisol. Sem citar números, ele disse que espera um ano "difícil" para o setor.


No segmento de cama, mesa e banho, a Companhia Fabril Lepper, de Joinville (SC), registrou um aumento de 5% nas vendas em janeiro. Ênio Alfredo Kohler, diretor comercial da Lepper, espera para o ano um crescimento de 10% em vendas, com a melhora na demanda doméstica por produtos nacionais e uma aposta maior da companhia em produtos infantis.


No segmento de fiação, a Círculo, de Gaspar (SC), apontou um aumento de 13% nas encomendas de janeiro. "Houve uma mudança no consumo, com um interesse maior por produtos nacionais, mas a empresa também fez mudanças nas linhas que contribuíram para a melhora nas vendas", disse José Altino Comper, presidente da Círculo. O executivo ponderou que os custos de produção estão mais altos que a inflação e o crescimento real de vendas será de, no máximo, 6%. "Existe uma pressão de custos para as indústrias que é difícil de ser repassada neste momento, o que compromete a rentabilidade do setor", afirmou Comper.


A Abit projeta para este ano uma queda de 0,5% na produção do setor têxtil, aumento de 3,6% nas importações, para US$ 7,34 bilhões, e consumo aparente estável. "A volatilidade do câmbio e a dificuldade de se enxergar um cenário is conclusivo sobre a demanda favorece uma substituição de importados por compras internas. Mas não há uma substituição completa, nem sinal de reindustrialização", disse Fernando Pimentel, diretor superintendente da Abit.


Custo de produção sobe 10% e energia preocupa


Por Cibelle Bouças e Sérgio Ruck Bueno | De São Paulo e Porto Alegre


A alta de 20,6% do dólar nos últimos 12 meses tornou a produção têxtil nacional mais competitiva ante as importações, mas também encareceu os custos dos fabricantes, que usam matérias-primas importadas ou cotadas na moeda americana. A Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) calcula que houve um aumento médio de 10% nos custos de produção do setor.


"Os preços do algodão e da fibra sintética caíram mais que a alta do dólar, mas não o suficiente para compensar outros insumos, como energia e água", disse Fernando Pimentel, diretor superintendente da Abit. Segundo a Abit, em 12 meses até janeiro, o preço médio do algodão em reais baixou 24% para os fabricantes. "O mesmo aconteceu com a poliamida", disse.


Para João Paulo Reginatto, diretor-superintendente da Sultêxtil, fabricante de tecidos de Caxias do Sul (RS), o dólar na faixa de R$ 2,85 ainda é "muito barato" para reverter o processo de desindustrialização do setor. Em janeiro e fevereiro, a empresa produziu e vendeu 2% menos em valor e volume na comparação com o mesmo período de 2014. E o cenário não é muito melhor para os próximos meses. Os aumentos de impostos e custos com energia, por exemplo, reduziram a competitividade da empresa, disse o executivo.


A fabricante paulista de tecidos Savyon, que produz 120 toneladas por mês, informou que seus custos aumentaram entre 8% e 9% neste ano. Renato Bitter, diretor-geral da Savyon, disse que entre os custos inesperados, teve de contratar caminhões-pipa para abastecer a fábrica, localizada na capital paulista, devido à escassez de água. "O problema maior é se houver apagões, porque não temos uma solução para isso", disse.


A Canatiba, que produz denim, enfrentou quedas de energia na fábrica de Santa Bárbara D'Oeste (SP). "Como é uma época de produção menos intensa, não tivemos um grande prejuízo, mas é um fator de preocupação", disse Fabio Covolan, diretor de marketing da Canatiba. Para a fabricante de jeans MHL Empreendimentos, o maior risco para o segmento é a falta de água. Maher Ayache, sócio da MHL, disse que duas de quatro lavanderias que contratava fecharam e que o preço médio por peça subiu de R$ 10 para R$ 16 neste ano. "O maior problema é que, sem água, as indústrias de denim terão que parar de produzir para importar as peças prontas", alertou.


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