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Valor Online ( Brasil ) - SP - Brasil - 18-02-2015 - 05:00 -   Notícia original Link para notícia
Ajuste ameaça o potencial de crescimento, diz estudo

Por Eduardo Campos | De Brasília


A capacidade de crescimento da economia é cadente nos últimos anos e o atual ajuste pode reduzir ainda mais o chamado Produto Interno Bruto (PIB) potencial, se o freio de arrumação posto em marcha pela nova equipe econômica, norteado por ajuste fiscal e aperto monetário, não resultar no esperado aumento da confiança e ampliação dos investimentos.


A forma como o governo calibrará esses fatores determinará o crescimento da economia no segundo mandato da presidente Dilma Rousseff. O risco é o país cair em um ciclo vicioso, caso não construa base produtiva para crescer sem gerar inflação, porque no momento da retomada o Banco Central (BC) se vê obrigado a agir para conter nova rodada de elevação de preços.


O PIB potencial é um conceito econômico bastante discutido e sem fórmula única de estimação que indica o quando a economia pode crescer sem gerar pressões inflacionárias.



Segundo o economista-chefe da INVX Global Partners, Eduardo Velho, se o BC priorizar a alta de juros, o lado produtivo vai se acostumar com uma curva de demanda baixa, segurando a decisão de novos investimentos. Assim, quando o BC colocar os juros para baixo, a retomada do crescimento de forma mais robusta seria barrada pela volta da inflação, pois a capacidade de o país crescer sem registrar pressão de preços é pequena.


Estudo feito pelo economista, com base em dados do PIB do IBGE, aponta que o PIB potencial do país encolheu de cerca de 3% para 1,8% no fim do primeiro governo Dilma. Fazendo uma projeção com crescimento zero do PIB para 2015, esse potencial de crescer sem gerar inflação recuaria ainda mais um pouco.


Atualmente o chamado hiato do produto, que é a diferença entre o crescimento efetivo e esse crescimento potencial, já roda em terreno negativo. O próprio BC reconhece isso em seus comunicados. Isso que dizer que a atividade dá sua contribuição para o controle da inflação. Conforme o BC aperta a Selic, esse hiato vai se ampliar ainda mais.


O ponto, segundo Velho, é que exercícios econométricos sugerem que a sensibilidade da inflação às variações da taxa de juros está menor na gestão de Alexandre Tombini em comparação com a de Henrique Meirelles.


Isso quer dizer que são necessários juros mais elevados para colocar a inflação para baixo agora do que há alguns anos. Como o componente juro da chamada "função reação" do BC está menor, o Copom tem de contar com outros vetores para conseguir reduzir essa resistência inflacionária.


Por isso, o economista da INVX destaca a necessidade de se avançar no ajuste fiscal e nas reformas estruturais da economia para combater essa resistência da inflação. "Mais juros na curva é pior para o investimento e não ataca o problema da inflação, que é estrutural", diz.


O conceito e o cálculo do PIB potencial e hiato do produto são temas que despertam acalorados debates entre economistas. Como não há uma única regra, o que se tem são alguns consensos, mas nunca dados exatos, e sobram boas discussões.


Para o sócio e gestor da Kapitalo Investimentos, Carlos Woelz, não dá para afirmar que o PIB potencial está caindo e vá cair mais por que o BC está com uma política restritiva. Segundo Woelz, mesmo os métodos mais sofisticados de estimação do PIB potencial não se afastam muito do cálculo de uma média do desempenhos da economia dos últimos cinco anos. Então, as medições podem acabar enviesadas para mais ou para menos.


Segundo Woelz, o que se observa de fato é um aumento no hiato do produto e não uma perda de PIB potencial. Além disso, pondera o gestor, o hiato negativo não é algo uniforme dentro da economia. No lado industrial, por exemplo, é claro que há grande excesso de capacidade. Já no mercado de trabalho o quadro é outro. Conforme o desemprego segue em patamares baixos, esse é um mercado onde o hiato está entre levemente positivo a estável, ou seja, sem capacidade ociosa ou efeito deflacionário.


O que o ajuste dos juros busca é levar esses hiatos para o campo negativo, eliminando as pressões oriundas da falta de oferta, no caso de mão de obra, que pressionam salários e preços. E isso vai ocorrer, diz Woelz, pois o mercado de trabalho ainda não captou as altas de juros recentes nem a mudança de orientação da política fiscal. "O que se sente no bolso são o aumento das tarifas e dos combustíveis, e isso e só o começo", disse.


De acordo com o gestor, o que o BC faz ao subir a Selic é lutar contra os efeitos secundários dos choques de preços e da valorização do dólar, que se acentuou nas últimas semanas. Acontece que com a economia fraca (hiato negativo) esses efeitos se manifestam com menor intensidade, o que pode levar a autoridade monetária a atuar com parcimônia.


O dilema do BC aqui é que parcimônia demais agora vai atrasar a versão do ciclo de aperto, e mesmo que o BC comece a cortar juros no começo de 2016, o efeito só aparecerá no lado real da economia no fim do ano ou começo de 2017. A escolha é entre juros altos agora e uma tentativa mais rápida de reversão, ou correr o risco de colher um 2016 também de crescimento próximo de zero.


Ainda de acordo com Woelz, escolhas erradas de política econômica, como a dissonância entre politica fiscal, francamente expansionista, e política monetária contracionista, explicam essa resistência da inflação à Selic. No entanto, essa perda de sensibilidade dos preços aos movimentos de alta de juros não é algo irreversível. Basta realinhar as políticas e é o que se tenta fazer agora.



Levy reforça compromisso fiscal e diz que Petrobras está "numa boa direção"


Por Sergio Lamucci | De Washington



O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, reafirmou ontem o compromisso do governo e da presidente Dilma Rousseff com o cumprimento da meta de superávit primário de 1,2% do PIB neste ano, destacando também que a Petrobras está "numa boa direção", com a perspectiva de superação do "impasse contábil", relacionado ao balanço do terceiro trimestre de 2014.


Levy deu essas declarações depois de participar de um evento em Washington, no Brazil Institute, do Wilson Center, um centro de estudos americano, onde falou a uma plateia de cerca de 50 pessoas, composta por representantes do governo americano, de instituições multilaterais, como o Fundo Monetário Internacional (FMI), e de empresas como Coca-Cola, General Motors e Toyota.


O impacto da crise da Petrobras sobre a economia brasileira e questões sobre a política fiscal brasileira dominaram a conversa, segundo participantes do evento, fechado à imprensa. Na saída do encontro, Levy disse aos jornalistas que"há um compromisso bastante forte da presidente e de todo mundo de fazer essa meta", ao ser questionado se é viável um superávit primário de 1,2% do PIB, depois do déficit de 0,6% do PIB registrado em 2014.


"Nós estamos tomando as ações requeridas para chegar lá. É o que chamaria de um esforço fiscal, mas acho que está dentro da capacidade do Brasil e o importante é tomar as decisões com presteza." Especialistas têm colocado em dúvida o cumprimento da meta. No encontro, Levy ressaltou que o objetivo é factível, de acordo com relatos.


Ao falar da Petrobras, o ministro disse que a mudança recente da administração da companhia vai facilitar a aceleração de medidas que "já vinham sendo encaminhadas pela administração anterior." Segundo ele, o desafio de se vencer o "impasse contábil" que se criou, "porque não havia regras evidentes para se tratar de alguns assuntos, está sendo superado".


Investigada pelo Departamento de Justiça e pela Securities and Exchange Commisssion (SEC, a comissão de valores mobiliários dos EUA), a Petrobras divulgou o balanço do terceiro trimestre do ano passado no fim de janeiro, com grande atraso, e sem ser auditado.


Com a perspectiva de uma solução para esse problema, a Petrobras vai continuar avançando, disse Levy. "A empresa tem tido um desempenho operacional favorável nos últimos tempos. A produção aumentou. Acho que em última instância isso que é o importante, produzir mais para poder lucrar mais." No encontro, o ministro fez análise semelhante, destacando que a nova direção é sólida, elogiando o novo diretor financeiro da empresa, Ivan Monteiro, segundo um dos participantes.


O encontro teve a presença de funcionários do governo americano, como Yvonne Gonzales, do Departamento de Estado, e do diretor de Assuntos Fiscais do FMI, Vitor Gaspar. Também compareceram analistas de centros de estudos americanos.


Em Washington, Levy também teve encontros com autoridades americanas da área econômica,sem especificar quais. "É um novo governo, é importante a gente divulgar quais são os principais rumos, o que a gente já fez, o que está em discussão no Congresso, que é muito importante ser discutido, votado, para a gente poder botar a nossa economia no rumo da geração de empregos."


Hoje, Levy participará de evento em Nova York promovido pela Americas Society e pelo Conselho das Américas. Ele falará a mais de 200 investidores e empresários sobre as perspectivas para a economia brasileira.


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