Estado de Minas Online ( Economia ) - MG - Brasil | - 16-02-2015 - 04:00 - | Notícia original | Link para notícia |
Desafio em dobro para ajustar contas públicas |
Além das dificuldades do governo para acertar o rombo entre as receitas e gastos, cresce o déficit no balanço das transações do Brasil com outros países, novo fator de pressão Paulo Silva Pinto e Espelho das intenções dos investidores, a bolsa reflete a complexa operação que o governo terá que cumprir para conquistar equilíbrio fiscal Em 2013, o deficit nominal do setor público - a diferença negativa entre receita e despesas, desconsiderando-se os juros que o governo paga sobre a dívida do setor público, ficou em 3,5% do Produto Interno Bruto (a soma da produção de bens e serviços, medida pelo PIB). O saldo negativo da conta-corrente alcançou 3,6%. No ano passado, o resultado fiscal nominal ficou negativo e aumentou para 6,7% do PIB, enquanto o rombo na conta corrente também cresceu, ainda que em ritmo menos intenso, para 4,2% do PIB. O governo espera reverter a situação deficitária de caixa neste ano, mas economistas ouvidos pelo Estado de Minas têm dúvidas quanto ao cumprimento da meta. Em vez disso, preveem maior desvalorização do câmbio, que afeta as contas do país relativas às transações com o exterior, e pressão inflacionária, dificuldades que tendem a ser combatidas com elevação de juros por um período superior ao que se imaginava. A relação entre esses dois itens que compõem os déficits gêmeos é íntima. "Não há jeito. Se o governo insiste em gastar mais do que arrecada, isso vai bater nas contas externas", explica o economista Reinaldo Gonçalves, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Com maior necessidade de recursos para o financiamento dos gastos do setor público, buscam-se recursos no exterior. Carlos Eduardo de Freitas, presidente do Conselho Regional de Economia do Distrito Federal (Corecon), afirma que o deficit em conta-corrente não subiu na mesma proporção do fiscal porque uma parte da conta foi paga pela população brasileira. As pessoas passaram a consumir menos produtos importados, direta ou indiretamente. "Estamos empobrecendo. Havíamos enriquecido não por ter ficado mais educados, mais produtivos, ou por ter melhorado nossa infraestrutura, mas por conta da valorização das commodities. Agora esse ciclo acabou", resume. Neste ano, o governo espera reduzir o déficit nominal para 2,8% do PIB e o saldo negativo em conta-corrente para o mesmo patamar de 2013. Não será fácil chegar a essa meta, alerta Barros, da FGV. Ele lembra que é grande a dificuldade política para vencer os desafios e que os problemas não serão resolvidos com a mesma prescrição de 2003, com choque de juros. "O Brasil tem, hoje, outra complexidade, portanto a receita usada nos anos anteriores não será suficiente", diz ele, que prevê grandes entraves para o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, na tentativa de reverter a maré ruim que atinge o país. O risco aumenta com a possibilidade de racionamento de energia e de água, na visão do economista. Ele chama a atenção para o fato de que o passivo acumulado por estrangeiros no país é de US$ 1,6 trilhão. Pondera que US$ 500 bilhões são ativos imobilizados por multinacionais, incluindo prédios e fábricas, coisas que não podem ser vendidas rapidamente. "Mas o resto pode sair a qualquer momento. E não há reserva que chegue", alerta. Os déficits gêmeos são um problema em si, mas também simbólico, porque tanto o resultado fiscal negativo quanto a elevação da dependência de recursos do exterior representam maior vulnerabilidade do país. Nenhuma palavra chave encontrada. |
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