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Valor Online ( Finanças ) - SP - Brasil - 09-02-2015 - 05:00 -   Notícia original Link para notícia
Tombini assegura que economia melhora em 2016

Por Assis Moreira | De Istambul


Tombini, do BC: realinhamentos de preços administrados elevam inflação no curto prazo, mas depois taxa terá queda modesta


Não haverá crescimento da economia brasileira este ano, mas em 2016 a situação vai começar a melhorar, afirmou ontem o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, a uma plateia de banqueiros.


Ao falar num evento do Instituto Internacional de Finanças (IIF), que representa os maiores bancos do mundo, Tombini afirmou que [nós, do governo brasileiro] "sabemos o que fazer" para restaurar a confiança no crescimento da economia brasileira, julgando ser "uma questão de sequência" e que medidas já estão sendo implementadas.


Respondendo a questões do presidente do IIF, Tim Adams, enquanto a plateia degustava sobremesa de um leve almoço ocidental, o presidente do BC disse que o banco não tem ainda uma previsão, mas que "como o ministro [da Fazenda, Joaquim Levy] Levy disse, a expansão tende a ser "flat" (estável).


Tombini afirmou que no curto prazo é preciso fortalecer os fundamentos econômicos, reforçar o lado fiscal, tratar de outros desequilíbrios. Dessa forma, será possível restaurar a confiança.


Ele relatou que parte da explicação da desaceleração significativa do crescimento nos últimos três anos decorreu do declínio do investimento privado, exemplificando com o que ocorreu nos últimos quatro trimestres.


Tombini insistiu que o foco da equipe econômica é recuperar e reforçar a credibilidade da política econômica "para dar confiança aos empresários e, numa segunda etapa, retomar os investimentos privados no país".


Indagado sobre prioridades nas reformas estruturais, Tombini respondeu que o governo vai continuar a impulsionar os programas de investimento em infraestrutura com grande participação do setor privado e alguns "ajustes regulatórios".


O presidente do BC citou ainda outras reformas em andamento, como os ajustes no seguro-desemprego e a retirada de certas desonerações, e sinalizou que o combate à complexidade do sistema tributário deve vir na sequência.


Tombini reiterou que o que o realinhamento de certos preços administrados elevará a inflação no curto prazo. Mas que a expectativa do mercado para 2016 a 2019 é de uma "modesta queda" da taxa de inflação.


Por outro lado, o presidente do BC calculou que o Brasil, ainda importador de petróleo, poupará US$ 10 bilhões com o barril do óleo ao preço atual.


Questionado sobre o que afinal gostaria de alcançar nos seus quatro dias em Istambul, para a reunião do G-20, Tombini foi explícito: "Primeiro de tudo, eu tenho a ambição de convencer vocês que temos a agenda certa para melhorar a confiança no Brasil nos próximos anos e de que as políticas que estamos implementando hoje vão criar uma melhor perspectiva econômica para o médio prazo, começando em 2016".


O presidente do IIF ignorou questões como petróleo, apagão e falta de água, que também vão ter impacto na economia brasileira neste ano. Ele argumentou que preferiu aproveitar o tempo para questões mais ligadas a banco central.



Volatilidade ainda segue no radar


Por Assis Moreira | De Istambul


O presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, sinalizou que o programa de liquidez do Banco Central Europeu (BCE) poderá dar um alívio ao Brasil, mas previu "períodos de volatilidade" no meio do caminho. Para Tombini, o estímulo europeu ("quantitative easing") "não compensará inteiramente" a normalização da política monetária nos Estados Unidos, mas mantém a perspectiva de ampla liquidez global ainda por um certo tempo.


Com isso, "nos dá um pouco mais de tempo para quando a normalização [das políticas monetárias] voltar inteiramente", afirmou a uma plateia de banqueiros em Istambul. Tombini disse que o Brasil poderá passar de "maneira segura" por um aumento dos juros nos Estados Unidos. E que ao mesmo tempo não será complacente no rastro da liquidez do BCE.


A nova onda de programas de estímulos vai prolongar um mundo com liquidez abundante e taxa de juro zero ou negativo, quase sete anos depois da crise financeira. Os ministros de finanças e presidentes de bancos centrais do G-20, incluindo Tombini e Joaquim Levy, vão discutir suas consequências na reunião de hoje e amanhã em Istambul.


Países emergentes estão preocupados. O vice-ministro de finanças da China, Zhu Guangyao, disse ao Valor que o programa de liquidez europeu - de € 600 bilhões este ano e soma quase idêntica no ano que vem - pode se justificar para ajudar na recuperação da economia, mas também trás mais "incertezas e complexidades" para a economia mundial.


"Os europeus precisam disso, mas devemos ser muito cuidadosos, tanto na normalização da política monetária nos EUA como na adoção desse programa da Europa", afirmou. "Como será essa implementação do programa europeu?", indagou. Ele lembrou que o compromisso no G-20 é para não ocorrer medidas que causem desvalorização competitiva de moedas - algo de que a China sempre foi acusada.


Conforme o Instituto Internacional de Finanças (IIF), que representa os maiores bancos do mundo, desde que o Banco do Japão e o BCE começaram a discutir seriamente a adoção do "quantitative easing" - no fim de 2012 e em novembro de 2014, respectivamente -, o iene e o euro se desvalorizaram 40% e 10% em relação ao dólar, ajudando suas exportações.


A entidade alertou que as políticas monetárias divergentes do G-4 - Federal Reserve (Fed) dos EUA, Banco da Inglaterra, Banco do Japão e BCE - já aumentaram as incertezas e a volatilidade no mercado. Essa situação tende a persistir, e mesmo a aumentar, já que as tensões políticas, como o problema da Grécia e a crise entre Rússia e Ucrânia, estão elevando a temperatura.


Para o IIF, ainda que eles se justifiquem para ajudar na retomada econômica, quanto mais esses programas de liquidez extraordinária duram, mais os preços de ativos se tornam sobrevalorizados, e vulneráveis a correções.


Em contraste com a primeira onda de QEs (do Fed e do Banco da Inglaterra), quando a volatilidade do mercado foi mantida em nível baixo, na segunda onda de QEs (BCE e Banco do Japão) a volatilidade aumentou, inicialmente no mercado de câmbio. Para o IIF, isso reflete a preocupação do investidor sobre maiores riscos no mercado.


O IIF nota que, como previsto, o instrumento chave e canal de transmissão da extraordinária acomodação monetária tem sido as taxas de juros. Mas o que é improcedente é o crescente número de países com taxa nominal de juros que agora é negativa. Estima-se que na semana passada US$ 3,6 trilhões de títulos governamentais eram negociados com rendimento negativo, sendo US$ 1,8 trilhão do Japão, US$ 1,7 trilhão da zona do euro e quantidades menores da Suíça, Dinamarca e Suécia.


Além do problema de calcular valor de ativos no mercado financeiro, a baixa taxa de juros reduz fortemente a renda de poupanças geridas por fundos de pensão, por exemplo.


Antes de pegar o avião com destino ao G-20 em Istambul, a diretora do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, advertiu que "mesmo se esse processo [de políticas monetárias divergentes] for bem gerido, pode resultar em excessiva volatilidade nos mercados financeiros, com investidores reavaliando sua percepção de risco".


A valorização do dólar, baseado em parte na expectativa de que o Fed elevará os juros em junho, pela primeira vez desde 2008, trás riscos especialmente para emergentes, que para Lagarde estão mais vulneráveis diante do acúmulo de dívidas na moeda americana feitas por bancos e companhias desses países.


Tombini disse a banqueiros neste domingo que, no caso do Brasil, o BC tem seguido muito de perto a questão, mas que parte dos empréstimos captados por subsidiárias brasileiras no exterior foi investido fora do país. "O Brasil em 2014 foi o segundo maior investidor na Europa", afirmou. Segundo ele, esse "descasamento" de moedas não vem a ser um grande questão para as empresas brasileiras.


Para o IIF, em todo caso, o fortalecimento e a volatilidade do dólar pode desmontar um montante gigantesco de operações de "carry trade" que foram acumuladas nos últimos anos. A entidade calcula que o volume dessas operações alcance US$ 9 trilhões e o seu possível desmonte pode levar a condições de mercado desordenados, uma vez que a liquidez no mercado secundário se deteriorou visivelmente nos últimos anos.



Incertezas se acumulam na agenda do G-20


Por Assis Moreira | De Istambul


Os ministros de finanças e presidentes de bancos centrais das maiores economias do mundo vão debater hoje e amanhã uma agenda de incertezas que pesam sobre a economia mundial, que envolve de petróleo a Grécia.


O comunicado final deve listar medidas para retomar o crescimento. Mas o ministro de finanças da Turquia, Ali Babacan, que comanda o encontro, alertou: as políticas fiscal e monetárias têm sido utilizadas no limite e não estão mais funcionando como se esperava. O jeito é acelerar reformas.


As incertezas se acumulam, destacou o vice-ministro chinês Zhu Gyangyao. Ele citou as políticas monetárias divergentes de países desenvolvidos, com os EUA se preparando para aumentar juro e a Europa no caminho de taxa de juros negativa.


Outro tema é a desaceleração dos emergentes, mencionando a recessão na Rússia. Sobre o preço do petróleo, principal commodity mundial, a questão é até quando prevalecerá a baixa do barril.


A situação da Grécia está no radar. Mas apesar do crescente pessimismo, apontando a eventual saída do país da zona do euro, certos analistas estimam que um reescalonamento da dívida com garantias de sequência de reformas estruturais continua a ser do interesse de todos, credores e devedor.


O novo governo grego atenuou o tom e defende que os empréstimos feitos pelos europeus sejam transformados em títulos indexados sobre o crescimento anual do país.


A Grécia pode ficar sem dinheiro no começo de março se não obtiver acesso a fundos adicionais, o que na prática coloca os europeus diante do dilema de deixar a Grécia sair da zona do euro.


Os gregos dizem que houve queda na coleta de impostos e o país está à beira do colapso. Se o novo governo não conseguir os recursos, o país será forçado ao calote e reintroduzirá sua própria moeda, abandonando assim o euro.


Além disso, os € 240 bilhões de ajuda da Europa e do Fundo Monetário Internacional (FMI) ficarão ameaçados de não ser pagos de jeito nenhum.


A Alemanha está exposta em € 65 bilhões na Grécia, sendo assim a primeira envolvida na reestruturação da dívida grega.


Em todo caso, a Europa chega ao G-20 numa situação menos desconfortável. Como nota o BNP Paribas, a fatura do petróleo reduzida de um terço permite economia de € 100 bilhoes em 2015. O euro menos forte favorece as exportações. A nova Comissão Europeia encoraja investimentos e tem uma interpretação flexível sobre o Pacto de Estabilidade. E ainda tem a injeção maciça de liquidez pelo BCE.


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