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Valor Online ( Opinião ) - SP - Brasil - 09-02-2015 - 05:00 -   Notícia original Link para notícia
Inflação tem a maior alta desde fevereiro de 2003

O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de janeiro subiu 1,24%, na sua maior variação mensal desde fevereiro de 2003. As perspectivas para este mês não são muito melhores, com uma inflação esperada pelo mercado financeiro de 1,01%. A boa prática de política monetária recomenda que os bancos centrais não reajam à oscilação da inflação corrente de curto prazo. Mas, para evitar uma deterioração das expectativas que comprometa o cenário inflacionário de médio e longo prazo, será essencial manter a disciplina da política monetária.


A inflação acumulada em 12 meses chegou a preocupantes 7,14% em janeiro, superando em muito o generoso teto admitido pelo regime de metas, de 6,5%. O Banco Central tem repetido que a aceleração da inflação neste início do ano reflete uma saudável correção de preços relativos. Os preços administrados passaram a ter reajustes maiores, enquanto o avanço dos preços livres estaria perdendo força.


De fato, o país vive um encarecimento geral de tarifas, incluindo transporte público, água, energia elétrica e gasolina, que corrige uma política equivocada que represou aumentos de preços públicos para conter artificialmente a inflação. Nos dados acumulados em 12 meses, a inflação de preços administrados teve uma aceleração entre dezembro e janeiro, de 5,32% para 7,55%. Mas, ainda assim, não está muito acima do índice cheio, que cresceu 7,14%.


Os preços livres, por outro lado, ainda não cederam. No caso dos serviços, houve uma aceleração entre dezembro e janeiro, de 8,32% para 8,75%. Num ambiente de juros altos, que subiram cinco pontos percentuais desde o começo de 2013, e de baixo crescimento econômico, a única explicação plausível para a persistência dos reajustes de preços de serviços acima do IPCA cheio é a política fiscal expansionista. Ainda que a nova equipe econômica corrija os rumos daqui por diante, os índices de preços vão refletir por alguns trimestres os impactos defasados do afrouxamento nas contas públicas patrocinado pelo governo em 2014.


Janeiro e fevereiro provavelmente serão os dois meses com inflação mais alta de 2015, mas isso não significa que o cenário será tranquilo nos meses seguintes. Em março, a inflação em 12 meses deve cair apenas porque o IPCA teve uma variação muito alta no mesmo mês do ano passado, de 0,95%. A variação de preços foi bastante contida em julho, agosto e novembro do ano passado, e o mercado não espera que isso se repita em 2015 - o que tenderá a puxar para cima os índices de preços acumulados em 12 meses.


A projeção do mercado para o IPCA do ano é de 7,01%, mas essa previsão contém uma forte dose de incerteza. O pressuposto dos analistas econômicos é que os preços administrados tenham um reajuste de 9% neste ano. O BC trabalha com um aumento de 9,3% nos preços administrados, assumindo que a energia elétrica suba 27,6% no ano. Números apresentados à presidente Dilma Rousseff no começo do ano indicavam a necessidade de majoração de 40% nas contas de luz, percentual que poderá ser superado se não chover o suficiente para encher os reservatórios das hidrelétricas.


Assim, o ano de 2015, mesmo na previsões mais otimistas, parece perdido. A questão é quanto o IPCA se desviará do teto da meta e, portanto, qual será a inércia inflacionária em 2016 e o estrago nas expectativas.


Contra a inércia, pouco pode ser feito, já que a economia continua a operar com mecanismos de indexação à inflação passada, como no caso dos reajustes dos aluguéis. Mas a política monetária tem, sim, seu papel para coordenar as expectativas.


Como notou corretamente o Banco Central, há alguns progressos na ancoragem das expectativas de inflação de médio e longo prazo. A inflação esperada para 2016, por exemplo, teve um leve recuo, de 5,7% para 5,6%. A variação de preços esperada para 2017 e 2018 também caiu um pouco, aproximando-se de 5%. Para 2019, o mercado já prevê inflação abaixo de 5%.


Um sinal amarelo, porém, foi a alta da inflação implícita nos títulos do Tesouro de longo prazo, depois que o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC divulgou uma ata mais moderada. A melhora da inflação no longo prazo dependerá da vigilância do Banco Central em prazos mais imediatos e de sua determinação para fazer o que for necessário para cumprir as metas.


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